No dia 28 de Junho de 1914, o
arquiduque da Áustria, Francisco Fernando, era assassinado nas
ruas Sarajevo. Esse assassínio desencadeou uma série de acontecimentos que
fizeram eclodir a guerra na Europa seis semanas mais tarde. O arquiduque e a
mulher tinham vindo a Sarajevo para assistir a manobras militares na capital da
Bósnia-Herzegovina, que fora anexada pela Áustria em 1908 e não podiam ter
escolhido pior data, pois em 28 de Junho de 1389, o reino da Sérvia tinha sido
conquistado pelos turcos na batalha de Amselfelde. A presença de Francisco
Fernando soava-lhes a um insulto e a uma provocação. Os membros do grupo terrorista
Mão Negra aproveitaram a oportunidade para o matar. A partir desse dia a Europa nunca mais voltou a ser a mesma e poderosos impérios acabaram por ruir,
transfigurando por completo o mapa da Europa.
Claro que a Primeira Grande
Guerra Mundial não aconteceu por acaso. A insatisfação de vários povos era
evidente e por toda a parte cresciam os movimentos extremistas que ampliavam essa
insatisfação.
“Cada povo é ele e a sua
circunstância”, dizia Ortega Y Gasset, por isso é preciso conhecer bem a
maneira de ser de cada povo, quando lhe criamos uma circunstância que os apouca
e os constrange. No rescaldo da votação dos ingleses favorável ao brexit, Paulo
Portas disse sem rodeios: “Receio que isto seja o princípio do fim da União
Europeia, porque ninguém consegue convencer os ingleses que não conseguem
caminhar sozinhos.”
Ainda que quisessem (e não
estou certo que mesmo depois de caírem na realidade o queiram), os ingleses não
voltarão com a palavra atrás. Está em causa a sua honra, a sua credibilidade
institucional. É certo que eles não mediram bem o alcance do seu passo como é
certo que os restantes países da União Europeia nunca pensaram nessa possibilidade. A
burocrata União Europeia, tal como está, não encanta nem seduz nenhum povo. Mais
parece uma confederação dos grandes fundos financeiros, cujo rosto ninguém
conhece. Os povos sofrem com ela, desentendem-se por causa dela, sentem-se
escravos dos seus injustos mecanismos financeiros e não lhe vêem grande
utilidade. No entanto, esta entidade sem rosto e odiada por muitos europeus
conseguiu uma coisa fantástica: todos têm medo de estar fora dela. Conseguiu
amarrar de tal modo os Estados a uma economia de empréstimos e dívida que há um
receio fundado de que quem quiser sair vai penar e muito.
O Brexit estoirou o frágil e
cínico compromisso entre os países da União Europeia. Eis-nos chegados ao mundo
do imprevisível. A oportunidade é esta e é ideal. A partir de agora pouco há a
fazer, porque tal como aconteceu em 1914 ninguém imagina o que pode acontecer.
Vagas de violência? Xenofobia? O regresso a uma Europa de fronteiras, onde cada
um trata da sua vida?Ninguém sabe, mas o processo está em marcha.
Quem não aprende com a
História arrisca-se a vê-la repetir-se, na sua pior versão. Os líderes políticos da Europa do
século XXI parecem aquelas crianças que, depois de uma asneira grosseira, lamentavam não terp prestado a devida atenção à fábula que a mãe lhes contara uns anos antes.
Gabriel Vilas Boas
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