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sábado, 25 de março de 2017

É BOM ESTAR EM FAMÍLIA, MAS À MINHA MANEIRA


Quer quem a tem, quer quem a já não tem, acha os momentos em família dos mais belos e gratificantes da vida. 
A importância da família na vida de cada um é incomensurável. Apesar desta unanimidade, são muitos os casos em que a relação familiar é insatisfatória. Por que é que tal acontece? Há várias razões, algumas mais recorrentes que outras: desgaste emocional; sobreposição da vida profissional sobre a vida afetiva e familiar, diferentes conceções de educação dos filhos, surgimento de outros interesses pessoais, sociais e afetivos; sistemática imposição do interesse individual.

A família é uma ideia coletiva que amamos e acarinhamos, mas pela qual não estamos dispostos a fazer grandes sacrifícios, que na verdade nem deveriam ser sacrifícios. E não é a ideia de sacrifício que nos assusta (fazemo-los tantas vezes por coisas insignificantes), mas temos a certeza que a família pode aguentar mais aquele soco no estômago. Ela não se vai embora, ainda que ande zangada.

O problema não é bem o telemóvel como no passado não era a televisão ou o negócio inadiável – versão intemporal do culpado. A questão é que vemos a família só na perspectiva do receber e raramente do dar. Por isso, quando não temos a expectativa de receber algo de interessante, levamos um gadget qualquer que nos distraia. 
Obviamente a culpa é sempre do outro: não nos cativa, não nos surpreende, não sai do seu mundinho egoísta e repetitivo, não repara nas nossas necessidades. 
Até são razões válidas, todavia contam apenas metade da história. O lado B é parecido, mas tem-nos como réus.

A família é uma construção permanente e única. É muito mau sinal que tenha apenas a marca distintiva de um dos lados, porque isso sugere desde logo alguma abdicação ou anulação. O ideal é que constitua uma espécie de heterónimo coletivo, onde todos se sintem confortáveis, amados, realizados e com vontade de estar e participar. 
Não me parece que isto seja uma utopia, um conjunto de belas palavras, pois há famílias que o conseguem pôr em prática.

No entanto, antes de tudo é preciso querer estar com aqueles com quem partilhamos a mesa do jantar, além do convencional. E querer é mais determinante que qualquer convenção ou conveniência.
GAVB

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