A 1 de Outubro de 1946,
dezoito nazis com cargos de chefia foram condenados por crimes de guerra e
crimes contra a humanidade. Gilbert, um psicólogo americano que observou estes
réus durante o julgamento, tomou nota das suas reações. Entre eles figuravam,
Hermann Goering, o chefe da Luftwaffe; Joachim von Ribbentrop, o Ministro dos
Negócios Estrangeiros de Hitler; Albert Speer, o arquiteto-administrador; e Rudolf
Hess, o antigo braço-direito de Hitler.
Eis as palavras de G.
M. Gilbert:
«Goering foi o primeiro
a descer e a encaminhar-se para a sua cela, pálido e impenetrável, com os olhos
a saltar. “A morte!”, disse ele, deixando-se cair no catre e pegando num livro
(…)
Quando Goering se recompôs o suficiente para falar, disse
que esperava naturalmente a pena de morte e estava satisfeito por não ter sido
condenado a prisão perpétua porque os condenados a prisão perpétua numa se tornam
mártires. Mas não havia na sua voz nenhum resquício da antiga e confiante
fanfarronice. Goering parece entender, finalmente, que a morte nada tem de
divertido quando é o próprio que vai morrer.
Hess entrou, emproado,
a rir-se com nervosismo e afirmou que nem sequer prestara atenção, portanto não
sabia qual era a sentença e mais nem isso lhe interessava.
Ribbentrop chegou,
horrorizado, e começou a andar à volta da cela, aturdido, murmurando “A morte!
A morte! Agora não poderei escrever as minhas belas memórias. Tsk! Tsk! Tanto
ódio!” Depois sentou-se, completamente destroçado, e olhou para o ar….
Speer soltou uma
gargalhada nervosa. “Vinte anos. Bem, é justo. Não podiam aplicar-me uma
sentença mais leve, considerando os factos e não me posso queixar. Eu disse
que as sentenças tinham de ser severas, e admiti a minha cota parte de culpa,
por conseguinte seria ridículo queixar-me do castigo.»
O julgamento de
Nuremberga foi o primeiro filme que vi, mal cheguei à faculdade. Lembro-me
perfeitamente do dia da semana e da hora. O que me impressionou no filme foram
as imagens abomináveis dos campos de concentração, das câmaras de gás, dos
corpos esqueléticos amontoados como lixo e retirados com recurso a caterpillars,
para se mais rápido e eficaz, como explicou um alemão. Ainda hoje recordo a
frieza da explicação e quanto isso me gela o coração. Não prestei atenção às figuras do
III.º Reich. Não valiam a pena. As palavras de Gilbert, excetuando o caso de Speer,
apenas confirmam que a História teve a infeliz sorte de se ter cruzado com tão
horríveis criaturas.
Gabriel Vilas Boas
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