Quando a chuva irrompeu, naquele dia de junho de 2016, pelo
meio do discurso de Marcelo aos emigrantes portugueses em França, António Costa
fez jus a toda a sua habilidade política e foi buscar um guarda-chuva para
abrigar o presidente que falava à chuva. Ambos sabiam que Costa é que teria
necessidade do abrigo de Marcelo, ao longo dos meses do bizarro governo
socialista.
Marcelo apostava numa presidência de afetos, onde as
pessoas estavam mesmo em primeiro lugar. Com o tempo, os políticos-políticos
tiveram de se habituar à sinceridade de Marcelo que não se ficava apenas pelas
selfies, abraços e beijinhos, como também era capaz de gestos menos mediáticos
mas que entravam no coração de quem os recebia.
Quando Marcelo aludiu aos sem-abrigo, no início do inverno,
todos pensaram que era mais um postal ilustrado de Natal da retórica política e
que por esta altura já a genda política e mediática estaria ocupada com “coisas
mais elevadas”, como por exemplo a eutanásia. Todavia Marcelo é um presidente
sui generis e inconveniente. Por incrível que pareça num político, a sua
presidência de afetos não é apenas retórica e ele está decidido a não deixar cair
temas como a resolução do problema dos sem-abrigo, embora não seja a época
mediática deles.
Hoje fez saber, através da comunicação social, que o
governo deve encontrar uma solução para o caso e não apenas uma operação de
cosmética. Ele sabe que os sem-abrigo não dão votos nem fotos sociais, mas
também sabe que eles são pessoas, que precisam de reabilitar a sua dignidade e
que a sua reabilitação pessoal e social terá uma simbologia enorme na sociedade
portuguesa.
Não está a chover nem faz frio, mas Marcelo faz questão de
lembrar que ainda há gente sem guarda-chuva que a proteja das próximas
intempéries.
Como António Costa é um político perspicaz já deve ter
percebido que se não abrir o seu guarda-chuva pode ser que haja outro que se
feche e a chuva não molhe apenas os sem-abrigo.
GAVB
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