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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A REVOLUÇÃO DO AYATOLLAH

No dia 1 de Fevereiro de 1979, o Ayatollah Ruhollah Khomeini chega ao aeroporto de Teerão, vindo do exílio, em Paris e dispara:
«Esta gente [o governo interino do Irão] está a tentar trazer o xá de volta. Vou arrancar-lhes os dentes. Doravante, serei eu a nomear o Governo. Fá-lo-ei com o apoio de todo o país.»

Khomeini tinha passado quinze anos no exílio por ordem do regime iraniano do xá Reza Pahlavi. Durante este tempo o governo do xá, que sempre contou com o apoio dos EUA, mostrou uma panóplia de predicados inconvenientes, destacando-se a corrupção e a repressão.

O clero xiita, que detestava a mentalidade ocidentalizada do regime, tratou de instigar o povo à revolta e ao fim de dois anos de intensos protestos, o governo do xá passou a pasta a um governo interino chefiado por Shapour Bakhtiar. Quinze dias antes do Ayatollah chegar, Reza Pahlavi teve de partir.
Pensando que acalmava os xiitas, Bakhtiar convidou Khomeini a regressar. Ainda em Paris, este parecia pouco ambicioso: «Não serei presidente nem aceitarei qualquer cargo de liderança. Tal como antes, limitarei as minhas atividades a orientar e dirigir o povo.», mas mal chegou a Teerão, o discurso mudou radicalmente!
Ainda no avião o Ayatollah já deixava aos jornalistas indicações do que pensava: «Nós não veneramos o Irão, nós veneramos Alá. Porque o patriotismo é outro nome para paganismo.»
É escusado dizer que o governo interino caiu logo de seguida. O Ayatollah convocou um referendo e, com 98% de apoio popular, instalou a república islâmica, baseada na Sharia.

Ainda um ano não tinha decorrido e já Khomeini (que só queria ser o líder espiritual dos iranianos) já era oficialmente «O Chefe Supremo da revolução» e lançava uma feroz e brutal caça às bruxas. Os americanos passaram a ser a personificação do diabo e tiveram de montar uma operação rocambolesca para retirar, de Teerão, com vida, o corpo diplomático, como muito bem o demonstrou o filme Argo.

Trinta e oito anos depois, a história parece escrever-se ao contrário. Há poucas horas, o líder iraniano, Rouhani, chamou a Trump um “novato da política”. Um dia destes ainda vai ter de encomendar Ben Affleck uma missão de repatriamento de iranianos a viver na América de Trump, porque, nos dias de hoje, é quase tão perigoso ser iraniano em Nova Iorque como o tinha sido ser americano, em Teerão, em Fevereiro de 1979. 
Nesta altura, Trump é o melhor do extremismo dos ayatollahs.
GAVB

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