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segunda-feira, 13 de março de 2017

A TUA DIVERSÃO INCOMODA O MEU SONO


«Gostava muito de morar aqui, mas eu tenho o sono leve e aqui nem sequer adormecia» - morador do Bairro Alto.


Hoje entra em vigor a nova lei do ruído que impede música na rua depois das 23 horas, mas em Portugal a lei quase nunca resolve os problemas. Quanto muito serve para amedrontar, para cobrar umas coimas ou para ser descaradamente desrespeitada.
O equilíbrio entre o justo direito ao sossego e ao sono dos moradores dos bairros mais típicos e turísticos de Lisboa e o direito à diversão noturna dos noctívagos está cada vez mais difícil de alcançar, especialmente em Lisboa, onde o turismo impõe a sua ditadura.

Alfama e o Bairro Alto são bairros típicos de Lisboa, que os turistas adoram visitar. Muito do seu charme também reside no tipo de pessoas que lá vivem, mas estes estão cada vez mais encurralados pelo turismo que impõe as suas festas, a sua música, as suas sonoras gargalhadas pela noite dentro e porta fora.
O Bairro Alto e Alfama já não são apenas as casas de fado, já não se exprime só dentro de quatro paredes. Por muito que a lei impeça o barulho ele vai continuar a existir, porque o negócio é um vendaval que leva tudo à frente. Para já, começou por obrigar os donos dos bares a insonorizar espaços, a investir em portas de acrílico, a criar antecâmaras nos seus estabelecimentos comerciais, a comprar reguladores de som. É outro mercado a crescer à custa da lei do silêncio.

O barulho dentro dos estabelecimentos noturnos pode ser regulado, medido, multado, mas as conversas, os risos, as sonoras bebedeiras no exterior nunca o serão. Por muito que os moradores adorem os turistas que lhes alimentam o estilo de vida, por muito que os turistas achem piada à companhia daquela gente genuína e típica de uma Lisboa a desaparecer, alguém vai ter que sair… a perder. Acho que serão os moradores.
No Porto, felizmente, este problema não se põe de uma maneira tão intensa. A anterior vereação permitiu que a maioria dos bares abrisse numa zona de escritórios e lojas. Foi uma medida acertada que acordou a vida noturna do Porto e deu outro glamour à cidade. Mesmo a Ribeira conseguiu uma boa relação entre o interesse dos moradores e o interesse dos noctívagos.
Infelizmente para os lisboetas, no Bairro Alto e em Alfama já não se canta apenas o fado e por isso “silêncio, que eu quero dormir” ... nem à força de lei.
GAVB 

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