Erdogan, o polémico presidente turco, queria ir à Alemanha
e à Holanda fazer campanha pelo reforço dos seus poderes na Turquia.
«Era o que
mais faltava!», terá pensado a esmagadora maioria da opinião pública europeia
perante esta estapafúrdia ideia de Erdogan.
No entanto, ela só é estapafúrdia porque o presidente turco
se tornou num declarado inimigo público da União Europeia quando desencadeou
aquele golpe de estado sobre a oposição turca, pois poucos meses antes a
Europa de Merkel e Hollande negociavam alegremente com Erdogan sobre o
contingente sírio que era preciso travar às portas da Europa.
Erdogan sempre foi aquilo que agora mostra ser: um ditador
arrogante, um déspota, um inimigo da liberdade e da democracia, que se ama
antes de amar o próprio povo.
Quem olhasse objetivamente para as suas atitudes
intuía isso claramente, mas a Europa dos burocratas precisou que a serpente lhe
mordesse o corpo para tomar o antídoto necessário.
Apesar disto, a questão levantada por Erdogan – poder falar
aos eleitores turcos que decidirão sobre o aumento dos poderes presidenciais na
Turquia – tem de ser discutida.
Faz sentido um turco que vive na Alemanha há vários anos
decidir sobre a vida dos turcos que vivem na Turquia? Em que eleições e
referendos deviam votar?
É verdade que eles são turcos, mas também é verdade é que
muitos deles vivem fora da Turquia há dezenas de anos e grande parte da sua
vida foi passada noutros países, no meio de outras culturas. Não deviam eles
votar nos referendos holandeses e alemães, já que a sua vida está lá instalada?
Não será injusto e pernicioso serem os turcos que vivem confortavelmente na
liberdade alemã ou holandesa a decretar mais poderes para Erdogan?
Claro que esta ideia do voto em referendos
(sobretudo) e em eleições ser dado aos residentes tem imensos perigos, mas não me parece
mais estapafúrdia do que o pedido de Erdogan em querer fazer campanha na Alemanha
ou deixar que sejam os turcos alemães a decidir sobre o esmagamento da
liberdade na Turquia.
GAVB
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