Hoje a Visão publica uma
interessante reportagem sobre as difíceis condições de trabalho dos trabalhadores dos supermercados portugueses, destacando,
sobretudo, a roleta russa dos horários, o magro salário, a alteração constante
de funções, a coação psicológica, o assédio moral, os objetivos de produtividade
irrealistas e desumanos.
Infelizmente, o microcosmos
dos empregados de supermercado é só mais um exemplo da degradação das condições
de trabalho, a que muitos trabalhadores chegaram. Outras profissões
experimentam horrores semelhantes: os bancários, os enfermeiros, os empregados
das lojas dos centros comerciais.
O que mais me choca nem é o
baixo salário pago para aquilo que é exigido ao trabalhador, mas as condições
desumanas em que muitos trabalham, a pressão psicológica a que são submetidos,
os objetivos quase irrealizáveis que os coagem a aceitar.
O trabalho não perdeu somente
valor, perdeu sobretudo dignidade.
E não há sucesso empresarial que possa
frutificar sem haver respeito pelo trabalhador, na sua dimensão pessoal,
social, afetiva.
É falso pensarmos que a lógica
económica impõe a degradação das condições de trabalho. É falso pensarmos que a
culpa é do liberalismo, do capitalismo, da competitividade.
É possível
encontrarmos várias empresas, espalhadas pelo mundo, que desmentem essa teoria.
Há sociedades que sempre foram ricas, respeitando os direitos dos seus
trabalhadores como há sociedades que sempre foram pobres, pensando que
chegariam a ricas se baixassem o nível de dignidade do trabalho.
É muito importante colocar
mais uns euros no bolso dos trabalhadores portugueses todos os meses, nalguns
casos, urgente, mas acho prioritário assegurar a dignidade das condições de
trabalho.
Talvez não fosse má ideia que
parte das coimas aplicadas às empresas, por desrespeito ao código do trabalho,
revertessem a favor dos trabalhadores. Se foram eles os lesados, por que é que
é o Estado a arrecadar?
GAVB
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