Etiquetas

sábado, 23 de setembro de 2017

JOVENS MÉDICOS PAGARÃO PARA TRABALHAR NO PRIVADO



Ser forte com os fracos é próprio de gente com fraca coragem. Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde de Portugal, anda a desiludir-me um pouco. Depois de ter gerido de modo infeliz a contestação dos enfermeiros, tem uma greve de médicos à porta e anuncia hoje esta ideia peregrina de obrigar os jovens médicos portugueses a ficarem três ou cinco anos no Serviços Nacional de Saúde, após terminarem a especialidade ou em troca pagarem para sair de imediato para o setor privado.

Tenho dúvidas sobre a legalidade/constitucionalidade da intenção ministerial, mas partindo do princípio que é legal, acho-a imoral, pelo menos nos termos em que o ministro a desenhou.

A ideia de um período de fidelização dos médicos ao Estado tem alguma razão de ser, porque o Estado investiu muito dinheiro na formação destes médicos e tem direito moral a usufruir desse investimento, mas começar a fazer doutrina com os jovens médicos é mostrar força de um tigre de papel. Já não bastava o governo ter aceitado a sugestão da Ordem dos Médicos em reduzir para metade o tempo de internato dos neófitos doutores, amputando os jovens médicos de uma formação tão qualificada como a dos seus antecessores, e agora ainda os quer obrigar a permanecer à força no SNS? Quer obrigá-los porque não consegue fazê-lo com os mais velhos, cujo estatuto e mercado é muito mais vasto.

Dir-me-ão que os mais velhos já deram esse tempo ao SNS no passado. Não é certo que todos o tivessem feito, mas é verdade que todos os novos médicos, provavelmente, o farão. Esta medida aprofundará ainda mais as desigualdades sociais e económicas entre os médicos mais antigos e os mais novos e servirá para desunir uma classe fundamental em qualquer sociedade e que não deve ser exposta a injustiças inter pares.
Qualquer ministro que se preze deve procurar sempre que os setores sociais que tutela se sintam confortáveis, que haja justiça em relação a outros setores profissionais e que não haja diferenças ilegítimas entre profissionais. Quando uns são filhos e outros enteados, não há família que fique unida.

Post Scriptum: os médicos ameaçam com nova greve, porque dizem que têm horas extraordinárias a mais, doentes em excesso. Só espero que o ministro não resolva isto com mais dinheiro. Eles querem é descanso, não dinheiro… pelo menos é o que dizem!

GAVB

Sem comentários:

Enviar um comentário