Etiquetas

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

TUDO ISTO É TRISTE TUDO ISTO É FADO


Há dias, a fadista portuguesa Gisela João recebeu, do crítico de música do “New York Times”, um rasgado elogio ao seu último concerto, considerando-o “luminoso”. O jornalista referiu-se ainda ao fado em termos muito positivos, desfazendo o mito de canção triste, comparando-o à vida, na maneira intensa e apaixonada como deve ser vivida.

João Braga (um dos mais antigos, conhecidos e polémicos fadistas portugueses) podia ter aproveitado a embalagem para “puxar” pelo fado, amplificando, nas redes sociais, este concerto da jovem fadista, mas preferiu atrair a atenção sobre si escrevendo sobre… cinema. Não para perorar sobre a qualidade artística de um determinado filme ou demonstrar a injustiça de determinado Óscar. Limitou-se a vomitar um insulto racista e homofóbico sobre o filme do ano para a Academia de Hollywood, Moonlight.

João Braga está no seu pleno direito ao não gostar de Moonlight ou de o achar menor, mas a sua frase sobre a noite dos Óscares – Basta ser preto ou gay para ganhar os Óscares – revela que as suas opiniões são muito mais baseadas em preconceitos do que em factos. O que revolta João Braga não é Moonlight ter ganho, mas ter sido um negro gay a ganhar. Ora, é isso que é triste e revoltante.
Durante anos, João Braga e o fado tiveram de lidar com o preconceito que grande parte da sociedade portuguesa tinha contra o fado. João Braga foi, muitas vezes, incisivo contra essa maneira vil e tonta de amesquinhar aquilo que se conhece mal, só porque não é moderno.
Passaram anos e João Braga ainda não entendeu que a discriminação não existe apenas quando é cometida sobre nós ou daqueles de quem gostamos. Ao contrário do que o fadista pensa, não basta ser gay nem preto para se ganhar Óscares, como o atestam os outros prémios que o filme Moonlight foi arrecadando. Já para deixar de ser preconceituoso e racista é necessário ser civilizacionalmente evoluído. Os artistas costumam sê-lo, mas João Braga parece que só sabe cantar fado, porque de cinema percebe muito pouco.
gavb


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

EM TEORIA O AMOR É ABSOLUTO, MAS A PRÁTICA RELATIVIZA-O



Obviamente que o amor começa eterno, apesar de ninguém durar para sempre.
Sem dúvida que não há nada mais importante que o Amor, embora as reuniões de trabalho sejam inadiáveis, os compromissos com os amigos sagrados e as responsabilidades ponderosas.

O Amor é aquela parte da nossa vida em que não admitimos ser apenas medianos, mas a realidade demonstra que há vezes a mais em que desistimos ou fazemos falta de comparência.
Falar em absoluto e em eternidade tem uma beleza poética arrebatadora, mas o Amor consome muito mais do que palavras.

Mais interessante do que dizê-lo absoluto é torná-lo total e permanente. É fazê-lo crescer e ganhar todas as pequenas batalhas do quotidiano. É possível que sejamos bem-sucedidos como é possível sairmos derrotados ou até descobrirmos que até nem ficámos descontentes com alguns insucessos.

Há gente para quem o Amor é relativo, ou seja, apenas mais uma vertente da sua vida; numas alturas sobressai, noutras fica à espera de melhor oportunidade.
Também no Amor há gente que não deseja mais do que a mediania e não há nenhum mal nisso. Não temos todos de gostar de poesia. Todavia, desconfio que há sempre um vazio quando não descobrimos o nosso absoluto. Essa maravilhosa utopia que nos faz sonhar, correr com loucos, empenhar recursos e tempo…
É possível viver sem Amor, mas é muito doloroso vivermos sem nós!
GAVB

domingo, 26 de fevereiro de 2017

REAL MARKETING MADRID


Visitar o estádio do Real Madrid, o mítico Santiago Bernabéu, é o sonho de muitos jovens e nem é preciso que gostem lá muito de futebol. É lá que joga Ronaldo, Bale ou Modric; foi lá que jogou Figo, Raul ou Hugo Sanches, para já não falar em Casillas ou do «deus» madrileno Alfredo Di Stefano.
Depois de uma panorâmica geral das bancadas, o visitante vai-se aproximando do relvado ao mesmo tempo que analisa com um olhar de bisturi as entranhas do maior clube do mundo.


O museu do Real é bonito, mas não é nada de extraordinário. Sobressaem, obviamente, as onze taças de Campeão Europeu e fotos e vídeos dos momentos mais altos da riquíssima história do clube.
É neste percurso pelo museu dos «blancos» que o visitante vai percebendo a monstruosa máquina de marketing em que o Real Madrid se tornou. 


As informações sonoras, que podemos ouvir, são em inglês; todas as fotos são permitidas e até incentivadas. Podemos descer até ao relvado, sentar no banco dos suplentes, entrar nos balneários personalizados dos crackes do Real e até simular que somos o Zidane, o Ronaldo ou Florentino Perez e falar para a imprensa.
O preço de tanta simpatia não está apenas no bilhete de visita ao estádio, mas nas últimas salas onde temos de passar: a maravilhosa megastore do clube, onde se vendem todo o tipo de produtos oficiais do Real Madrid, a preços nada convidativos.

Finalmente, o jovem começa a perceber de onde vem o dinheiro que paga os salários astronómicos dos jogadores de futebol e nota a desproporção entre o valor real de um determinado produto/artigo e o seu valor comercial. 
Com os jogadores de futebol acontece algo de semelhante, mas o marketing dos clubes é um fabulosa máquina de fabricar sonhos e ilusões que nos faz crer até ao limite que não somos nós a pagar a conta. Mas somos…
GAVB

sábado, 25 de fevereiro de 2017

ERAM TÃO FELIZES E NEM SABIAM



Num dos cantos da Plaza Mayor de Salamanca ele abriu vagarosamente os braços para abraçar o sol. Os dois apertaram-se gostosamente como dois companheiros que não se viam há muito tempo.
A empregada havia trazido uma cerveja gelada, que esqueceu longos minutos enquanto apreciava a praça cheia de grupos de jovens, fotografando-se sob a bela tela dos edifícios circundantes. E como a beleza circundante daquela arquitectura antiga fazia os seus olhos ávidos de mundo!



O pequeno grupo de adolescentes comentava a beleza da praça, a imponência dos edifícios, a casa das conchas, o monstruoso e delicado crouché da catedral e, sobretudo, sorvia o prazer de viverem juntos o momento. Começavam a dar-se conta que aqueles com quem partilhavam aulas, professores irritantes e brincadeiras palermas tinham-se tornado seus amigos.
Sentaram-se no chão, em círculo, e ficaram ali mesmo, no centro de uma das mais bonitas praças da península ibérica a relembrarem pequenas histórias onde cada um tinha feito a sua figurinha ridícula. Riam, riam muito…


Ao longe, uma jovem mãe passeava orgulhosamente o seu bebé num sofisticado carrinho enquanto um jovem casal se beijava discretamente debaixo daquele sol de chocolate.

Ele saboreava a cerveja, outrora gelada, e deixava a memória trabalhar, no tempo em que ele próprio vivera uma experiência semelhante. Sorria ao recordar, sem esforço, o nome de todos os amigos da adolescência feliz, onde se fazia amizade sem interesse nem dificuldade. Torna a levar à boca mais um gole de cerveja e considera como foram essas amizades as que perduraram mais intensamente no tempo. Alguém lhe tinha dito que assim seria, mas ele desdenhara dessa profecia…


Os minutos haviam passado, felizes, sobre a tarde peninsular e a penumbra cobria já dois cantos da plaza mayor.  Os jovens levantaram-se e vieram ter com ele. Pediram-lhe que lhes tirasse uma foto de grupo. Por momentos apeteceu-lhe entrar naquela fotografia cheia de gente feliz, todavia o click do tempo já tinha disparado a sua oportunidade…

Deixou sobre a mesa uma gorjeta para a simpática empregada que o serviu e desapareceu por entre um dos cantos sombrios da praça, sem avisar aqueles jovens que, provavelmente, viviam dias felizes, extraordinários e… irrepetíveis.
Eles tinham tempo de descobrir o lado B da vida.

Gabriel Vilas Boas

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

QUE PARVOS QUE NÓS SOMOS!

       

Enquanto todos os portugueses apertavam o cinto até à quase exaustão, 10 mil milhões de euros voavam, para paraísos fiscais sem que ninguém, no fisco, no governo ou na troika desse pelo desfalque. Dez mil milhões de euros em apenas vinte transações!!! Como foi possível não reparar? Não repararam porque não quiseram reparar. Operações de 500 milhões são como elefantes a passar na rua – toda a gente repara e comenta. Aliás exigem que a polícia corte o trânsito e permite o inédito desfile. Foi também o que aconteceu com este roubo colossal aos contribuintes portugueses: a polícia tributária, provavelmente recebendo ordens superiores, lá desencantou uma operação de “desvio das atenções”, através do folclore à volta da Lista VIP de contribuintes, que, coitadinhos, não podiam ver os seus nomes investigados por ninguém. Enquanto o povinho e os mediazinhos discutiam essas coisas tão ridículas como as listas VIP do Fisco ou os sms de Centeno e Dominguez, do Tejo saiam navios carregados de ouro e euros para um qualquer paraíso fiscal.


Agora que se soube da distração mais atentamente preparada do século, Paulo anuncia que não é responsável, Passos chama reles e ordinário a quem sugeriu que o primeiro-ministro de Portugal à altura tina obrigação de saber e atuar.
Passos tem razão: é realmente reles e ordinário quem nos mandou para o desemprego, quem nos cortou salários e subiu impostos para não cobrar um cêntimo de imposto a dez milhões de euros que voaram em contas VIP para offshores.
Não precisamos de investigações para saber de quem é a culpa, porque nós sabemos de quem é a culpa. A culpa é nossa, que deixamos que esta gente reles e ordinária oriente a sua vida à nossa culpa e depois nos distrai com polémicas estéreis e inúteis como a do sms entre Centeno e António Dominguez.

O que nos queríamos é saber de quem são as contas e obrigar essa gente a pagar os impostos em falta. 
Ou também vamos ter de esperar por outro aperto de gente com informação privilegiada para descobrirmos mais uma verdades nojentas acerca desta gentinha que apenas sabe governar-se e insultar a nossa inteligência?

Quando a Troika esteve cá, Ana Bacalhau dos Deolinda entalava muitas vozes doridas, no Coliseu dos Recreios, ao cantar “Que Parva que eu Sou”. Não foi apenas ela, somos todos nós. E isso ainda é mais trágico que dez mil milhões de euros estendidos ao sol num qualquer paraíso fiscal.
GAVB

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O CRISTÃO DE VIDA DUPLA E O ATEU


O Papa Francisco volta a atacar um dos grandes cancros da Igreja Católica: a santa hipocrisia. Disse Francisco, sem papas na língua: “O que é um escândalo? É dizer uma coisa e fazer outra, é a vida dupla. Eu sou muito católico, vou à missa, pertenço a esta ou àquela associação, mas a minha vida não é cristã, não pago com justiça aos meus empregados, aproveito-me das pessoas, faço negócios sujos”. (…) “Para ser um católico como esses, era melhor ser ateu.”
Francisco só não tem razão numa coisa: na referência ao ateu. Ser ateu não é um mal menor, mas uma opção (às vezes nem isso) de vida, no que diz respeito à relação do Homem com o transcendente.
Finalmente, o papa Francisco começa a ser duro com os seus, chamando-os à atenção, lembrando-lhes que o pior dos pecados é o pecado consciente e dissimulado.

Francisco fala da sua Igreja, das suas falhas imperdoáveis, da sua responsabilidade social. Ser cristão é assumir uma conduta ética e moral irrepreensível. Claro que pode haver falhas, mas elas têm que ser pontuais e devem ser corrigidas, e muitas vezes isso é possível. Quem não procede assim não pode ser considerado cristão. Quero lá saber se é batizado, se vai à missa ou pertence à Opus Dei. Ele mesmo sabe que Cristo não o reconheceria como um dos seus, por isso não vejo razão para a Igreja o reconhecer.
Ao contrário do que Francisco diz, “aquele que não paga com justiça aos seus empregados, aquele que se aproveita dos outros e faz negócios sujos” não tem uma vida dupla, já que que a única vida que conhece é aquela que pratica. Quando vai à missa, faz o ato de contrição ou comunga como ar angelical só mostra que não tem vergonha na cara, pois caso a tivesse nem lá punha os pés.
Este tipo de gente não é cristã, mas envergonha o cristianismo. E é disso que Francisco tem de tratar. Quanto aos ateus, é rebanho de outro pastor.

GAVB

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

SEXTING - UM VÍRUS RELACIONAL QUE DESTRÓI VIDAS


No início eram só uns sms hardcorde entre pessoas que se amavam, mas rapidamente evoluiu para troca de fotografias em poses íntimas e pequenos vídeos eróticos.
O problema é que as pessoas zangam-se com muita facilidade e relações de intenso amor transformam-se em relações de intenso ódio. Tornar público e viral aquilo que era íntimo transformou-se no meio mais fácil de vingança, quando uma relação termina mal.

O sexting não é mais do que a divulgação indevida e criminosa de conteúdos eróticos multimédia na internet, envolvendo outra pessoa, normalmente um(a) companheiro(a).
Os smartphones, com as suas múltiplas apps (snapchat, viber…) tornam esta intolerável prática um vírus difícil de controlar.
São cada vez mais os adolescentes e jovens adultos a depositarem tão levianamente a sua intimidade nos smartphones dos outros. Na maior parte dos casos, as imagens (fotos e vídeos) não são apagadas e servirão como meio de chantagem e/ou humilhação.
A primeira pergunta que me ocorre é: Por que o fazem? Como é possível uma juventude tão bem informada cometer um erro tão infantil e tão crasso?

O sexting comprova uma mudança de paradigma comportamental, no que diz respeito ao sexo e à intimidade de cada um: onde antes havia pudor em revelar, agora há necessidade de mostrar.
Erradamente, muitos jovens acham que aprofundar uma relação significa a quebra da intimidade, a busca constante de adrenalina, o risco absoluto, sem medir consequências, especialmente a nível psicológico.
Nenhuma relação nasce ou cresce sem sentimento, por isso o sexting produz sempre um impacto brutal em quem é atingido.
Quer nos EUA quer na Europa há já casos de automutilação, estados depressivos e suicídios, provocados pelo sexting, porque há pessoas que não suportam a exposição pública, a vergonha e a humilhação.

A vida sexual de cada um é uma coisa íntima e a intimidade não é pública nem publicável e muito menos negociável.
GAVB

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

QUEREM VER QUE A CULPA É DO ROBÔ?


Ao que parece foi encontrado o responsável pelo próximo colapso da Segurança Social: o robô! Podiam ser os marcianos, mas sã os robôs, esses malandros inventados pelos humanos para roubarem os empregos aos… humanos. 
E agora quem paga as nossas pensões? E o que vamos fazer a tanta mão-de-obra desnecessária? É que não podemos pagar os mesmos salários a alguém que trabalha cinco horas por dia! Não podemos, mas devíamos poder.
Segundo a consultora de tecnologia Gartner, até 2025, os robôs ou a inteligência artificial ocuparão um terço dos empregos disponíveis. Traduzindo isto para números portugueses – 1,4 milhões de postos de trabalho. No caso português, talvez não seja tanto assim, porque nós não estamos assim tão avançados a nível da robotização industrial, mas o resto do mundo está tramado.

Esta preocupação é legítima, mas culpar os robôs é absurdo. A revolução industrial e depois a revolução tecnológica serviram para tornar mais fácil e rentável o trabalho humano.
Ao longo das últimas décadas, a rentabilidade aumentou muitíssimo graças aos robôs, à inteligência artificial e à inteligência humana. Como é óbvio, os robôs dispensam o ser humano. Há uns anos, visitei uma fábrica de uma conhecida marca de água natural, perto da serra do Caramulo, que funcionava com 2/3 pessoas e enchia milhões de litros por dia.
A robotização trouxe inegáveis benefícios económicos, que deviam ter sido usados para pagar bons salários por menos horas de trabalho. Desse modo, manteríamos grande parte da população a trabalhar, ganhando o necessário, durante menos tempo.

Não foi assim que aconteceu? Pois não, mas a culpa não foi do robô, porque dinheiro em abundância ele ajudou a gerar. O problema foi da (in)justa distribuição do rendimento gerado e do deficiente modelo económico-social entretanto desenvolvido.
Agora que o momento da colisão se aproxima, resta-nos medidas paliativas de amortecimento do impacto e atraso da colisão, porque ninguém vai mudar o sistema.

Claro que podíamos mudar o sistema – qualquer robô minimamente dotado fazia isso -, mas não creio que isso vá acontecer. O ser humano adora viver em permanente inquietação e injustiça, esperando sempre que as circunstâncias o favoreçam em relação ao parceiro do lado. Com robô ou sem robô, o que seduz é que haja alguém em quem mandar, que seja inferior e precise desesperadamente de nós.
Apesar de tantos avanços tecnológicos, quantos milhões não trabalham hoje bem mais do que o horário regulamentar de trabalho? E quantos o fazem por um salário médio-baixo? Muitos. E não há uns privilegiados a vir à conta disso? Há e não foi nenhum robô que programou tal.

GAVB

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

PORTUGAL: O PAÍS QUE SEDUZ ESTRANGEIROS E ENXOTA PORTUGUESES


Ainda estão bem presentes na memória dos portugueses as inspiradas palavras de Passos Coelho à juventude portuguesa nos primeiros tempos da sua governação: “queridos jovens, se querem ganhar a vida, o melhor é emigrarem”. E foi o que muitos fizeram, a maioria a contragosto, com as saudades a apertarem o coração. Obviamente, a maioria não voltou nem pensa voltar, mas Passos não tem remorsos disso. Foi um peso que lhe tiraram das costas.

Ao mesmo tempo, Passos lançou um programa para atrair estrangeiros a Portugal, especialmente gente idosa e que tivesse boas reformas. Prometeu-lhes isenção de IRS. Como os reformados portugueses gostavam de ser estrangeiros… mas não são. E para não perder clientela, procurou seduzir também “todos os outros”, prometendo cobrar-lhes apenas um máximo de 20% de IRS, independentemente das remunerações que auferissem. Quem não gosta de propostas destas? Desde de 2013, o número de pedidos já passou os dez mil. Só no ano de 2016 passou os três mil e em 2017 já ultrapassou os seis mil! Não há país como Portugal para ofertar! Já os portugueses podem pagar mais do dobro de IRS que “aguentam, aí aguentam”, que remédio! A geringonça governamental anuiu à imoralidade e a iníqua lei lá continua.

Não está em questão a boa intenção de atrair capital estrangeiro a Portugal, mas o princípio tão parolo de “apenas o que é estrangeiro é que é bom”. Entre o dinheiro que se ganhou com a entrada divisas estrangeiras e o que se perdeu na sub-cobrança de impostos, que balanço positivo houve? Não seria mais patriótico escolher determinado grupo de portugueses para fazer essa discriminação positiva?

Um país não é um banco. Um país é, antes de mais, um conjunto de pessoas com identidade comum e que devem estar sempre em primeiro lugar para o seu governo. Todos os esforços devem centrar-se neles. Não se pode dizer que não há dinheiro nem benesses para investir em portugueses, mas há para ingleses, franceses ou dinamarqueses.
Gosto que os estrangeiros nos visitam, queiram cá morar, mas gosto muito mais que os portugueses não tenham de partir.

GAVB

domingo, 19 de fevereiro de 2017

O COMPRIMIDO DA ATENÇÃO

Embora muitos lhe chamem o “comprimido da inteligência”, eu prefiro designá-lo como “comprimido da atenção”. Diz o JN, hoje, que desde de 2010 tem aumentado brutalmente a medicação a alunos com perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA). A notícia refere que há turmas do ensino privado com 80% de alunos medicados. Nas escolas públicas também há cada vez mais problemas desses, mas a tipologia de alunos é diferente: crianças desatentas e problemáticas.
         Enquanto professor tenho notado o aumento deste problema e não vejo grande preocupação em atacá-lo convenientemente.
        


 Primeira questão: este não é um problema que só atinge alunos difíceis ou com dificuldades de aprendizagem. Os números referentes ao ensino privado indiciam que a questão é generalizada a muitos alunos.



Por que é que o problema tem vindo a aumentar?
A atenção dos alunos é hoje constantemente solicitada e a Escola é só mais um dos solicitadores. Grande parte do tempo em que uma criança está acordada é ocupada a responder a estímulos visuais e cognitivos. A ânsia de corresponder a todos estes estímulos, de abarcar toda essa informação (televisão, internet, smartphone, escola, pais, amigos…) torna-os tensos, irritados, hiperativos, desconcentrados.


É o estilo de vida em permanentes flashes e solicitações que lhes desarruma a mente. A concentração só pode descer! Não só na escola como também em casa ou com os amigos. A maneira como falham pequenos compromissos é mais recorrente do que seria desejável e não é apenas o TPC a pagar a fatura. Quando muitos deles dizem que se esqueceram, isso é dramaticamente verdadeiro.


Se repararmos numa criança que ocupa o seu tempo livre a praticar desporto, a tocar um instrumento ou a desenhar, veremos que ela se concentra com mais facilidade, anda mais relaxada e falha menos compromissos. Não é apenas uma questão de método, mas de não estar constantemente a massacrar a mente com solicitações de atenção até que ela se descontrola.


Por outro lado, o facto da metodologia vigente na Escola portuguesa ainda ser dos primórdios do século XX não ajuda nada. Aulas expositivas, dominadas pelo professor, exigem um poder de atenção/concentração altíssimo. Ora, o momento dos alunos neste item é deficitário.


Como resolver o problema? A maneira mais rápida é a pior: o comprimido. O comprimido não ataca as causas, cria habituação e não resolve nada de fundamental.
No meu entender, a solução está nos pais, nos alunos e nos professores. Concertando esforços, o problema diminui bastante. É preciso que pais e alunos organizem melhor o tempo fora da escola. Procurando atividades que deem prazer e não solicitem novamente a mente. Não será possível (nem desejável) acabar com o computador, o telemóvel ou a televisão, mas é possível fazer com que os jovens se interessem por outras atividades e diminuam por moto proprio o seu uso. A boa gestão do tempo de descanso mental é um fator essencial, até porque há outras partes do corpo que precisam de ação.

Por outro lado é preciso reciclar professores. Fazer com que percam o medo e abram mão do controlo das aulas. Simplificar currículos, reduzir turmas, reorganizar a geografia da sala de aula, promover uma abordagem mais prática e descontraída, nas aulas, mesmo em disciplinas teóricas - seriam passos para recuperar a atenção perdida. 
Gabriel Vilas Boas

sábado, 18 de fevereiro de 2017

SE ME DEIXASSES SER

A nova música de Tiago Bettencourt tem tudo para olharmos para ela com o enlevo das coisas belas, delicadas, sensíveis e profundas. Sobressai claramente a letra, mas é a feliz ideia musical que Tiago criou que nos faz reparar na letra.
Tiago não escreve musical banal. As suas letras são um permanente convite à reflexão; nelas percebemos um espírito atento ao mundo em que vive e aos outros. Naquele estilo paradoxalmente calmo e intenso, Tiago já escreveu uma “Carta”, já homenageou Variações na belíssima versão da “Canção do Engate”, já manifestou a sua revolta contra os políticos corruptos que tivemos nas últimas décadas em “Aquilo que Eu Não Fiz”.

Com este single de avanço do novo álbum – Se Me Deixasses Ser -, Tiago Bettencourt aborda um aspeto essencial na relação entre as pessoas: a confiança, a entrega.
Num tempo do relativo e do medo de nos magoarmos, é muito difícil às pessoas confiarem. Ora o cantor lembra que uma vida em permanente cálculo é viver pela metade.
E o que podemos ser quando alguém confia em nós? A música diz que pode ser uma promessa, um sonho ou uma ambição.
O que nos impede de deixar o outro tentar? O medo! O medo de não resultar, o medo não ser perfeito, o medo de não ser eterno. O medo é que não nos deixa SER nem permite que os outros ajudem. Obviamente que o outro não tem artes mágicas, mas quer tentar, porque se interessa por nós. Ele quer ser “O sítio onde podes voltar”, A Casa de Permanecer”, “A Casa Para Regressar”.

Ele pode falhar? Claramente, mas os muros que erguemos em volta tornaram a nossa casa fria, solitária e sem esperança.
GAVB


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

UM DOENTE MENTAL PODE COMPRAR ARMAS?


Esta seria uma pergunta estapafúrdia se não estivéssemos a falar do novo presidente do EUA, Donald Trump e da trupe que o sustenta. Há no entanto que fazer uma ressalva: com Trump, os doentes mentais voltaram a poder comprar armas, pois só em 2012, o presidente Obama criou um regulamento que impedia pessoas com doenças mentais de comprar armas. Esta semana, esse regulamento foi revogado pelo senado.
O surrealismo não é uma corrente literária, mas uma doença de que muito americanos sofrem. Como é possível ter uma lei que permite que um doente mental compre uma arma? Como é possível que um país tão evoluído e culto como os EUA tenha políticos tão falhos de bom senso?

A América tem um grave problema com as armas. É entendimento de grande parte dos americanos que a população deve andar armada e defender-se. Isto é próprio de uma mentalidade de faroeste, que promove a criminalidade.
Infelizmente, em Trump tudo é impecavelmente coerente, mas é bom não esquecer que a força deste presidente vem do povo que o elegeu. O problema não é da Democracia, mas da falta de ADN democrático em muitos povos.

Por que é que uns milhares de terroristas árabes fazem de todos os árabes terroristas e uns milhões de americanos racistas, xenófobos, arrogantes e belicistas não tornam a América um país a evitar? Eles são ricos e poderosos? Muitos povos árabes também.
Andamos demasiado tempo a desculpar os americanos, a deixá-los humilhar gente digna, a exercer arbitrariamente o poder. Apesar de nossos amigos, eles andam a portar-se indecentemente e toda a superioridade moral que possam ter já não faz sentido ser invocada.
Retomar uma lei que permite a compra de armas por um doente mental só pode ter sido ideia de um atrasado mental altamente perigoso, que irá usar pessoas verdadeiramente doentes para poluir o mundo de confusão, ódio e guerra.

GAVB

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

PENETRANDO NO TÚMULO DE TUTANKAMON



É claro que não estamos no Egipto, nem no mítico Vale dos Reis, mas em Lisboa, no Pavilhão de Portugal; e aquelas não são as peças originais que Carter descobriu há quase um século, no túmulo quase intacto do faraó Tutankamon, mas as réplicas dos tesouros egípcios encontrados pelo arqueólogo inglês são  perfeitas e têm o tamanho real dos magníficos objetos que o mais famoso faraó levou consigo para o secreto túmulo.



Ainda que pareça paradoxal, o provável filho de Akhenaton (responsável pela passagem do politeísmo ao monoteísmo, no Antigo Egipto) deve grande parte da sua fama à descoberta do seu túmulo por Howard Carter.


Como a generalidade das pessoas sabem, Tutankamon morreu muito jovem, mas as riquezas que levou consigo para a derradeira viagem foram tão esplendorosas que a descoberta de Carrter permitiu criar À sua volta uma lenda fantástica.

A Exposição “Tutankamon – Tesouros do Egipto”, que pude observar há dias, é interessante, na medida que nos dá a dimensão real dos objetos e da sua riqueza. Sobressai, obviamente, o tríplice caixão, onde os restos mortais do faraó foram guardados e a sua magnífica máscara de ouro.

Outro objeto que também chama a atenção de qualquer visitante é o fabuloso trono real, símbolo do poder do jovem faraó. Apetece mesmo experimentá-lo, mas infelizmente não é possível.

As trinta e três peças em exposição – vasos de alabastro, o barco que transportava a arca funerária, objetos pessoais do faraó, a arca canópica (onde estão as vísceras de Tutankamon) – permitem-nos uma visão sucinta da riqueza, do poder e do conhecimento que os egípcios já detinham há mais de 3300 anos.
O preço dos bilhetes não é exagerado e uma hora de visita é suficiente para captar o essencial desta mostra. Embora o visitante tenha informação suficiente ao longo de todo o percurso da exposição, se ela fosse animada por um guia, provavelmente, ela teria um impacto maior em cada um de nós.

GAVB 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

UMA AULA ATRAVÉS DO SMARTPHONE



Não demorará mais de três anos até que grande parte das aulas tenha por base o smartphone ou tablet. Através deles proceder-se-á à grande revolução no ensino em Portugal.
Os grandes agentes desta mudança serão os alunos e as editoras; os grandes entraves serão os professores e, em parte, os pais, mas o processo está em marcha e necessita apenas de um click, um pequeno pretexto, para se tornar imparável.
Esse click pode ser a questão das mochilas ou dos trabalhos de casa excessivos. Dentro de pouco tempo, grande parte dos exercícios que os professores propõem nas aulas será resolvido a partir de uma aplicação previamente instalada pelos alunos no seu smartphone. As vantagens serão bem maiores que os inconvenientes: maior participação dos alunos, aulas mais práticas, perceção imediata, pelos alunos e professores, do que ficou apreendido e do que precisa de nova abordagem, introdução de conteúdos multimédia.

Os alunos deixarão primordialmente de escrever, para passar a ouvir, raciocinar e optar. Provavelmente, quer as aulas quer a avaliação deixarão de estar subjugadas à ditadura da escrita, privilegiando-se a leitura e a oralidade. As aulas serão muito mais práticas e centradas nos alunos.

Os professores começarão por mostrar ceticismo até se renderem à evidência de uma escola baseada na tecnologia, onde o lápis e o papel terão uma utilização muito residual ou ficarão guardados para as aulas de Educação Visual.

Estou em crer que esta transformação baixará muitíssimo os índices de indisciplina e violência na escola. 
E não me parece que custe muito dinheiro a implementar. Grande parte dos alunos tem tablet ou smartphone e as editoras já perceberam qual o caminho a seguir, como se pode depreender dos mais recentes produtos lançados no mercado pela editora quase monopolista dos livros escolares, em Portugal.

Os professores estão preparados para isto? Não, mas não vai ser difícil adaptarem-se. A princípio, vão sentir-se um elemento estranho na sala de aulas, mas, como diria Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se.

GAVB

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

AMO-TE


 Amo-te de uma maneira inexplicável,
de uma forma inconfessável,
de um modo contraditório.
Amo-te, com meus estados de ânimo que são muitos
e mudar de humor continuadamente
pelo que você já sabe
o tempo,
a vida,
a morte.



Amo-te, 
com o mundo que não entendo

com as pessoas que não compreendem
com a ambivalência de minha alma
com a incoerência dos meus atos
com a fatalidade do destino
com a conspiração do desejo
com a ambiguidade dos factos



ainda quando digo que não te amo, amo-te
até quando te engano, não te engano,
no fundo, levo a cabo um plano
para amar-te melhor
Amo-te, sem refletir, inconscientemente
irresponsavelmente, espontaneamente
involuntariamente, por instinto
por impulso, irracionalmente
de fato não tenho argumentos lógicos
nem sequer improvisados
para fundamentar este amor que sinto por ti
que surgiu misteriosamente do nada
que não resolveu magicamente nada
e que milagrosamente, pouco a pouco, com pouco e nada,
melhorou o pior de mim.
Amo-te



Amo-te 
com um corpo que não pensa
com um coração que não raciocina
com uma cabeça que não coordena.
Amo-te incompreensivelmente
sem perguntar-me porque te amo
sem importar-me porque te amo
sem questionar-me porque te amo

Amo-te
simplesmente porque te amo
eu mesmo não sei porque te amo…

Pablo Neruda