Eneias, o troiano, o herói da Eneida de
Vergílio, estava destinado a desembarcar em Itália e tornar-se antepassado dos
romanos. À sua chegada, foi encarregue de uma série de guerras instigado por
Juno, que levaram a sua mãe, Vénus, a vir em sua ajuda.
A pintura de Boucher (1732) mostra uma
Vénus galanteadora e quase nua, deusa da beleza e do Amor, sentada numa nuvem
rodeada de cisnes e de gansos – dois dos seus atributos. Está a olhar para o
marido, Vulcano, e a pedir-lhe uma armadura especial para o seu filho.
Boucher, pintor principal do rei Luís XV
de França, foi muito criticado por ser demasiado comodista e não pintar nada
mais sério do que putti, ninfas e
mulheres semi-nuas. No entanto, este estilo despreocupado e até um pouco
frívolo, típico do Rococó, era o ideal para pinturas, decorações, tapeçarias e
cenários da corte do rei.
O elemento-chave desta pintura de Boucher
é Vulcano, deus do Fogo que preside sobre a forja. Vulcano é o patrono dos
metalúrgicos e foi ele que fabricou os famosos raios de Júpiter, no entanto foi
expulso do Olimpo quando tentou libertar a mãe que Júpiter acorrentara como
castigo.
Desterrado na ilha de Lemnos na Grécia,
onde construiu um palácio para si e instalou forjas, que seriam os vulcões da
Terra. Os Ciclópes (gigantes com um só olho) eram os seus assistentes.
Infelizmente ele partiu a perna na sua queda para a Terra e ficou coxo para
sempre. Enfim, Vénus era casada com um coxo…
Vulcano criou muitas obras de arte
engenhosas, tanto para os deuses como para os mortais a pedido dos seus pares, incluindo
os famosos escudos, magnificamente decorados, um para Aquiles e outro para
Eneias. Também produziu uma armadura completa para Júpiter, que prometeu a
Vulcano aquilo que ele desejasse como recompensa. Vulcano pediu a casta Minerva
mas, incapaz de a violar, derramou a sua semente na Terra, ato do qual nasceu
Erictónio.
Vulcano acabou por desposar Vénus, que lhe
era permanentemente infiel. Também passar de uma Minerva a uma Véus é como ir de
um extremo ao outro da fogacidade feminina do Olimpo, mas Vulcano não deve ter
refletido sobre isso. No entanto, Vulcano era muito esperto. Ficou célebre a
história que descreve como ele concebeu
uma rede invisível, onde apanhou a sua
Vénus a ser-lhe infiel com Marte. Quando o casal de amantes foi
surpreendido num abraço de paixão, Vulcano expô-los aos restantes deuses que,
para tristeza de Vulcano, se divertiram bastante com a desventura de Vulcano em
vez de mostrar indignação com a atitude de Vénus. Mercúrico chegou mesmo a
escarnecer do deus do Fogo, dizendo que gostaria de estar no lugar de Marte.
Na pintura, a deformidade de Vulcano é
normalmente visível e muitas vezes aparece semi-nu e desgrenhado trabalhando na
sua forja. Outras vezes é mostrada a bater metal na bigorna com um martelo ou a
segurar um raio com as tenazes. Doutras vezes pode estar ainda a soprar as
chamas, de rosto enegrecido pelo fumo. De forma apropriada, muitas vezes,
aparece por cima das lareiras, como acontece na pintura de Peruzzi, Vulcano Na Sua Forja.
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