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domingo, 24 de setembro de 2017

D. MANUEL – UM BISPO DE QUEM OS PORTUGUESES TINHAM ORGULHO



Durante as últimas décadas, a Igreja Católica portuguesa teve o «seu» Papa Francisco. Chamava-se D. Manuel Martins e fora bispo de Setúbal durante vinte e três anos. Nesse quarto de século, ele prestou relevantes serviços à Igreja, ao Cristianismo, à sociedade portuguesa.
O bispo vermelho não se encolhia perante os problemas, as polémicas, os ignóbeis silêncios dos seus companheiros de missão. Os fiéis admiravam-no, os colegas elogiavam-no mas não tiveram a coragem de lhe seguir as pisadas. Ele fez o seu caminho, levando a mensagem de Cristo a todos, sem cobardia. Indicou e percorreu aquele que devia ser o caminho que a Igreja portuguesa devia ter trilhado.

Não é por acaso que um homem da Igreja consegue o respeito de tantos que se declaram não católicos, não é por acaso que vários concelhos do país o tornaram seu cidadão honorário, nem que que o seu nome figura numa Escola Secundária de Setúbal ou tenha sido agraciado com a grã-cruz da Ordem de Cristo, é porque ele foi mesmo uma das grandes personalidades do século XX português.
Aquando da sua ordenação como bispo de Setúbal, ficaram célebres as suas palavras: “Nasci bispo em Setúbal. Agora sou de Setúbal. Aqui anunciarei o evangelho da Justiça e da Paz.” E foi o que fez, com coragem, inteligência, humor, assertividade. 

O padre que na rua se vestia como qualquer cidadão, dispensando o estatuto que as vestes de sacerdote lhe outorgavam no Portugal de então, sabia que o seu caminho estava muito para além da igreja. Quem vivera por dentro, como ele viveu, a crise da deportação de D. António Ferreira Gomes por Salazar, na década de sessenta, percebia claramente que o lado da Igreja era o lado dos desprotegidos, da Verdade, da Justiça, da Paz. Se esse lado era o da esquerda, se nesse lado estavam os vermelhos, os comunistas, então ele seria vermelho, comunista, porque a doutrina de Cristo antecede em muitos séculos as ideologias políticas do século XX.
Hoje partiu o nosso Papa Francisco. Deixou um legado difícil de igualar mas fácil de honrar. Basta seguir os ensinamentos de Cristo. Quase que nem é preciso ser cristão.
GAVB

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