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sábado, 25 de junho de 2016

EU SOU O TEU CARVÃO


Hoje Moçambique completa 41 anos de vida. 
Quatro décadas de uma caminhada difícil, mas saborosa, tendo a liberdade como guia.
 A terra de Eusébio produziu excelentes pensadores como Mia Couto e Craveirinha. Ambos escreveram textos de uma beleza e profundidade enormes que nos tocam a alma e nos ajudam a perceber a essência do ser humano à luz de um pensamento tão puro como o do africano.  
Hoje proponho-vos um poema de Craveirinha - Grito Negro. Nele, o primeiro autor africano a vencer o Prémio Camões (1991) recorda os tempos em que o africano era tratado por "carvão" pelo colono português, numa alusão ao seu tom de pele, mas também à sua pouca importância. No entanto, o maior poeta de Moçambique mostra como o negro era a fortuna ("mina") do seu senhor ("patrão") e lamenta a exploração indigna de que o negro era vítima. Felizmente deixamos de procurar aquela mina sem riqueza e deixamos que o carvão ganhasse a forma de diamante. O calor daquele sorriso livre e puro é a maior riqueza que Moçambique nos pode dar. 
Esse carvão já não vive no chão, esse carvão já não precisa de arder em mágoa e revolta,  esse carvão é um diamante que aquece qualquer coração.

Grito Negro
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
                                                          até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

Craveirinha

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