Enquanto professor
tenho notado o aumento deste problema e não vejo grande preocupação em atacá-lo
convenientemente.
Primeira questão: este não é um problema que só atinge alunos difíceis ou com dificuldades de aprendizagem. Os números referentes ao ensino privado indiciam que a questão é generalizada a muitos alunos.
Por que é que o problema tem vindo a aumentar?
A atenção dos alunos é hoje
constantemente solicitada e a Escola é só mais um dos solicitadores. Grande
parte do tempo em que uma criança está acordada é ocupada a responder a
estímulos visuais e cognitivos. A ânsia de corresponder a todos estes
estímulos, de abarcar toda essa informação (televisão, internet, smartphone,
escola, pais, amigos…) torna-os tensos, irritados, hiperativos,
desconcentrados.
É o estilo de vida em permanentes flashes e solicitações que lhes desarruma a mente. A concentração só pode descer! Não só na escola como também em casa ou com os amigos. A maneira como falham pequenos compromissos é mais recorrente do que seria desejável e não é apenas o TPC a pagar a fatura. Quando muitos deles dizem que se esqueceram, isso é dramaticamente verdadeiro.
Se repararmos numa criança que ocupa o seu tempo livre a praticar desporto, a tocar um instrumento ou a desenhar, veremos que ela se concentra com mais facilidade, anda mais relaxada e falha menos compromissos. Não é apenas uma questão de método, mas de não estar constantemente a massacrar a mente com solicitações de atenção até que ela se descontrola.
Como resolver o problema? A maneira mais rápida é a pior: o comprimido. O comprimido não ataca as causas, cria habituação e não resolve nada de fundamental.
No meu entender, a solução
está nos pais, nos alunos e nos professores. Concertando esforços, o problema
diminui bastante. É preciso que pais e alunos organizem melhor o tempo fora da
escola. Procurando atividades que deem prazer e não solicitem novamente a
mente. Não será possível (nem desejável) acabar com o computador, o telemóvel
ou a televisão, mas é possível fazer com que os jovens se interessem por outras
atividades e diminuam por moto proprio o
seu uso. A boa gestão do tempo de descanso mental é um fator essencial, até
porque há outras partes do corpo que precisam de ação.
Por outro lado é preciso
reciclar professores. Fazer com que percam o medo e abram mão do controlo das
aulas. Simplificar currículos, reduzir turmas, reorganizar a geografia da sala
de aula, promover uma abordagem mais prática e descontraída, nas aulas, mesmo em disciplinas
teóricas - seriam passos para recuperar a atenção perdida.
Gabriel Vilas Boas
Gabriel Vilas Boas
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