O melhor que o ser humano pode legar à humanidade é a
criação de outro ser humano. O nascimento de um filho é um momento único,
inolvidável e marcante no percurso de vida de qualquer mãe/pai. No entanto, há
circunstâncias de tal modo especiais que revelam a grandiosidade da alma humana
aliada ao avanço da ciência.
Nos últimos anos criou-se o testamento vital para que cada
um possa tornar vida, no corpo de outrem, os seus órgãos aproveitáveis no momento da sua morte.
Ontem, a medicina portuguesa pôde celebrar a concretização
de um dos mais bonitos testamentos vitais do ano. Um bebé de 32 semanas nasceu
no Hospital de São José, em Lisboa, após 15 semanas da morte cerebral da mãe.
Família e médicos decidiram manter as funções vitais da
mãe, dada como morta em meados de fevereiro, para que o bebé crescesse e se desenvolvesse
dentro do útero materno até chegar à idade em que pudesse sobreviver em
ambiente exterior.
É um verdadeiro milagre esta criança ter conseguido, durante
quase quatro meses, manter as funções essenciais, como a função respiratória e
alimentar, sem o surgimento de uma qualquer infeção que inviabilizasse a
sobrevivência do feto.
O esforço dos médicos, alguma sorte, a determinação da
família, souberam honrar a memória daquela mãe que não pôde assistir ao momento
mais belo da sua curta vida.
O caso desta criança é um belo poema à vida.
Quando esta criança crescer e ganhar consciência da «sua»
história perceberá, certamente, quão importante é saber honrar o maior bem que
cada ser humano transporta consigo.
Ao refletir sobre esta história extraordinária não deixo de
pensar que talvez a morte não seja necessariamente o fim do que somos, porque o
que somos, por vezes, ultrapassa a matéria e, como um sopro mágico, voa
literalmente para outro corpo.
Gabriel Vilas Boas
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