Ainda hoje se diz que é impossível suplantar em termos cinematográficos, o Hamlet de Lord Laurence Olivier, vencedor do Óscar de melhor filme em 1948. Com efeito, o grande ator/realizador conseguiu, como nenhum outro, passar para a tela o grande drama shakespeariano, tornando-o numa história bem ritmada e acessível a uma boa parcela do público. Isto sem traições imperdoáveis à obra.
Olivier, que foi também distinguido pela Academia como melhor ator, graças a uma esplêndida recriação do príncipe dinamarquês que “não se conseguia decidir”, usa aqui uma ideia do próprio Shakespeare: cada qual tem a sua ideia da peça. Inovou, suprimiu isto ou aquilo, mas conseguiu totalmente os seus objetivos.
Que importa que os solilóquios dêem lugar a monólogos interiores ou que haja mutilações, omissões e até erros? Importa, isso sim, que muito dificilmente se conseguirá ver em cinema uma produção de Hamlet tão viva e tão emocionante. Não existe momentos aborrecidos, e se personagens como Fortinbras, Rosencrantz e Guilderstern foram sacrificados, é notável como não se dá pela falta deles.
Para a época, o filme de Oliver foi muito caro. Os custos ultrapassaram os dois milhões de dólares, ou seja, duplicaram o orçamento inicial. No entanto, como muitas vezes acontece em casos semelhantes, o êxito junto do grande público ficou aquém do esperado, e o filme foi empurrado para salas vocacionadas para a arte.
É certo que a realização de Olivier poderia ainda ter sido melhor. Apaixonado pela câmara e pelo papel de realizador, usou muitos truques de amador em vez de se manter fiel ao texto. No entanto, o seu empenho enquanto ator foi inexcedível: descolorou o cabelo totalmente a fim de que as pessoas não pensassem que era ele a representar Hamlet, mas sim que se tratava de Hamlet em pessoa.
Além de melhor filme e de melhor ator principal, Hamlet viu também premiados os figurinos e a cenografia.
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