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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

TUDO ISTO É TRISTE TUDO ISTO É FADO


Há dias, a fadista portuguesa Gisela João recebeu, do crítico de música do “New York Times”, um rasgado elogio ao seu último concerto, considerando-o “luminoso”. O jornalista referiu-se ainda ao fado em termos muito positivos, desfazendo o mito de canção triste, comparando-o à vida, na maneira intensa e apaixonada como deve ser vivida.

João Braga (um dos mais antigos, conhecidos e polémicos fadistas portugueses) podia ter aproveitado a embalagem para “puxar” pelo fado, amplificando, nas redes sociais, este concerto da jovem fadista, mas preferiu atrair a atenção sobre si escrevendo sobre… cinema. Não para perorar sobre a qualidade artística de um determinado filme ou demonstrar a injustiça de determinado Óscar. Limitou-se a vomitar um insulto racista e homofóbico sobre o filme do ano para a Academia de Hollywood, Moonlight.

João Braga está no seu pleno direito ao não gostar de Moonlight ou de o achar menor, mas a sua frase sobre a noite dos Óscares – Basta ser preto ou gay para ganhar os Óscares – revela que as suas opiniões são muito mais baseadas em preconceitos do que em factos. O que revolta João Braga não é Moonlight ter ganho, mas ter sido um negro gay a ganhar. Ora, é isso que é triste e revoltante.
Durante anos, João Braga e o fado tiveram de lidar com o preconceito que grande parte da sociedade portuguesa tinha contra o fado. João Braga foi, muitas vezes, incisivo contra essa maneira vil e tonta de amesquinhar aquilo que se conhece mal, só porque não é moderno.
Passaram anos e João Braga ainda não entendeu que a discriminação não existe apenas quando é cometida sobre nós ou daqueles de quem gostamos. Ao contrário do que o fadista pensa, não basta ser gay nem preto para se ganhar Óscares, como o atestam os outros prémios que o filme Moonlight foi arrecadando. Já para deixar de ser preconceituoso e racista é necessário ser civilizacionalmente evoluído. Os artistas costumam sê-lo, mas João Braga parece que só sabe cantar fado, porque de cinema percebe muito pouco.
gavb


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