«Às duas horas foi descoberta terra, a duas léguas de distância,
recolheram a vela e mantiveram-se estendidos debaixo da vela redonda até àquele
dia, sexta-feira, quando se encontraram perto de uma ilhota, uma das Lucayos,
chamada Guarahani, em língua índia. Pouco depois, enxergaram pessoas, nuas, e o
almirante conduziu o barco para terra, que estava armado, a par de Martin
Alonzo Pizón e Vicent Yáñez, seu irmão, capitão da Niña. O almirante
transportava o estandarte real e os dois capitães cada um uma bandeira da Cruz
Verde, que os barcos tinham trazido; nesta via-se as iniciais dos nomes do rei
e da rainha de cada lado da cruz e uma coroa sob cada letra. Quando chegaram à costa, avistaram árvores muito verdejantes, muitos riachos e diversas espécies
de frutos.» Bartolomé
De Las Casas
A pequena frota da
primeira viagem transatlântica de Cristóvão Colombo partiu de Espanha a 3 de
agosto de 1492, na tentativa de descobrir, teorizava ele, uma passagem
marítima, relativamente curta, para oeste, até à Índia. As suas naus, a Niña (ou mais formalmente, a Santa Clara), Pinta e Santa Maria,
avistaram terra nas Baamas o início da manhã do dia 12 de outubro de 1492, e um
grupo chefiado por Colombo desembarcou nesse mesmo dia. Ele anotou:
Quando vi que eles eram muito
simpáticos para nós e percebi que podiam ser convertidos com mais facilidade à
nossa fé sagrada a bem do que pela força, presenteei-os com umas boinas
vermelhas, colares e outras ninharias que os deliciaram… Depois vieram a nadar
até aos barcos, trazendo papagaios, novelos de algodão, azagaias e muitas
outras coisas que trocaram por artigos que lhes demos, como contas de vidro e
tartarugas marinhas; esta troca prosseguiu com a maior boa vontade. Mas de um
modo geral parecem-me um povo pobre. Andavam nus, mesmo as mulheres, embora eu
só tenha visto uma rapariga.
Nessa mesma viagem,
Colombo também visitou Cuba, o Haiti e a República Dominicana, antes de
regressar a Espanha. A sua terceira expedição (1498) desembarcou no continente
sul-americano pela primeira vez.
A descoberta das
Américas por Colombo tem uma enorme relevância para a Espanha, para a Europa e
para o mundo. Para a Espanha porque a posiciona na dianteira dos
descobrimentos, quando tudo levava a crer que estava a perder essa corrida para
Portugal do astuto Dom João II; para a Europa porque inaugura as relações do
velho continente com aquele que viria a ser parceiro mais efetivo até hoje; e
para o mundo, que ganha inesperadamente uma configuração muito diferente, de um
momento para o outro.
A descoberta de Colombo
permite concluir que a persistência sempre dá os seus frutos. Muitas vezes
podem não ser os frutos esperados, mas raramente deixam de ser saborosos. Por
vezes, mais apetitosos que aqueles que perseguíamos. Como diria o poeta, mais
importante do que chegar é ter a coragem de partir, porque o prazer da aventura
está sempre na viagem.
Gabriel Vilas Boas
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