Na Batalha Naval de
Lepanto, travada ao largo da costa do mar Adriático, a armada turca otomana foi
derrotada por uma coligação cristã que integrava elementos espanhóis,
venezianos, genoveses e savoiardos e eram comandada por Don João da Áustria
(meio-irmão de Filipe II de Espanha). Após um reencontro de mais de 200 galés
de cada lado, foi concedida a liberdade a 20 mil escravos das galés da armada
turca.
No dia da Batalha, à
tarde (antes que algum mensageiro pudesse sequer chegar a Roma), o Papa Pio V
interrompeu uma reunião no Vaticano para assomar à janela e anunciar a vitória.
Mais tarde, dedicou-se a vitória a Nossa Senhora do Rosário. No entanto, o grão-vizir
turco Mehmed Sokullu, menosprezou a derrota perante o embaixador veneziano:
“Vinde ver como suportamos
o nosso infortúnio. Mas quero que saibeis qual a diferença entre a vossa perda e
a nossa. Ao arrebatar-vos Chipre [em 1570], despojamos-vos de um braço; ao
derrotar a nossa armada haveis aparado apenas as vossas barbas. Um braço, uma
vez decepado, não volta a crescer; mas umas barbas crescem tanto mais quanto melhor for a navalha.”
O grão-vizir estava
enganado, pois provou-se que Lepanto foi uma das batalhas decisivas da História.
O Império Otomano nunca mais conseguiu desafiar o ocidente por mar, embora
continuasse a ameaçar a Hungria e a Áustria por terra durante mais um século.
Lepanto é uma data que
os cristãos gostam de recordar e os muçulmanos de esquecer; já eu prefiro olhar para o dia 7 de outubro de 1571 como mais um momento em que os homens usaram a
religião para justificar os seus impuros desejos de poder, de domínio ilegítimo
sobre outro ser humano.
Custa aceitar que que
um Papa, como Pio V (que ironia o nome que escolheu para o seu pontificado)
tenha dito a propósito: “Agradeçamos ao Senhor: a armada cristã alcançou a
vitória.”
Enquanto aqueles que representam as diversas religiões acharem que o Reino de Deus são os territórios
deste planeta, que o seu Deus ficará contente com a aniquilação dos fiéis de
outra religião, que Deus aprova a barbárie, haverá cada vez menos interessados
no Reino dos Céus.
Gabriel Vilas Boas
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