Ao que parece o governo português quer fazer uma espécie de
recenseamento étnico-racial da população a residir no nosso país.
Com todo o
cuidado ao nível do discurso e de forma encapotada, através do próximo Censos
2021, a ideia do governo é, no mínimo, infeliz.
Por mim, fico satisfeito que haja mais estrangeiros a querer viver em Portugal, sejam eles o Eric Cantona, a Monica Bellucci, a Madonna ou um anónimo qualquer; desde que “venha por bem” é bem-vindo.
Não acho relevante saber quantos ciganos habitam o nosso
país, nem negros, nem sequer muçulmanos, pois acho que essa intenção, no
contexto atual, tem um alcance xenófobo. A mim, basta-me saber que existem mais
de vinte mil chineses em Portugal, que há mais de trinta mil romenos e o número
dos cabo-verdianos ultrapassa os trinta e seis mil, entre outras particulares
dos quase meio milhão de estrangeiros a residir no território nacional. Para mim,
eles serão sempre romenos e não “os ciganos”, cabo-verdianos, guineenses,
angolanos e não os “pretos”.
É verdade que há o problema da insegurança, mas nem todos
os portugueses são santos nem os estrangeiros de países pobres são todos uns
demónios. É verdade que há alguns problemas que surgem recorrentemente com alguns grupos,
mas esse é mais um problema de autoridade e aplicação da justiça que uma característica
étnica ou racial.
Ao contrário do que sugere o governo português, este não é
uma questão semelhante à da religião, visto que o país não tem religião oficial
e as várias confissões convivem pacificamente. No entanto, a questão da
xenofobia é real, ainda que numa pequena escala, e tornou-se num problema
europeu nos últimos anos. Um governo que quer saber oficialmente quantos
negros, ciganos ou muçulmanos existem no seu território é porque entende que
esses são grupos «à parte» na sociedade portuguesa. Não são. Eles são apenas
estrangeiros a residir em Portugal e alguns deles até já se tornaram portugueses.
A xenofobia germina nestes pequenos tiques de rotulagem
artificial e desnecessária das pessoas.
GAVB
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