Quer quem a tem, quer quem a já não tem, acha os momentos
em família dos mais belos e gratificantes da vida.
A importância da família na
vida de cada um é incomensurável. Apesar desta unanimidade, são muitos os casos
em que a relação familiar é insatisfatória. Por que é que tal acontece? Há várias
razões, algumas mais recorrentes que outras: desgaste emocional; sobreposição
da vida profissional sobre a vida afetiva e familiar, diferentes conceções de
educação dos filhos, surgimento de outros interesses pessoais, sociais e
afetivos; sistemática imposição do interesse individual.
A família é uma ideia coletiva que amamos e acarinhamos,
mas pela qual não estamos dispostos a fazer grandes sacrifícios, que na verdade
nem deveriam ser sacrifícios. E não é a ideia de sacrifício que nos assusta
(fazemo-los tantas vezes por coisas insignificantes), mas temos a certeza que a família
pode aguentar mais aquele soco no estômago. Ela não se vai embora, ainda que
ande zangada.
O problema não é bem o telemóvel como no passado não era a
televisão ou o negócio inadiável – versão intemporal do culpado. A questão é
que vemos a família só na perspectiva do receber e raramente do dar.
Por isso, quando não temos a expectativa de receber algo de interessante,
levamos um gadget qualquer que nos distraia.
Obviamente a culpa é sempre do
outro: não nos cativa, não nos surpreende, não sai do seu mundinho egoísta e
repetitivo, não repara nas nossas necessidades.
Até são razões válidas, todavia
contam apenas metade da história. O lado B é parecido, mas tem-nos como réus.
A família é uma construção permanente e única. É muito mau
sinal que tenha apenas a marca distintiva de um dos lados, porque isso sugere
desde logo alguma abdicação ou anulação. O ideal é que constitua uma espécie de heterónimo coletivo, onde todos se sintem confortáveis, amados, realizados e com vontade de
estar e participar.
Não me parece que isto seja uma utopia, um conjunto de
belas palavras, pois há famílias que o conseguem pôr em prática.
No entanto, antes de tudo é preciso querer estar com
aqueles com quem partilhamos a mesa do jantar, além do convencional. E querer é mais determinante que qualquer convenção ou conveniência.
GAVB
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