Quantas vezes já ouvimos esta
resposta e ela significou um enorme balde de água fria sobre as nossas
pretensões? Algumas, por certo.
Não acontece muitas vezes, mas
algum dia acaba por chegar a nossa vez de fazer algo desinteressadamente, no
trabalho, na comunidade em que nos inserimos, na associação de pais da escola
dos nossos filhos. Convocamos os amigos mais confiáveis, disponibilizamos tempo
e dinheiro, enchemo-nos de positivismo e orgulhamo-nos antecipadamente daquela solidariedade
que víamos nos filmes. Até que aquela gargalhada insensível nos esbofeteia as
ideias: “E o que é que eu ganho com isso?”
Apetece-nos gritar-lhe a nossa
indignação: NADA. Mas estamos demasiado feridos para dizer algo.
Com um enorme sorriso amarelo,
engolimos a deceção daquela resposta materialista e egoísta, normalmente
embrulhada numa gargalhada revoltante, arrumamos o nosso projeto filantrópico
no baú das ideias tontas e ficamos umas horas a deglutir a vacuidade da alma
humana.
É então tão claro para nós que
nem tudo na vida se quantifica ou materializa. Percebemos a pobreza daquele “o que que eu
ganho com isso?”, mas não vemos que aquele amigo ou amiga fomos nós uns anos
antes, que a nossa tristeza de hoje foi a de outros ontem.
Talvez precisemos de afastar
esse último sintoma de vaidade e egocentrismo, para não desistir de uma boa
ideia. Talvez seja apenas a nossa persistência e coragem a única maneira de
fazer ver ao nosso parceiro que ele também tem muito a ganhar com um
trabalho/projeto, cujo lucro não se traduz em euros.
Nada é mais invejável do que a
satisfação estampada no rosto dos outros. O nosso amigo perceberá logo que
ganhámos alguma coisa de relevante com aquele projetozinho cheio de boas intenções.
É nessa altura que as moedas perdem brilho, a
inquietação cresce e ele resolve pegar no dicionário para rever o conceito da
palavra “ganhar”, porque pressente que o nosso se escreve com maiúscula e o
dele com minúscula, além de outras evidentes diferenças.
Gavb
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