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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

ENFERMEIROS: EMANCIPAÇÃO E REVOLTA


Nunca como esta semana Portugal assistiu a uma greve tão acirrada dos enfermeiros portugueses. Os enfermeiros sentem-se (e com razão) desconsiderados, injustiçados, por vezes humilhados, maltratados, muito mal pagos.

Os enfermeiros têm razão? Sim, em quase tudo o que reivindicam. Há anos que são enganados, com falinhas mansas, pelos sucessivos governos, que lhes prometem um estatuto e uma carreira remuneratória condizente com as suas qualificações académicas e profissionais e nunca cumpriram. Por isso, não os devemos chantagear com as operações que ficam por fazer ou atirar-lhes à cara o oportunismo político do momento da greve. 


Os políticos apenas entendem a linguagem eleitoral e por isso é justo que colham as tempestades que semearam; quanto aos médicos não têm moral para falar dos aborrecimentos causados aos doentes pela greve dos enfermeiros, quando eles já causaram tanto ou mais dano à saúde dos portugueses com as suas greves gerais e chantagens. Fica-lhes muito mal colocarem-se subtil e oportunisticamente ao lado da tutela nesta greve dos enfermeiros, ao lamentarem as operações que ficam por fazer, porque não atendem às justas razões dos colegas de trabalho e mostram o que verdadeiramente pensam do trabalho e importância dos enfermeiros. Abriram-se feridas desnecessárias e algumas vão demorar a cicatrizar.

O pior do ministro da saúde foi o modo deselegante como lidou com os enfermeiros. Podia dizer-lhes que não podia aumentá-los sem o visto do ministro das finanças, que não tinha dinheiro para tal, que só seriam aumentados quando a função pública o fosse na globalidade, mas preferiu humilhá-los, ao começar por não os receber e depois, quando a greve avançou e tomou as proporções que hoje se conhecem, ao considerar a greve ilegal, por não ter respeitado os prazos e as formalidades exigidas. Um ministro trata de política não de formalismo legais! O que queremos saber do ministro é como ele resolve o problema social e profissional dos enfermeiros. E nisso ele mostrou-se inábil, arrogante e desastrado.
A melhor resposta que o ministro e os médicos tiveram às suas atitudes perante esta greve dos enfermeiros foi o silêncio compreensivo da generalidade dos utentes do serviço nacional de saúde. Eles sabem melhor do que ninguém que os enfermeiros portugueses sempre deram o melhor de si ao país, que muitos tiveram de emigrar contra vontade, apesar de haver trabalho em Portugal, que  estes profissionais de saúde ganham mal para o trabalho realizado.
Agora que os enfermeiros se afirmaram e emanciparam, o passo seguinte é discutir a distribuição do dinheiro que o país aloca à saúde. Não se paga de mais aos médicos e de menos aos enfermeiros?

GAVB

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