«Gostava muito de morar aqui, mas eu tenho o sono leve e
aqui nem sequer adormecia» - morador do Bairro Alto.
Hoje entra em vigor a nova lei do ruído que impede música
na rua depois das 23 horas, mas em Portugal a lei quase nunca resolve os
problemas. Quanto muito serve para amedrontar, para cobrar umas coimas ou para
ser descaradamente desrespeitada.
O equilíbrio entre o justo direito ao sossego e ao sono dos
moradores dos bairros mais típicos e turísticos de Lisboa e o direito à
diversão noturna dos noctívagos está cada vez mais difícil de alcançar,
especialmente em Lisboa, onde o turismo impõe a sua ditadura.
Alfama e o Bairro Alto são bairros típicos de Lisboa, que
os turistas adoram visitar. Muito do seu charme também reside no tipo de
pessoas que lá vivem, mas estes estão cada vez mais encurralados pelo turismo
que impõe as suas festas, a sua música, as suas sonoras gargalhadas pela noite
dentro e porta fora.
O Bairro Alto e Alfama já não são apenas as casas de fado,
já não se exprime só dentro de quatro paredes. Por muito que a lei impeça o
barulho ele vai continuar a existir, porque o negócio é um vendaval que leva
tudo à frente. Para já, começou por obrigar os donos dos bares a insonorizar
espaços, a investir em portas de acrílico, a criar antecâmaras nos seus
estabelecimentos comerciais, a comprar reguladores de som. É outro mercado a
crescer à custa da lei do silêncio.
O barulho dentro dos estabelecimentos noturnos pode ser
regulado, medido, multado, mas as conversas, os risos, as sonoras bebedeiras no
exterior nunca o serão. Por muito que os moradores adorem os turistas que lhes alimentam o estilo de vida, por muito que os turistas achem piada à companhia
daquela gente genuína e típica de uma Lisboa a desaparecer, alguém vai ter que
sair… a perder. Acho que serão os moradores.
No Porto, felizmente, este problema não se põe de uma
maneira tão intensa. A anterior vereação permitiu que a maioria dos bares
abrisse numa zona de escritórios e lojas. Foi uma medida acertada que acordou a
vida noturna do Porto e deu outro glamour à cidade. Mesmo a Ribeira conseguiu
uma boa relação entre o interesse dos moradores e o interesse dos noctívagos.
Infelizmente para os lisboetas, no Bairro Alto e em Alfama
já não se canta apenas o fado e por isso “silêncio, que eu quero dormir” ... nem à
força de lei.
GAVB
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