A seleção nacional de futebol
chegou ontem a França, para disputar o campeonato da europa da modalidade.
Revejo outra vez as imagens: uma multidão corre atrás do autocarro pintado com
as cores da bandeira nacional, vitoriando os jogadores portugueses. Bandeiras, gritos,
sorrisos traduzem aquela alegria incontida de ver os seus chegarem.
Claro que Ronaldo é um
orgulho, que Quaresma é a promessa de magia enquanto Moutinho, Patrício e
Ricardo Carvalho representam a serena confiança num bom desempenho futebolístico,
mas a seleção simboliza bem mais que o somatório de heróis ocasionais. A
seleção exalta o nosso sentimento de pertença.
Dentro do território nacional, ser
português é pouco mais do que banal, mas entre estranhos, a identidade de cada
respira muito melhor em português.
Recentemente,
em conversa com uma amiga que fez a licenciatura de arquitetura em Brno,
República Checa, ouvi algo que me deixou surpreendido:
«Não imaginas com que avidez
seguia os telejornais em português; às vezes até os gravava! Ouvir falar português,
saber alguma coisa do teu país… sabia tão bem!»
Atualmente, quem vive fora de
Portugal não equaciona o regresso como um objetivo primordial, mas ganhou respeito,
admiração, amor pelo país onde nasceu. Percebeu, finalmente, quão saboroso é o
sol português, quão melodiosa é a língua de Camões e Pessoa, como são belos os socalcos
do Douro, as searas alentejanas ou a luz de Lisboa. Foi em Paris, Luanda,
Londres e Bruxelas que muitos perceberam quanto amavam Portugal, quanto ele
lhes era essencial.
Talvez por isso muito
emigrantes se juntem fora de portas como nunca o fizeram em Portugal e não
hesitem em afirmar a sua nacionalidade. Ainda que tenham a consciência que o
país continua pobre e perdido num labirinto estranho, deixaram de dizer mal do
país, porque ninguém diz mal daquilo e daqueles que ama. Foi fora de Portugal
que aprenderam a amar a pátria. Sentem-se mais inteiros e mais verdadeiros.
Não sentem vergonha em correr
atrás de um autocarro de futebolistas, porque aquele autocarro é bem mais do
que o autocarro do Ronaldo, do Nani ou Moutinho; aquele autocarro traz-lhe os
lugares, os olhares e os sonhos de um país a que pertencem.
É muito bom pertencer a um
lugar e a um povo, porque isso é a garantir de que temos raízes e somos amados.
E tudo o que fazemos e somos encontra nisso justificação.
Gabriel Vilas Boas
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