Ontem aludi às palavras da
extraordinária ex-ministra espanhola da Defesa, Carme Chacón, que empurrava
todas as mulheres, que assim o desejam, para a maternidade sem receio de perder
uma possível carreira de sucesso. São palavras corajosas, determinadas e sábias,
com as quais concordo em absoluto, mas não deixei de me questionar por que as
disse Carme apenas no final da sua vida, quando contava os dias para o fim? O
mesmo já aconteceu com outras figuras públicas e mediáticas, que também já não
estão no mundo dos vivos, como por exemplo o ator António Feio.
Será preciso que nos leiam o
nosso epitáfio para reconhecermos o óbvio? O exemplo dos outros não nos chega?
Não é ele tão elucidativo? Prognósticos no fim do jogo toda a gente sabe fazer
e por isso não deixa de me revoltar que só ponhamos em prática o óbvio,
quando o nosso tempo já é absolutamente limitado.
Não que não valha a pena esse
assomo final de coragem, consciência e apego à vida, mas pouco mais é do que
inútil.
Vale a pena optar por viver em
vez de sobreviver, por fazer também a nossa vontade em vez de sempre a dos
outros, por dizer e fazer aquilo que achamos certo em vez daquilo que
consideramos conveniente, quando ainda somos imortais.
E esse tempo dura tanto que
soará sempre a desculpa cobarde adiarmos a "coisa" para o tempo das doenças
invencíveis.
«Aí se eu soubesse!» é uma
perfeita mentira. Sabemos desde sempre e temos todos os meios de escrever a
«nossa» história, à nossa maneira, que é a única maneira que interessa. O resto
são desculpas medrosas de quem não sabe fazer contas ou nunca vislumbrou o
imenso prazer que Viver por si. E podemos fazer isso continuando a fazer as
mesmas coisas que fazemos, cumprindo compromissos, ganhando o mesmo salário,
habitando a mesma minúscula parcela do planeta. A única diferença é que
pontapeamos o medo sem precisar de nenhuma doença incurável.
Viveremos no mesmo local, com
as mesmas pessoas e as mesmas condições, mas as nossas decisões serão pormenorizadamente diferentes.
A sabedoria não tem de ser um
exclusivo dos velhos!
GAVB
Sem comentários:
Enviar um comentário