Ser forte com os fracos é próprio de gente com fraca
coragem. Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde de Portugal, anda a
desiludir-me um pouco. Depois de ter gerido de modo infeliz a contestação dos
enfermeiros, tem uma greve de médicos à porta e anuncia hoje esta ideia
peregrina de obrigar os jovens médicos portugueses a ficarem três ou cinco anos
no Serviços Nacional de Saúde, após terminarem a especialidade ou em troca
pagarem para sair de imediato para o setor privado.
Tenho dúvidas sobre a legalidade/constitucionalidade da intenção
ministerial, mas partindo do princípio que é legal, acho-a imoral, pelo menos
nos termos em que o ministro a desenhou.
A ideia de um período de fidelização dos médicos ao Estado
tem alguma razão de ser, porque o Estado investiu muito dinheiro na formação
destes médicos e tem direito moral a usufruir desse investimento, mas começar a
fazer doutrina com os jovens médicos é mostrar força de um tigre de papel. Já
não bastava o governo ter aceitado a sugestão da Ordem dos Médicos em reduzir
para metade o tempo de internato dos neófitos doutores, amputando os jovens médicos de uma formação
tão qualificada como a dos seus antecessores, e agora ainda os quer obrigar a permanecer
à força no SNS? Quer obrigá-los porque não consegue fazê-lo com os mais velhos,
cujo estatuto e mercado é muito mais vasto.
Dir-me-ão que os mais velhos já deram esse tempo ao SNS no
passado. Não é certo que todos o tivessem feito, mas é verdade que todos os
novos médicos, provavelmente, o farão. Esta medida aprofundará ainda mais as
desigualdades sociais e económicas entre os médicos mais antigos e os mais
novos e servirá para desunir uma classe fundamental em qualquer sociedade e que
não deve ser exposta a injustiças inter
pares.
Qualquer ministro que se preze deve procurar sempre que os
setores sociais que tutela se sintam confortáveis, que haja justiça em relação a
outros setores profissionais e que não haja diferenças ilegítimas entre profissionais.
Quando uns são filhos e outros enteados, não há família que fique unida.
Post Scriptum: os
médicos ameaçam com nova greve, porque dizem que têm horas extraordinárias a
mais, doentes em excesso. Só espero que o ministro não resolva isto com mais
dinheiro. Eles querem é descanso, não dinheiro… pelo menos é o que dizem!
GAVB
Sem comentários:
Enviar um comentário