Manchester by the Sea é um filme do cineasta estadunidense Kenneth Lonergan, que estreou em janeiro de 2016 no Festival de Cinema de Sundance, tendo sido desde então indicado para vários dos mais prestigiados prémios de Hollywood, como os Globos de Ouro e os Óscares (nomeadamente na categoria de “Melhor Filme”).
Casey Affleck, que muito recentemente foi galardoado com o Óscar de “Melhor Ator”, veste a pele de Lee Chandler, personagem em torno da qual o filme se centraliza. Desde os minutos iniciais da película, o espetador perceciona Lee como um homem que sofrera um processo de desenvolvimento psicológico extremado, que coloca a fragmentação do seu “eu” num panorama dicotómico: o personagem que se movimenta nas analepses com alegria e uns certos traços pueris situa-se nos antípodas do caráter frio, inexpressivo e agressivo da atualidade.
A sua vida frugal, enquanto porteiro em Boston, é interrompida pela morte do irmão, que o obriga a regressar a Massachusetts. Esta de viagem de regresso implicará toda uma digressão pelo seu passado, despoletando gradualmente o conhecimento do personagem através de recuos na narrativa.
Inesperadamente, o solitário Lee Chandler descobre que o irmão o escolhera para tutor do seu filho menor, Patrick Chandler (interpretado por Lucas Hedges), um adolescente que, apesar da angústia, está conformado com a morte do pai, uma vez que este fora vítima de uma doença cardíaca rara prolongada. Patrick recusa-se a ir viver com o tio para Boston e a permanência deste naquele que um dia fora o seu lar provoca o inevitável confronto com sombras do passado, em simultaneidade com o retrato um pouco cómico de cenas triviais do quotidiano, que não diluem a angústia intrínseca a toda a narrativa.
Pessoalmente, penso que este filme conquistou quer a crítica, quer o público, pela facilidade com que a generalidade dos espetadores se deixa influenciar e dominar pelo lirismo e pelas emoções exacerbadas. O drama psicológico e emocional de Lee Chandler é intenso e extravasa os limites do grande ecrã, levando o espetador a vivenciar as suas dores. Todavia, não consigo deixar de percecionar esta tragicidade inerente ao personagem de Affleck como uma presença obsessiva e exorbitante que demarca a lonjura entre um retrato realista e esta longa-metragem.
Enquanto película da Sétima Arte, todos os instrumentos se encontram ao serviço da taciturnidade desta existência: a presença constante do Inverno, com uma paleta cromática reduzida a tons frios ou escuros, em conformidade com o estado de alma do protagonista; a banda sonora de Lesley Barber, que acentua em vários momentos o dramatismo; a existência de planos bastante longos, que surtem um efeito encantatório, introduzindo o espetador na triste monotonia de um homem que vive sem esperança.
Em suma, na minha opinião, Manchester by the Sea não entrará na minha lista de filmes prediletos, devido ao papel quase exclusivo da emoção na formatação do pensamento do pathos, carecendo de substância ou conteúdo. Para mim, a experiência fílmica, enquanto espetadora, deverá desafiar-me de um ponto de vista emocional, aliado ao racional e intelectual, e não deverá cercear o sentido crítico da audiência com a abundância de dramatismo.
Carina Lopes
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