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quinta-feira, 5 de agosto de 2021

CUSPIR NO OURO QUE COMEU



A maneira como alguns medalhados olímpicos recebem o tão almejado prémio do seu esforço, talento e trabalho, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, está  a ser cruelmente revelador do seu carácter.

Recentemente, o inglês Ben Whittaker resolveu não colocar no peito a sua medalha de prata, porque o cubano Arlen Lopez cometeu a ousadia de ser melhor do que ele no combate de boxe olímpico, na categoria de meios-pesados (-81 kg). Sem o mínimo de consideração e respeito pelo seu colega cubano, o inglês declarou: “Não conquistei a prata, perdi o ouro!”. Sim, porque o ouro era dele, à partida, e os oponentes estavam em competição apenas para dar lustro à sua vitória.


A mesma cena triste já se tinha passado na final do Campeonato da Europa de Futebol, jogo que opôs a Inglaterra à Itália, em Londres, e decidida, favoravelmente, nas grandes penalidades, aos transalpinos. Na cerimónia da entrega de medalhas, os jogadores ingleses portaram-se de maneira indecorosa, ao receberem as medalhas de vice-campeões com enfado, retirando-as de imediato do pescoço como se fosse alguma coleira cheia de pulgas.

Nesta madrugada o português Pedro Pablo Pichardo garantiu a quinta medalha Olímpica de sempre para Portugal. Entre os muitos milhares que o felicitaram, alguns houve também que se referiram a Pichardo como o luso-cubano ou simplesmente «o cubano», exibindo um desprezo por alguém que decidiu pedir a nacionalidade portuguesa e se dispôs a competir, com todo o seu talento, debaixo da bandeira nacional. Só não disseram que voltasse para a terra dele, porque estavam interessados no ouro que brilhava no seu peito. Mesmo sabendo das afrontas, Pedro Pichardo respondeu com a elevação dos campeões: «Este ouro tem um significado muito grande, pois é a única forma de agradecer ao país que me apoiou desde o primeiro dia. Agradecer com medalhas e bons resultados.”

A dignidade e a nobreza de carácter são medalhas de ouro ao alcance de todos, mas nem todos a sabem conquistar. Uma pena que aconteça em Portugal, um país onde escasseiam medalhas olímpicas e das outras também.
Gabriel Vilas Boas

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

OS ESTRANGEIROS ANDAM A SALVAR A ECONOMIA PORTUGUESA


Leio na imprensa que as "Universidades Privadas crescem com a inscrição dos estrangeiros". Eu diria antes que  as "salvaram" e não só as privadas. A Universidade de Coimbra, por exemplo, já tem 20% de alunos estrangeiros, com especial destaque para o exército de brasileiros que procuram Coimbra pela tradição e pelo estatuto proporcionado pela mais antiga universidade portuguesa. A universidade conimbricense foi também pioneira no aproveitamento turístico da Instituição e hoje cerca de 3% das suas receitas provêm do turismo.

As universidades portuguesas não fizeram mais que a restante população: aproveitaram o novo elixir da felicidade - pessoas em permanente trânsito pela Europa - para ultrapassar a grave depressão económica em que políticas ultrapassadas e corruptas nos deixaram.

Foram os estrangeiros e o turismo que estancaram a hemorragia de jovens a sair do país, permitindo a mais baixa taxa de desemprego dos últimos dezasseis anos.

A busca do nosso país pelos estrangeiros permitiu a reabilitação urbana do Porto, Lisboa, Aveiro ou Braga. Também são os estrangeiros que continuam a executar os trabalhos deselegantes que os europeus não querem fazer. No entanto, na Europa cresce o apoio a partidos xenófobos e fecha-se a porta a quem é pobre e é islâmico, com a desculpa de que são potenciais terroristas.
Para sermos acolhedores não temos de ser permissivos, mas é indigno e estúpido ser preconceituoso.
O que acontece na Hungria, em algumas regiões da Itália e da Alemanha é a vitória do preconceito e da incompetência, além da falta de visão de futuro.
Gente incompetente prefere recusar o desconhecido antes de trabalhar uma ordenada incorporação de quem procura um recomeço de vida com urgência. 
É muito fácil dizer "Portugal para os portugueses" ou "A Hungria para os húngaros", mas depois queremos Lisboa cheia de turistas chineses, japoneses, árabes ou americanos e contratamos brasileiros e cabo-verdianos para servirem às mesas dos restaurantes, dezasseis horas por dia, pagando-lhes pouco mais que o ordenado mínimo.
Temos a mania da "xico-espertice" no sangue e também é por isso que crescemos de maneira disforme.
GAVB

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O GOVERNO QUER UM RECENSEAMENTO ÉTNICO-RACIAL PARA QUÊ?

Ao que parece o governo português quer fazer uma espécie de recenseamento étnico-racial da população a residir no nosso país. 
Com todo o cuidado ao nível do discurso e de forma encapotada, através do próximo Censos 2021, a ideia do governo é, no mínimo, infeliz.  
Por mim, fico satisfeito que haja mais estrangeiros a querer viver em Portugal, sejam eles o Eric Cantona, a Monica Bellucci, a Madonna ou um anónimo qualquer; desde que “venha por bem” é bem-vindo.

Não acho relevante saber quantos ciganos habitam o nosso país, nem negros, nem sequer muçulmanos, pois acho que essa intenção, no contexto atual, tem um alcance xenófobo. A mim, basta-me saber que existem mais de vinte mil chineses em Portugal, que há mais de trinta mil romenos e o número dos cabo-verdianos ultrapassa os trinta e seis mil, entre outras particulares dos quase meio milhão de estrangeiros a residir no território nacional. Para mim, eles serão sempre romenos e não “os ciganos”, cabo-verdianos, guineenses, angolanos e não os “pretos”.
É verdade que há o problema da insegurança, mas nem todos os portugueses são santos nem os estrangeiros de países pobres são todos uns demónios. É verdade que há alguns problemas que surgem recorrentemente com alguns grupos, mas esse é mais um problema de autoridade e aplicação da justiça que uma característica étnica ou racial.
Ao contrário do que sugere o governo português, este não é uma questão semelhante à da religião, visto que o país não tem religião oficial e as várias confissões convivem pacificamente. No entanto, a questão da xenofobia é real, ainda que numa pequena escala, e tornou-se num problema europeu nos últimos anos. Um governo que quer saber oficialmente quantos negros, ciganos ou muçulmanos existem no seu território é porque entende que esses são grupos «à parte» na sociedade portuguesa. Não são. Eles são apenas estrangeiros a residir em Portugal e alguns deles até já se tornaram portugueses.
A xenofobia germina nestes pequenos tiques de rotulagem artificial e desnecessária das pessoas.

GAVB

sábado, 6 de maio de 2017

O RACISMO É QUASE SEMPRE UM PROJETO POLÍTICO


A frase é do investigador e historiador Francisco Bethencourt, organizador da exposição Racismo e Cidadania, patente a partir de hoje, no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa.
O professor do King’s College defende que o racismo não é inato e resulta da combinação do preconceito quanto à descendência étnica e ação discriminatória.


O que mais me surpreendeu nas breves palavras Francisco Bethencourt ao Expresso foi a ideia que o racismo é muitas vezes desencadeado por projetos políticos. Nunca tinha observado a questão desse prisma, mas ela faz sentido.
Nem a xenofobia nem o racismo são inatos, mas frequentemente eles são “trabalhados” por determinados partidos políticos que apostam em insuflar esses sentimentos nos eleitores quando sentem que a sociedade livre, igualitária e democrática tem dificuldade em responder às crises económicas que ciclicamente desafiam as sociedades modernas.
Em muitas pessoas há, adormecido, o vírus da intolerância e do preconceito, mas a verdade é que este é também muito bem desenvolvido por gente sem escrúpulos e que se aproveita das fragilidades do instinto humano para capitalizar politicamente.

É possível que hoje não fique bem alguém dizer-se racista, mas o discurso do nacionalismo exacerbado contra os imigrantes é uma espécie de racismo sem cor, e esse passa lindamente.


Como se luta contra isto? Denunciando o aproveitamento político, desmontando ideias erradas de que somos donos da terra apenas porque nascemos em determinado país, antecipando os momentos de depressão económica, de maneira a manter a enferrujar o animalesco instinto de sobrevivência que existe em muitos de nós.

Mais do que um truque de baixa e miserável política, o racismo é uma vitória do animal sobre o racional.
GAVB

terça-feira, 10 de novembro de 2015

CONSTRUINDO MUROS EM VEZ DE PONTES


Elia Barceló, académica espanhola que vive na Áustria, escreveu no seu conto para crianças “Do Muro Para as Estrelas” algo que devia ser bem compreendido pelos adultos:
“O muro é o símbolo do medo. Os antigos precisavam de muros para se protegerem dos que eram diferentes. (...) Os muros serviam para encerrar as pessoas fisicamente, para lhes tirar a liberdade. (...) Quando olhamos para alguém e desviamos o olhar, construímos um muro. Se olhas o outro nos olhos e sorris, constróis uma ponte. "
Ontem a europa devia ter assinalado os vinte e seis anos da queda do muro de Berlim, mas não o fez com a pompa e a circunstância habituais. A hipocrisia é imensa, mas ainda tem algum receio da consciência coletiva dos povos.


Duzentos anos depois da revolução francesa e 44 depois do fim da segunda guerra mundial, a europa tinha feito as pazes com os seus traumas do século XX, destruindo fisicamente um muro sem sentido, que separava um povo que ansiava estar novamente junto, mas cuja História teimava em não perdoar. Vinte e seis anos proliferam os muros da vergonha, feitos de arame farpado, xenofobia, preconceitos e arrogância, no coração da europa. Não são apenas os 175 km. do muro húngaro, orgulhosamente assumido pelo louco primeiro-ministro Orbán, na fronteira com a sérvia para impedir que os imigrantes sírios cheguem à europa. São também os trinta e dois mil metros de arame farpado que os búlgaros ergueram em tempo recorde para evitar o nefasto assalto dos desvalidos do Médio Oriente.


Já não bastava os muros que separavam as duas Coreias no paralelo 38, a barreira aos imigrantes ilegais no norte de África que Espanha impôs perto de Ceuta, o muro da vergonha da Cisjordânia ou as barreiras que os americanos criaram para quem tentava chegar à América de todos os sonhos, vindo do México. Atá a falida Grécia investiu um pouco da sua enorme dívida na construção de um muro, em 2012, junto ao rio Evros, na fronteira com a Turquia para estancar o fluxo de refugiados sírios. Já raparam que os alvos destes muros são quase sempre gente doutra cor, doutra religião e que é pobre.

Como podemos explicar-nos a uma criança sem nos definirmos como pequenos monstros travestidos de humanos? Somos assim tão inseguros da nossa personalidade que temos medo da diferença? Talvez seja verdade que não conseguimos acomodar todos condignamente cá em casa em pouco tempo, mas a resposta não pode ser o arame farpado, a xenofobia ou até indiferença perante o sofrimento de um povo que se viu obrigado a fugir para não morrer.
Se é este o exemplo que damos aos nossos jovens, daqui a trinta anos, os nossos asilos terão muros tão altos que parecerão cadeias de alta segurança. 
Há muitos muros por derrubar nas tortuosas almas humanas. Talvez com os seus inúteis pedras se possam construir belas pontes. Talvez…

Gabriel Vilas Boas