Adriano Moreira dá hoje uma entrevista ao DN que é uma
autêntica aula de humanismo e lucidez. Na parte final da entrevista, o
jornalista questiona-o sobre o Estado Social e o antigo líder do CDS explica
como o Estado Social não é contrário aos mercados, à iniciativa privada, mas a
sua marca de água são os valores.
Um Estado é antes de mais uma sociedade e esta define-se
pelos seus valores. É em redor deles que se organiza, que faz sacrifícios,
concessões e, sobretudo, toma opções.
É certo que Portugal não tem dinheiro. O que faz é
endividar-se mais e mais. O problema é que se endivida para salvar bancos de
gente corrupta. Salva aquilo que não merece ser salvo, porque se perdeu
propositadamente. O que lucraram os portugueses com o Novo Banco, com o
dinheiro injetado e perdido no Banif ou com a incorporação do BPN na Caixa
Geral de Depósitos? Viram os seus salários diminuir 20%, os impostos aumentarem
em bens essenciais, muitos concidadãos ficarem no desemprego. E agora veem a
CGD a precisar de uma injeção de capital brutal, porque anteriores
administrações andaram a conceder créditos malucos a amigos do poder, que
sabiam que jamais seriam pagos.
E se esse dinheiro tivesse sido aplicado no Estado Social?
Toda a gente diria que tinha sido um regabofe de facilidades e que agora estávamos
todos a pagar com língua de palmo tamanha irresponsabilidade. Provavelmente os
mesmos que acham impossível aumentar 1 euro por dia ao ordenado mínimo, mas
absolutamente entendível que o Estado 150 milhões de euros anuais em análises
clínicas e mais de 100 milhões em financiamento de escola privadas, quando
manda fechar as públicas e despede professores.
Por que não se pergunta nessa altura se há recursos
financeiros para tal? Haver há, aumenta-se o valor do empréstimo, que os pobres
coitados que ganham 600 euros podem esperar mais uma década até que alguém lute
muito para que passem a ganhar mais um euro por dia.
Caro doutor Adriano Moreira, talvez a sua suspeita sobre os
princípios que regem os dirigentes políticos portugueses seja infundada. Os
políticos portugueses e quem os elege têm princípios, o problema é que eles
começam no “Eu” e não passam daí. Eles sabem Maquiavel de cor e salteado: os
fins justificam os… princípios.
Gavb
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