Com o objetivo de transformar a África
do Sul do apartheid na visão da Nação do Arco-Íris de Nelson Mandela, o bispo
anglicano da cidade do Cabo, Dsmond Tutu, criou a Comissão da Verdade e
Reconciliação (CVR) em 1995 para investigar muitos dos momentos mais sombrios
que o país viveu entre 1960 e 1994. Imbuída de um espírito de reconciliação cristã,
esta comissão propunha uma justiça regeneradora na qual as vítimas e as suas
famílias ficariam cara a cara com aqueles que as tinham magoado. Em troca da
revelação/confissão total do
envolvimento em atos de violência com motivações políticas e violações dos
direitos humanos, as testemunhas não seriam processadas criminalmente.
A CVR pôs a nu pormenores de muitas
atrocidades cometidas não só pelo sistema de segurança da minoria branca e por
extremistas pró-apartheid como também
por membros do Congresso Nacional Africano. No seu Prefácio ao meu muito
aguardado Relatório, publicado a 28 de outubro de 1998, Desmond Tutu enfrentou
os seus críticos e justificou o exercício como um elemento necessário à
regeneração. Como tal e apesar dos seus erros, o Relatório continuou a ser um modelo para a resolução dos conflitos
dentro da África do Sul.
Dada a relevância das palavras do bispo
do Cabo, cito um trecho do famoso Prefácio.
«Foi-nos
concedido um grande privilégio. Trata-se de um privilégio com elevados custos,
mas que não desejaríamos trocar por nada deste mundo. Alguns de nós já viveram
um stress pós-traumático e tornaram-se cada vez mais cientes de quão intensamente
feridos fomos todos; de quão feridos e esgotados estamos todos. O apartheid
afetou-nos a um nível muito mais profundo que alguma vez imaginaríamos. Nós, na
Comissão temos sido um microcosmos da nossa sociedade, refletindo a sua
alienação, suspeita e falta de confiança uns nos outros. As nossas primeiras
reuniões na Comissão foram muito difíceis e cheias de tensão. Deus foi bom ao
ajudar-nos a tornarmo-nos mais unidos. Talvez sejamos um sinal de esperança de
que, se as pessoas com um passado mais hostil conseguem unir-se como nós,
então existe na África do Sul a expectativa de que seremos capazes de nos unir.
Estando feridos, somos chamados a curar.»
Desmond
Tutu
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