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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

SÓ NÓS DOIS, de Tiago Bettencourt


No início dos anos 60, Tony de Matos celebrizou esta canção, tornando-a num ícone do romantismo de meados do século XX. Praticamente meio século mais tarde Tiago Bettencourt pega na extraordinária letra de “Só Nós Dois é Que Sabemos” e veste-a com a sua voz rouca, pausada, sensível e serenamente apaixonada. Canta com a naturalidade de quem conversa e expõe toda a beleza deste “poema”/canção, provando que ela se aplica a muitos de nós.´
Aquele começo sem palavras é tão lindo e poético que nos conquista ao fim de trinta segundos. 
É um segredo revelado transformado em declaração de amor, que o ouvinte pode adoptar como seu. E nessa apropriação sem nenhum laivo de usurpação, a canção triunfa sobre o tempo, como o amor vence as mais duras provas.

A voz calma de Bettencourt recoloca o amor, que perfuma toda a canção, no lugar onde ele deve ficar: no secreto entendimento entre duas pessoas.
O segredo que não interessa revelar é cumplicidade, a força e a profundidade de que é feito. Não porque possa ser arrebatado pela inveja dos deuses, mas talvez porque seja demasiado íntimo para se exibir. Deve ser por isso que o cantor repete anaforicamente: “Só nós dois é que sabemos”.
Sabemos porque há palavras belas para o dizer e gesto gostosos para o sentir, sejam eles beijos, abraços ou um simples aconchego.
O desdém final da canção sobre o murmurar alheio é uma afirmação cabal da vitória do essencial sobre o acessório. Nem sempre isto é fácil de concretizar. A história das nossas vidas está cheia de pequeníssimas vitórias e enormes derrotas, embora a pressa em obtermos todos os desejos sonhados nos leve a fracassos dolorosos. Talvez por isso o Amor seja uma Sabedoria que vamos sorvendo!
Gabriel Vilas Boas

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