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sábado, 25 de fevereiro de 2017

ERAM TÃO FELIZES E NEM SABIAM



Num dos cantos da Plaza Mayor de Salamanca ele abriu vagarosamente os braços para abraçar o sol. Os dois apertaram-se gostosamente como dois companheiros que não se viam há muito tempo.
A empregada havia trazido uma cerveja gelada, que esqueceu longos minutos enquanto apreciava a praça cheia de grupos de jovens, fotografando-se sob a bela tela dos edifícios circundantes. E como a beleza circundante daquela arquitectura antiga fazia os seus olhos ávidos de mundo!



O pequeno grupo de adolescentes comentava a beleza da praça, a imponência dos edifícios, a casa das conchas, o monstruoso e delicado crouché da catedral e, sobretudo, sorvia o prazer de viverem juntos o momento. Começavam a dar-se conta que aqueles com quem partilhavam aulas, professores irritantes e brincadeiras palermas tinham-se tornado seus amigos.
Sentaram-se no chão, em círculo, e ficaram ali mesmo, no centro de uma das mais bonitas praças da península ibérica a relembrarem pequenas histórias onde cada um tinha feito a sua figurinha ridícula. Riam, riam muito…


Ao longe, uma jovem mãe passeava orgulhosamente o seu bebé num sofisticado carrinho enquanto um jovem casal se beijava discretamente debaixo daquele sol de chocolate.

Ele saboreava a cerveja, outrora gelada, e deixava a memória trabalhar, no tempo em que ele próprio vivera uma experiência semelhante. Sorria ao recordar, sem esforço, o nome de todos os amigos da adolescência feliz, onde se fazia amizade sem interesse nem dificuldade. Torna a levar à boca mais um gole de cerveja e considera como foram essas amizades as que perduraram mais intensamente no tempo. Alguém lhe tinha dito que assim seria, mas ele desdenhara dessa profecia…


Os minutos haviam passado, felizes, sobre a tarde peninsular e a penumbra cobria já dois cantos da plaza mayor.  Os jovens levantaram-se e vieram ter com ele. Pediram-lhe que lhes tirasse uma foto de grupo. Por momentos apeteceu-lhe entrar naquela fotografia cheia de gente feliz, todavia o click do tempo já tinha disparado a sua oportunidade…

Deixou sobre a mesa uma gorjeta para a simpática empregada que o serviu e desapareceu por entre um dos cantos sombrios da praça, sem avisar aqueles jovens que, provavelmente, viviam dias felizes, extraordinários e… irrepetíveis.
Eles tinham tempo de descobrir o lado B da vida.

Gabriel Vilas Boas

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