A 14 de Abril de 1865, Abraham Lincoln acabou assassinado,
poucos dias depois de ter conseguido completar a mais bela obra da sua presidência
e uma das mais importantes da história da humanidade: o fim da guerra civil
americana e a consequente derrota do esclavagismo.
A vitória de Lincoln foi o princípio do fim da escravatura
entre os povos civilizados, porque um povo tão poderoso e tão jovem cerrava as
grilhetas de uma mentalidade ignóbil.
Lentamente a escravatura foi acabando, mas a História
sempre a tratou com pinças. Nunca houve uma clara condenação dos povos que
construíram os seus impérios, as suas supremacias, as suas glórias, com base no
trabalho escravo.
Há poucos dias, observei no Museu Nacional de Arte, a
exposição Lisboa Cidade Global, onde
duas telas gigantes retratam a vida, em Lisboa, em pleno século XVI, época alta dos Descobrimentos. É evidente nos quadros a presença de um homem negro
acorrentado, não restando dúvidas que se trata de um escravo. Os guias
descreveram o quadro, falaram elogiosamente do período áureo da História de
Portugal, mas passaram com absoluta indiferença sobre o facto de esse tempo ter
sido construído sob alicerces esclavagistas.
Ora, nem Portugal nem nenhuma das potências europeias da
época reconhece isso. Dir-me-ão que é fruto da mentalidade da época.
Não acho. Não devemos esquecer que estávamos em pleno Renascimento, onde todas as
verdades dogmáticas foram postas em causa. A escravatura não foi, é verdade,
mas o problema não foi a limitação psicológica do ser humano…
Talvez por isso esta chaga civilizacional tenha demorado
muito tempo a desaparecer da Lei e continue a ser precariamente condenada pela
História.
A escravatura precisa de ser discutida, dissecada,
apresentada com a crueza com que existiu, às gerações mais novas, porque
corremos o sério risco de ela regressar sob o disfarce da xenofobia que cresce
em muitos corações. E essa chaga abre um pouco mais a cada dia que passa.
GAVB
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