Quem viaja frequentemente de avião já deve ter ouvido falar
do Overbooking, um termo que pode ser
traduzido por “excesso de reserva” e que consiste na venda de bilhetes de avião
em número superior aos lugares disponíveis.
Por incrível que pareça a prática é legal e ninguém está
livre de ser vítima de overbooking. As companhias aéreas, procurando maximizar
o lucro além do inimaginável, inventaram esta estratégia de vender duas vezes o
mesmo lugar.
Como conseguiram autorização para tal? Argumentando que havia
muitas viagens com lugares pagos mas não preenchidos, porque o passageiro
simplesmente não aparecia. Para evitar esse constrangimento (recusar novos
passageiros quando na verdade os podia aceitar), autorizou-se o overbooking. O
pior é quando aparecem todos para a viagem e há que escolher quem fica de fora.
As companhias começam por procurar voluntários para viajar noutro voo, oferendo-lhes
dinheiro, mas isto não pode ser suficiente. Nesse caso, assumem o odioso da
estratégia arriscada e pagam a multa/indeminização que a lei obriga à pessoa
que vão colocar fora do avião.
O problema é quando um overbooking atinge uma família e a
pessoa excluída é um menor. O pai ou a mãe vai ter de ficar de fora também, mas
não é certo que a companhia cubra os seus prejuízos: hotel, atraso, novo
bilhete (certamente mais caro), e uma sucessão de prejuízos pessoais
impagáveis.
O overbooking é uma metáfora cada vez mais realista dos
tempos modernos: mais do que nunca, estamos à condição.
A nossa posição no local de trabalho ou até num relacionamento
depende cada vez mais de condições que nem suspeitamos. Sempre pode aparecer
alguém que faça o mesmo trabalho por menos dinheiro, que seja mais rápido ou
eficaz, que ofereça mais e melhores argumentos. A possibilidade de cairmos para
a lista de overbooking é assustadoramente real.
É verdade que compramos o bilhete a tempo e horas, é
verdade que fizemos o check-in, é verdade que a viagem, o emprego ou a relação
é fundamental para nós, mas é possível que alguém tenha vendido dois bilhetes
para o mesmo lugar e secretamente esteja a promover um leilão para saber com
qual ficar.
A única resposta possível é deixar de viajar em companhias
low-fidelity. O respeito dos outros começa em nós.
GAVB
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