Enquanto Diretor de Turma entreguei hoje os registos de
avaliação dos alunos da minha direção de turma. Cerca de 90% dos alunos transitaram.
Pais, alunos, professores sabem perfeitamente que mais alguns deviam ter ficado
retidos, no entanto, várias circunstâncias acabaram por ditar a sua transição.
Foi a melhor solução? Provavelmente, foi a menos má.
Mesmos os professores da velha guarda já se renderam à
evidência do sistema: reprovar o aluno, raramente melhora o seu rendimento
escolar. Nos anos seguintes, o aluno repete a atitude desinteressada, continua
desatento, desmotivado, relapso nas suas obrigações. Se for colecionando “chumbos”,
provavelmente vai tornar-se também num problema de comportamento, pois a
disparidade etária dentro da sala de aula aumenta assim como a sensação de
frustração e impotência perante o insucesso.
E fazer transitar o aluno, resolve algum dos seus
problemas? Na verdade também não resolve. Na maioria dos casos, o aluno acomoda-se
ao facilitismo da sua transição quase administrativa, enquanto professores e
colegas vão moendo, desgostosos, a mágoa da injustiça. O trabalho e o empenho
desce de intensidade e qualidade e passados alguns meses estão todos a fazer o
mínimo.
Como sair deste nó que afunda a escola portuguesa? Em
conversa recente com a colega Anabela Magalhães, professora de História
do meu agrupamento, convergimos numa opinião: os alunos deviam transitar
(salvo raras e evidentes exceções), mas ostentando na sua caderneta as reais
notas que foram obtendo em cada ano letivo. No final do seu percurso escolar,
além do certificado de frequência do ensino obrigatório, levavam consigo o nível
de conhecimentos adquiridos ao longo dos anos em que frequentaram a escola, quer
ele fosse um nível de excelência ou um nível a raiar a mediocridade.
Ao longo do seu percurso escolar os alunos disporiam, todos
os anos, de reais oportunidades de “acertar o passo” com os colegas, disponibilizando
a escola recursos humanos e materiais para que o aluno recuperasse o seu atraso
de aprendizagem. O aluno frequentaria esse apoio, individual ou em pequenos
grupos, se assim o entendesse.
Obrigar, punir, ameaçar são ações largamente infrutíferas
em educação. Envolver, trabalhar em equipa, responsabilizar são, no meu
entender, ações mais produtivas face ao contexto social em que vivemos.
A escola deve deixar a obsessão do resultado, do sucesso
ilusório dos números e das estatísticas, para se centrar na qualidade e
modernidade daquilo que ensina. Ter a coragem de rever métodos de ensino e
programas das disciplinas, cultivar no aluno o gosto por aprender, pela
descoberta, pelo conhecimento, independentemente do resultado final.
Passar ou chumbar é só relativamente importante, porque
realmente importante é saber e saber fazer.
Gabriel
Vilas Boas
Muito bom!!! Parabéns Gabriel
ResponderEliminarExcelente reflexão.
ResponderEliminarNão diria melhor! Parabéns!
ResponderEliminarParabens! Alguem sensato!
ResponderEliminarAguardava por uma opiniao que marcasse outras! Finalmente!!!
Parabens! A pensar em tudo e em todos!!!
ResponderEliminarParabens! A pensar em tudo e em todos!!!
ResponderEliminarAhhhhhh... fui citada! ;)
ResponderEliminarE parabéns pelo teu post! De facto andamos num dilema...
Sou apologista de turmas de níveis de aprendizagem, com menos alunos e onde os ritmos são respeitados e as competências trabalhadas. Claro que existe o risco de rotular os alunos, por isso, para além de ter que se sensibilizar toda a comunidade, a progressão ou retenção (como medida de exceção) aconteceria no final de ciclo.
ResponderEliminarConcordo, mas... É que a certificação deve ter algum valor real para a vida. Se quando se comparam habilitações um aluno de 1 está em igualdade vom um 5, não serve de nada, na prática, pois os que não trabalharam irão continuar a ser beneficiados. É urgente valorizar a educação começando, por exemplo, na escolha de candidatos a emprego (quem tem mais habilitação deve ser sempre valorizado), tirar a carta de condução com um mínimo de escolaridade, etc...
ResponderEliminarAs passagens quase administrativas são quase sempre um mau exemplo para os alunoa que deveriam ficar retido e não ficou como para os alunos que se empenha e esforçam ao longo do ano. Para os primeiros,o ensinamento é que nao precisam de se esforçar porque afinal passam e para os segundos é um mau exemplo que lhes mostra que o "crime"compensa,que não vale a pena um esforço tão árduo para passar e ter boas notas. O grande dilema é este. Precisamos de qualidade e nao quantidade,números e estatísticas.
ResponderEliminarRespeito as vossas opiniões, mas cada caso é um caso... Generalizar dizendo que a retenção "raramente melhora o seu rendimento escolar. Nos anos seguintes, o aluno repete a atitude desinteressada, continua desatento, desmotivado, relapso nas suas obrigações", é um grave erro... A tudo isso se deve juntar a idade do aluno, a sua maturidade, entre outros. Tive alunos que tinham comportamentos desadequados e notas miseráveis, que depois de terem ficado retidos, melhoraram as suas prestações e alguns passaram a ser bons alunos das turmas que integraram... Acredita quem quer!!!
ResponderEliminarCoitadinhos dos meninos, que ficam traumatizados se reprovarem!
ResponderEliminarSou professora e, sinceramente estou cada vez mais dececionada com o sistema de ensino Português...! Afinal, como é que os alunos de há vinte ou trinta anos conseguiram tirar cursos com boas notas e serem alguém na vida?! Como é que se formaram os grandes profissionais do nosso país?! Com certeza que não foi com facilitismos e inflação de resultados escolares! Sim, porque antigamente não havia "cá pão para malucos)! Ou se estudava, ou se reprovava! Deixem-se mas é de "mariquices" e hipocrisias! Ninguém vai a nenhum lado sem esforço e trabalho, além de que é extremamente injusto para os alunos que estudam, que se esforçam e se aplicam. Para que é que um aluno se há de esforçar, se ele sabe que passa de ano?! Permita este sistema educativo uma avaliação rigorosa e justa e vão ver como "as coisas mudam de figura!". Deixem os professores trabalhar em condições, sem burocracias exageradas (e que não servem para nada) e talvez se surpreendam pela positiva!
Na qualidade de psicóloga, a leitura deste texto remeteu-me para todas as crianças que tenho acompanhado e cujo estado em contexto escolar e não só, é de desânimo, desmotivação, ou desinteresse. A solução encontrada pelo Gabriel Vilas Boas poderá se tornar interessante, mas não pode ser descorada a coerência que deve existir na avaliação, pois evocaria uma questão de justiça, o que poderíamos dizer aos alunos que se empenham e por conseguinte alcançam resultados positivos? No meu parecer, tendo em conta que o 12º ano é a escolaridade obrigatória, seria importante que se relevasse as vocações e interesses dos alunos para o desenvolvimento de planos curriculares adaptados. E não ouvi-los dizer, por exemplo, que "a escola é uma seca", "há matérias que não interessam para nada", "os professores não nos ouvem" e "os pais também não querem saber". Até porque perante estas afirmações, ficamos a saber que estes alunos emocionalmente não têm capacidades para se enquadrarem no contexto escolar que lhes é exigido, muito menos serem bem sucedidos. Claro que é um tema pertinente, pelo que seria essencial não se contestarem ideias, mas sim encontrar-se soluções!
ResponderEliminarAcho todo este texto muito interessante. Falta no entanto ,e a meu ver falarmos da capacidade e da aptidao dos professores que lecionam .muitos dos desinteresses e da falta de gosto pela escola e pela aprendizagem começa porque o professor que dá a determinada aula,não está apto. Tenho cinco filhos,todos tiveram e tem professores bons e outros chamados professores,que nem aulas deviam dar. E mais não digo pois são tantas as historias absurdas que tenho que resolver que não saia daqui mais.
ResponderEliminarMaria Fernanda, obviamente alguns professores não são os melhores professores possíveis para os nossos alunos. Sentimos isso quando os nossos filhos estão envolvidos, no entanto isso não é o que acontece na maioria dos casos, onde aquilo que acontece é o contrário, ou seja os professores estão à altura das responsabilidades. Por outro lado convém não pensar que os professores são diferentes de outras classes sociais/profissionais: em todo o lado há bons, medianos e maus. Numa escola, o sucesso está sempre mais perto quando todos remam para o mesmo lado, têm espírito colaborativo e vontade de evoluir. Isto aplica-se aos professores mas também às direções das escolas, aos alunos e aos pais.
EliminarTambém não nos podemos esqyecer daqueles que têm positiva à custa do copianço, daqueles que já sabem o teste porque andam em explicações e em atls. Daquelas escolas que não têm critérios de avaliação e só contam os testes, testes estes que já são do conhecimento do aluno, etc.
ResponderEliminarAfirmar que reter um aluno não é solução, é falso. Só seria verdade se todos os alunos que ficam retidos, no ano seguinte continuassem retidos. Ora, há muitos que ficam retidos e, no ano seguinte, têm sucesso, o que mostra que a retenção foi útil. Não reter o aluno quando ele não está preparado para avançar é condená-lo ao insucesso no futuro. É desonesto para com o próprio aluno, dando-lhe uma sensação irreal de sucesso, sabendo-se que ele vai ser confrontado com a realidade mais cedo ou mais tarde.
ResponderEliminarJosé, quando se afirma que "reter um aluno não é solução" isto não quer dizer que não o seja para alguns alunos, mas que não o é para a maioria. Quanto às vantagens e desvantagens da retenção, há, como é natural,argumentos válidos a favor e contra. Para mim, o importante é que adotando a via que se adotar, ela produza resultados. Caso contrário, há que assumir responsabilidades e corrigir procedimentos.
EliminarPois mas o ME é cobarde ef não vai decretar isso nem vai acabar com a norma de negativa nos exames de Português e matemática dar não aprovação.
ResponderEliminarA solução está na recuperação do aluno nos meses de junho e julho as disciplinas que lhe permitirá passar de ano...fica a dica
ResponderEliminarParece-me uma boa ideia, embora muitos professores achem esse trabalho penoso e poucos alunos estejam dispostos a esse esforço. Para que resultasse, teria de haver uma mudança de mentalidades, quer entre professores quer nos alunos quer nos pais destes.
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