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sábado, 11 de março de 2017

OS PAIS TAMBÉM PRECISAM DO COLO DOS FILHOS



Rita, Ricardo e Ana nunca tinham visto os pais chorar como nunca os tinham visto discutir; por isso, aquelas lágrimas do pai eram incompreensíveis para os três.
Durante anos, habituaram-se a contar com os pais para quase tudo: iam buscá-los ao colégio, às aulas de dança, ao futebol e às festas dos amigos; estudavam com eles; amansavam as suas fúrias com os(a) namorados(a);compreendiam os seus medos e inseguranças; satisfaziam, na medida do possível, os seus desejos consumistas e até tinham abdicado dos seus programas favoritos de televisão.

Toda aquela preocupação centrada neles parecia-lhes natural, óbvia, justificada. Sempre acharam que “tudo” estava bem com eles, mas a verdade é que nem costumavam perguntar ou perguntavam daquele modo automático e desinteressado como se não esperassem outra coisa que não aquela resposta de gravador: “Sim, claro!”, acompanhada daquele sorriso de plástico que nunca tinham reparado que era de plástico.

As inesperadas lágrimas do pai abriram os olhos dos irmãos para uma realidade familiar que nunca tinham imaginado – os pais também tinham problemas e também não sabiam como resolvê-los. A diferença é que não havia quem os ajudasse, quem os mimasse ou simplesmente os olhasse com ternura e amor e reduzisse o problema a uma circunstância.

Rita descobria que os pais, na sua ânsia protetora, só a tinham ensinado a receber. Ricardo e as irmãs experimentavam, pela primeira vez, um obstáculo que não sabiam como ultrapassar.
Sabiam muito pouco do quotidiano do pai e da mãe: os seus gostos, os seus problemas, as suas canseiras.
Naquela noite, Rita deixou o telemóvel no quarto; Ricardo ligou a televisão da sala na telenovela que a mãe espreitava enquanto arrumava a loiça do jantar enquanto Ana, sentada no sofá entre o pai e a mãe, pediu ao pai que lhe contasse, com pormenor, como tinha sido o seu dia.

GAVB

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