Etiquetas

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

NO BAIRRO DO AMOR, de Jorge Palma




“NO BAIRRO DO AMOR” de Jorge Palma é uma das mais belas canções sobre a fraternidade e a utopia. O ano passado, Jorge Palma andou em digressão pelo país recordando toda a poesia e filosofia de um dos álbuns mais marcantes da música portuguesa do final do século XX.
Apesar de sonhadora, a letra está bem consciente da realidade. A realidade é feita de solidão, de um mundo a preto e branco, onde cada um anda cheio “de nódoas negras sentimentais”. A única diferença é que Jorge Palma propõe um regresso à infância, esse lugar mágico, verdadeiro e real onde há um “carrossel” e podemos pintar um bairro sem sofrimento, dor, crimes, infelicidades.

Parece uma ideia infantil mas não é. Jorge Palma diz que se pode concretizar com a única força motriz que move os adultos: o Amor.
Reparemos, no entanto, que Palma apresenta o Amor como algo inclusivo, por isso sugere a ideia de bairro, de comunidade, de vizinhança. Esconde aquela visão exclusivista, de constante escolha com que a modernidade vive o amor. Como tivéssemos sempre que estar a optar, como se o Amor não tivesse múltiplas formas de se manifestar. E tem! E não precisámos de chegar à idade da sabedoria para o descobrir. É possível fazer isso em todas as idades, desde que percebamos que Amar é primeiro dar e só depois receber. Mas não é uma troca, um negócio.

Há vinte e cinco anos, Jorge adivinhava que o “Bairro do Amor” seria um local marginal, apesar do carrossel, apesar de ser desenhado a lápis de cor, apesar de nele não haver problemas. É curioso pensar na força da solidão. Cada vez mais acho que não tem que ver com a ausência de pessoas, nem de pessoas que pensem como nós ou de pessoas que sofram como nós.
A solidão é feita dos nossos medos, dos nossos egoísmos, da nossa ambição em viver em condomínios fechados.
Talvez os bairros nunca mais voltem a ser o que foram, talvez o “Bairro do Amor” nunca consiga sair do papel, o certo é que a música de Jorge Palma acende um clarão na imensa e triste solidão em que vivemos e com ela a vida volta a ter a magia do carrossel.
Gabriel Vilas Boas


Sem comentários:

Enviar um comentário