Dos dezasseis milhões de cariocas, um sexto (cerca de dois
milhões) vive nas 500 favelas do Rio de Janeiro, que desde meio do século
passado conheceram uma grande expansão e se tornaram o berço de uma violenta e
incontrolada delinquência.
Agarrados, na sua maioria, aos flancos das colinas, estes
bairros pobres e subequipados sofrem, regularmente, mortais deslizamentos de
terras, durante as chuvadas.
Paralelamente, a jusante das favelas, as classes médias e
ricas da cidade maravilhosa (cerca de 20% da população do Rio) ocupam zonas
residenciais à beira-mar.
Este contraste social reflete a realidade brasileira no seu
conjunto, em que 10% da população controla a maior parte da riqueza e aproximadamente
metade da população vive abaixo do limiar da pobreza.
Em todo o Brasil, cerca de 12 milhões de pessoas vivem em
favelas.
Nascer numa favela pode ser inevitável, mas não permanecer lá
para sempre. A favela não é uma condenação perpétua.
Por mais que os encantos da
grande cidade seduzam, por mais fácil que seja um estilo de vida onde o
dinheiro parece nascer na ponta da arma, a dignidade do ser humano exige a cada
um uma opção de vida diferente.
A realidade já provou aos favelados que a sua degradação
não incomoda aqueles que vivem em condomínios fechados, junto à praia, nem
aqueles que detêm o poder.
Não partirá destes o desmantelamento das
megaestruturas sociais, onde a vida segue acorrentada à droga, à delinquência e
à miséria.
Cada um terá que limpar a favela da sua vida, renascendo
noutro local, onde viver faça mais sentido e tenha mais dignidade. Por mais
bela que seja a flor que nasça na favela, ela será sempre soterrada pelo entulho
acumulado encosta acima.
Todos os dias, dos morros do Rio e de São Paulo, escorrem
vidas entre a lama e o entulho, quando apenas deviam nascer flores.
Gavb
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