Durante as últimas décadas, a
Igreja Católica portuguesa teve o «seu» Papa Francisco. Chamava-se D. Manuel
Martins e fora bispo de Setúbal durante vinte e três anos. Nesse quarto de
século, ele prestou relevantes serviços à Igreja, ao Cristianismo, à sociedade
portuguesa.
O bispo vermelho não se
encolhia perante os problemas, as polémicas, os ignóbeis silêncios dos seus
companheiros de missão. Os fiéis admiravam-no, os colegas elogiavam-no mas não
tiveram a coragem de lhe seguir as pisadas. Ele fez o seu caminho, levando a
mensagem de Cristo a todos, sem cobardia. Indicou e percorreu aquele que devia
ser o caminho que a Igreja portuguesa devia ter trilhado.
Não é por acaso que um homem
da Igreja consegue o respeito de tantos que se declaram não católicos, não é
por acaso que vários concelhos do país o tornaram seu cidadão honorário, nem
que que o seu nome figura numa Escola Secundária de Setúbal ou tenha sido agraciado
com a grã-cruz da Ordem de Cristo, é porque ele foi mesmo uma das grandes
personalidades do século XX português.
Aquando da sua ordenação como
bispo de Setúbal, ficaram célebres as suas palavras: “Nasci bispo em Setúbal.
Agora sou de Setúbal. Aqui anunciarei o evangelho da Justiça e da Paz.” E foi o
que fez, com coragem, inteligência, humor, assertividade.
O padre que na rua se
vestia como qualquer cidadão, dispensando o estatuto que as vestes de sacerdote
lhe outorgavam no Portugal de então, sabia que o seu caminho estava muito para além da
igreja. Quem vivera por dentro, como ele viveu, a crise da deportação de D.
António Ferreira Gomes por Salazar, na década de sessenta, percebia claramente
que o lado da Igreja era o lado dos desprotegidos, da Verdade, da Justiça, da
Paz. Se esse lado era o da esquerda, se nesse lado estavam os vermelhos, os comunistas,
então ele seria vermelho, comunista, porque a doutrina de Cristo antecede em
muitos séculos as ideologias políticas do século XX.
Hoje partiu o nosso Papa
Francisco. Deixou um legado difícil de igualar mas fácil de honrar. Basta
seguir os ensinamentos de Cristo. Quase que nem é preciso ser cristão.
GAVB
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