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quarta-feira, 19 de abril de 2017

OVERBOOKING - TODOS NÓS ESTAMOS À CONDIÇÃO


Quem viaja frequentemente de avião já deve ter ouvido falar do Overbooking, um termo que pode ser traduzido por “excesso de reserva” e que consiste na venda de bilhetes de avião em número superior aos lugares disponíveis.
Por incrível que pareça a prática é legal e ninguém está livre de ser vítima de overbooking. As companhias aéreas, procurando maximizar o lucro além do inimaginável, inventaram esta estratégia de vender duas vezes o mesmo lugar. 

Como conseguiram autorização para tal? Argumentando que havia muitas viagens com lugares pagos mas não preenchidos, porque o passageiro simplesmente não aparecia. Para evitar esse constrangimento (recusar novos passageiros quando na verdade os podia aceitar), autorizou-se o overbooking. O pior é quando aparecem todos para a viagem e há que escolher quem fica de fora. As companhias começam por procurar voluntários para viajar noutro voo, oferendo-lhes dinheiro, mas isto não pode ser suficiente. Nesse caso, assumem o odioso da estratégia arriscada e pagam a multa/indeminização que a lei obriga à pessoa que vão colocar fora do avião.
O problema é quando um overbooking atinge uma família e a pessoa excluída é um menor. O pai ou a mãe vai ter de ficar de fora também, mas não é certo que a companhia cubra os seus prejuízos: hotel, atraso, novo bilhete (certamente mais caro), e uma sucessão de prejuízos pessoais impagáveis.

O overbooking é uma metáfora cada vez mais realista dos tempos modernos: mais do que nunca, estamos à condição.

A nossa posição no local de trabalho ou até num relacionamento depende cada vez mais de condições que nem suspeitamos. Sempre pode aparecer alguém que faça o mesmo trabalho por menos dinheiro, que seja mais rápido ou eficaz, que ofereça mais e melhores argumentos. A possibilidade de cairmos para a lista de overbooking é assustadoramente real.
É verdade que compramos o bilhete a tempo e horas, é verdade que fizemos o check-in, é verdade que a viagem, o emprego ou a relação é fundamental para nós, mas é possível que alguém tenha vendido dois bilhetes para o mesmo lugar e secretamente esteja a promover um leilão para saber com qual ficar.

A única resposta possível é deixar de viajar em companhias low-fidelity. O respeito dos outros começa em nós.
GAVB

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