A 30 de setembro de 1938, o primeiro-ministro britânico
Neville Chamberlain dizia aos jornalistas «A resolução do problema da
Checoslováquia que agora foi alcançada é, a meu ver, somente o prelúdio de uma
decisão mais ampla através da qual a Europa pode encontrar a paz. Esta manhã
tive outra conversa com o chanceler alemão, Herr Hitler, e aqui está o
documento em que figura o seu nome e o meu. […] Considero que o acordo assinado
ontem à noite e o Acordo Naval Anglo-alemão simbolizam o desejo dos nossos dois
povos nunca mais entrarem e guerra um com o outro.»
Esta inacreditável inocência prosseguiu, horas mais tarde
em Downing Street.
«Esta é a segunda vez na nossa história que a paz volta da Alemanha
para Downing Street com honra. Creio que se trata da paz para o nosso tempo.
Agradeço-vos do fundo do coração. E agora recomendo-vos que vão para casa e
durmam tranquilamente na vossa cama».
Toda a gente sabe o que se passou, na Europa, nos seis anos seguintes, e por isso custa a crer como Chamberlain foi capaz de tanta inocência e
ignorância políticas, até porque o Acordo de Munique deu carta-branca ao
terrível líder germânico para absorver a
região sudeta, de maioria alemã, na Checoslováquia, apesar de existir uma
aliança anterior entre França, Checoslováquia e Reino Unido.
Chamberlain acreditava na palavra de Hitler (como foi
possível?!) e julgou que as ambições territoriais deste ao território checo tinham terminado, mas essas promessas revelaram-se falsas em poucos meses: em Março de
1939, Hitler anexou mais território checoslovaco e onze meses depois invadiu a
Polónia e precipitou a Segunda Guerra Mundial de que estava tão desejoso.
Nessa altura (1938), este acordo obtido por Chamberlain foi recebido
em Londres como uma proeza, mas os meses futuros provaram que fora o engodo
perfeito, lançado por Hitler, para apanhar a Grã-Bretanha ainda mais
impreparada para a guerra.
Há um provérbio latino – Si vis pacem, para bellum (Se
queres a paz, prepara-te para a guerra) -
que encaixa na perfeição naquilo que o primeiro-ministro inglês não fez e devia
ter feito.
É meritório, louvável e desejável lutar pela paz, mas isso
não pode ser confundido com mendigar paz. A paz é um valor nobre, não se
mendiga, conquista-se, impõe-se. Infelizmente, há pessoas, como Hitler, que só
conhecem o conceito de paz armada.
GAVB