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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O GOVERNO QUER UM RECENSEAMENTO ÉTNICO-RACIAL PARA QUÊ?

Ao que parece o governo português quer fazer uma espécie de recenseamento étnico-racial da população a residir no nosso país. 
Com todo o cuidado ao nível do discurso e de forma encapotada, através do próximo Censos 2021, a ideia do governo é, no mínimo, infeliz.  
Por mim, fico satisfeito que haja mais estrangeiros a querer viver em Portugal, sejam eles o Eric Cantona, a Monica Bellucci, a Madonna ou um anónimo qualquer; desde que “venha por bem” é bem-vindo.

Não acho relevante saber quantos ciganos habitam o nosso país, nem negros, nem sequer muçulmanos, pois acho que essa intenção, no contexto atual, tem um alcance xenófobo. A mim, basta-me saber que existem mais de vinte mil chineses em Portugal, que há mais de trinta mil romenos e o número dos cabo-verdianos ultrapassa os trinta e seis mil, entre outras particulares dos quase meio milhão de estrangeiros a residir no território nacional. Para mim, eles serão sempre romenos e não “os ciganos”, cabo-verdianos, guineenses, angolanos e não os “pretos”.
É verdade que há o problema da insegurança, mas nem todos os portugueses são santos nem os estrangeiros de países pobres são todos uns demónios. É verdade que há alguns problemas que surgem recorrentemente com alguns grupos, mas esse é mais um problema de autoridade e aplicação da justiça que uma característica étnica ou racial.
Ao contrário do que sugere o governo português, este não é uma questão semelhante à da religião, visto que o país não tem religião oficial e as várias confissões convivem pacificamente. No entanto, a questão da xenofobia é real, ainda que numa pequena escala, e tornou-se num problema europeu nos últimos anos. Um governo que quer saber oficialmente quantos negros, ciganos ou muçulmanos existem no seu território é porque entende que esses são grupos «à parte» na sociedade portuguesa. Não são. Eles são apenas estrangeiros a residir em Portugal e alguns deles até já se tornaram portugueses.
A xenofobia germina nestes pequenos tiques de rotulagem artificial e desnecessária das pessoas.

GAVB

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