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sexta-feira, 17 de junho de 2016

O ERRO INGLÊS


E por um dia a Inglaterra emudeceu, perante a bárbara morte da deputada Jo Cox, às mãos de um monstro que tirou a mãe a duas crianças menores.
É claro que o momento político é delicado (estamos a uma semana de os ingleses decidirem, em referendo, se querem ou não continuar a pertencer à União Europeia), mas várias informações não desmentidas apontam para o facto do assassino de Jo Cox ter gritado “Britain First”, momentos antes de matar a jovem mãe. A polícia não confirma esta informação, mas também não a desmente.

Os britânicos sabem que este assassínio tem relação com o referendo. Estão surpreendidos, revoltados, chocados. No entanto, deviam aproveitar o tempo de luto que se estenderá até à data do referendo (Estou certo que não haverá grande clima psicológico para o debate entre o Sim e o Não à U.E.) para pensar por que chegaram a este ponto.
Na minha opinião, esta loucura, embora isolada, é fruto do clima do debate. A provável vitória do Brexit assentou num argumento emocional e xenófobo: pertencer à União Europeia retirou aos britânicos o poder de rejeitar o grande fluxo de migrantes que chegou à Europa no último ano. Os sírios, líbios, eritreus meteram tanto asco aos ingleses que eles ponderam seriamente abandonar a U.E. por causa disso. Querem voltar a ter o controlo, querem o país de volta, pois sim… Fossem os sírios magnatas americanos, oligarcas russos ou xeques árabes e este problema jamais se colocaria.

É verdade que a U.E. desencanta cada vez mais os europeus, tão cheia de burocracia, egoísmo, corrupção, tratamento desigual entre países, mas os britânicos sempre foram tratados com deferência pelos seus pares europeus, por vezes, até com deferência a mais.
É óbvio que os britânicos são livres de decidir o seu futuro e a sua decisão, desde que democrática, não deve ser atacada ou criticada, pois é perfeitamente legítima. O que ataco e me indigna são os argumentos dos defensores do Brexit. Eles não honram a história da Inglaterra e mostram uma arrogância cultural tola que repudio.
Se querem sair com base neste tipo de argumentação, pois que saiam. Talvez esteja na hora de os britânicos aprenderam uma lição de humildade e de a União Europeia ganhar alguma vergonha e medo para se obrigar a reformar-se, com base nos esquecidos valores que a fundaram.
Mais do que a saída da União Europeia, o grande erro dos britânicos é a arrogância e a xenofobia seletiva.

Gabriel Vilas Boas

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