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terça-feira, 4 de abril de 2017

A SAUDADE DIMINUIU OU FOMOS NÓS QUE ENVELHECEMOS?



A casa estava definitivamente vazia.
Já não havia filhos para criar, netos para tomar conta, amigos para uma conversa tarde fora. Pior do que isso: a ausência deles já não lhe doía. Tinha-se habituado ao silêncio e à solidão. As notícias do mundo já não a surpreendiam, por mais rocambolescas que fossem.
Tinha resignado, para não sofrer mais. De vez em quando, o filho mais novo telefonava, para a convidar, para jantar, no fim-de-semana, lá em casa, mas recusava sempre. Sabia que o fazia por comiseração e não estava para aturar o mau humor da nora, que já tinha deixado de amar o filho, mas persistia naquele casamento de fachada, por razões económicas e de conforto social.

Não lhe apetecia pensar na vida, especialmente se fosse a sua, e no rumo que levara, mas desde ontem que não tirava da cabeça aquela tirada da desbocada do 1.º direito:
Ó Cristina, tu envelheceste tanto que já nem saudades tens!”
Sim, já não tinha saudades de nada nem de ninguém. Sempre desejou não sofrer com as desconsiderações da vida, mas não havia reparado como se tinha tornado vazia de sentimentos. É certo que não sofria, mas, a verdade, é que também tinha deixado de viver. Sentia-se velha para tudo. Um ramo seco da vida, em quem já ninguém reparava e que se comprazia a contar os dias sem outro objetivo.  

Foi até ao espelho e ficou horrorizada. Como envelhecera!!! Foi buscar o BI e olhou repetidamente para a data de nascimento. Tinha pouco mais de cinquenta anos, confirmou! Sorriu para si mesma de satisfação e considerou que aquele estúpido amuo tinha de acabar.

Pegou no telefonou, colocou aquela voz doce de mãe e ligou ao filho mais velho, que do outro lado do fio, não pode conter o espanto.
“Mãe! Que surpresa! Não estava nada à espera! Já tinha saudades de ouvir a tua voz!”
Também ela tinha enormes saudades dela. Da mulher que fora: interventiva, opinativa, realizadora.
Estava decidida a rejuvenescer, usando o truque de sempre: o Amor. Só que desta vez ia começar por si e estava decidida a não fazer poupanças.

GAVB

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