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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

VERDADE E RECONCILIAÇÃO NA ÁFRICA DO SUL, 1988

       

Com o objetivo de transformar a África do Sul do apartheid na visão da Nação do Arco-Íris de Nelson Mandela, o bispo anglicano da cidade do Cabo, Dsmond Tutu, criou a Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR) em 1995 para investigar muitos dos momentos mais sombrios que o país viveu entre 1960 e 1994. Imbuída de um espírito de reconciliação cristã, esta comissão propunha uma justiça regeneradora na qual as vítimas e as suas famílias ficariam cara a cara com aqueles que as tinham magoado. Em troca da revelação/confissão  total do envolvimento em atos de violência com motivações políticas e violações dos direitos humanos, as testemunhas não seriam processadas criminalmente.

A CVR pôs a nu pormenores de muitas atrocidades cometidas não só pelo sistema de segurança da minoria branca e por extremistas pró-apartheid como também por membros do Congresso Nacional Africano. No seu Prefácio ao meu muito aguardado Relatório, publicado a 28 de outubro de 1998, Desmond Tutu enfrentou os seus críticos e justificou o exercício como um elemento necessário à regeneração. Como tal e apesar dos seus erros, o Relatório continuou a ser um modelo para a resolução dos conflitos dentro da África do Sul.
Dada a relevância das palavras do bispo do Cabo, cito um trecho do famoso Prefácio.

«Foi-nos concedido um grande privilégio. Trata-se de um privilégio com elevados custos, mas que não desejaríamos trocar por nada deste mundo. Alguns de nós já viveram um stress pós-traumático e tornaram-se cada vez mais cientes de quão intensamente feridos fomos todos; de quão feridos e esgotados estamos todos. O apartheid afetou-nos a um nível muito mais profundo que alguma vez imaginaríamos. Nós, na Comissão temos sido um microcosmos da nossa sociedade, refletindo a sua alienação, suspeita e falta de confiança uns nos outros. As nossas primeiras reuniões na Comissão foram muito difíceis e cheias de tensão. Deus foi bom ao ajudar-nos a tornarmo-nos mais unidos. Talvez sejamos um sinal de esperança de que, se as pessoas com um passado mais hostil conseguem unir-se como nós, então existe na África do Sul a expectativa de que seremos capazes de nos unir. Estando feridos, somos chamados a curar.»

Desmond Tutu

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