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quarta-feira, 12 de abril de 2017

POR QUE SÓ DECIDIMOS VIVER QUANDO NOS DIZEM QUE VAMOS MORRER?


Ontem aludi às palavras da extraordinária ex-ministra espanhola da Defesa, Carme Chacón, que empurrava todas as mulheres, que assim o desejam, para a maternidade sem receio de perder uma possível carreira de sucesso. São palavras corajosas, determinadas e sábias, com as quais concordo em absoluto, mas não deixei de me questionar por que as disse Carme apenas no final da sua vida, quando contava os dias para o fim? O mesmo já aconteceu com outras figuras públicas e mediáticas, que também já não estão no mundo dos vivos, como por exemplo o ator António Feio.

Será preciso que nos leiam o nosso epitáfio para reconhecermos o óbvio? O exemplo dos outros não nos chega? Não é ele tão elucidativo? Prognósticos no fim do jogo toda a gente sabe fazer e por isso não deixa de me revoltar que só ponhamos em prática o óbvio, quando o nosso tempo já é absolutamente limitado.
Não que não valha a pena esse assomo final de coragem, consciência e apego à vida, mas pouco mais é do que inútil.
Vale a pena optar por viver em vez de sobreviver, por fazer também a nossa vontade em vez de sempre a dos outros, por dizer e fazer aquilo que achamos certo em vez daquilo que consideramos conveniente, quando ainda somos imortais. 
E esse tempo dura tanto que soará sempre a desculpa cobarde adiarmos a "coisa" para o tempo das doenças invencíveis.

«Aí se eu soubesse!» é uma perfeita mentira. Sabemos desde sempre e temos todos os meios de escrever a «nossa» história, à nossa maneira, que é a única maneira que interessa. O resto são desculpas medrosas de quem não sabe fazer contas ou nunca vislumbrou o imenso prazer que Viver por si. E podemos fazer isso continuando a fazer as mesmas coisas que fazemos, cumprindo compromissos, ganhando o mesmo salário, habitando a mesma minúscula parcela do planeta. A única diferença é que pontapeamos o medo sem precisar de nenhuma doença incurável.
Viveremos no mesmo local, com as mesmas pessoas e as mesmas condições, mas as nossas decisões serão pormenorizadamente diferentes.
A sabedoria não tem de ser um exclusivo dos velhos!

GAVB 

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