Não há semana que os
portugueses não sejam confrontados com uma notícia chocante relativa ao mau uso
do dinheiro público ou confiado a privados. Os bancos, as seguradoras, os
partidos, ex-ministros, ex-primeiros-ministros – parece que somos um país
patologicamente corrupto.
Esta semana, o jornal
«Público» revelou que a Cáritas da Diocese de Lisboa, instituição de
solidariedade social que recebe milhões de euros de donativos para ajudar os
pobres, tinha uma conta bancária com mais de dois milhões de euros, há vários
anos, além de uma carteira de ações e imóveis avaliados em quase milhão e meio
de euros.
Ao analisar as contas de um
ano recente (2013) verificou-se que a Cáritas de Lisboa deu um lucro quase tão
grande como a quantia aplicada na ajuda aos pobres. Essa quantia, que não
chegou aos 150 mil euros, representa muito pouco naquilo que a Cáritas guarda
em caixa.
Isto mostra
como a Cáritas segue o péssimo e obsceno exemplo do Vaticano, que apenas gasta
com os pobres umas migalhas daquilo que tem. Quem faz doações à Cáritas fá-lo
com a convicção que esse dinheiro, esses imóveis são aplicados na ajuda aos
pobres, o que de facto não acontece.
A Cáritas
atua como uma qualquer empresa corretora, fazendo aplicações de dinheiro em
busca do lucro, mas com dinheiro doado pelos pobres, o que é um crime moral
gravíssimo.
Esta atitude
da Cáritas é vergonhosa e merece a nossa total reprovação. Não faltam pobres
para ajudar e mesmo que os pedidos de ajuda não esgotassem os recursos, era
obrigação da Cáritas disponibilizá-los a outras instituições de solidariedade
social.
A Cáritas
desacreditou-se e lançou lama sobre quem apela à caridade social. A partir de
agora, muitos portugueses interrogar-se-ão sobre o destino do dinheiro que
deixam aos voluntários da Cáritas e muitos deixarão de lhe fazer doações.
A sociedade
portuguesa necessita de instituições em que possa confiar como de pão para a
boca. Desconfiar de tudo e de todos (e com boas razões para isso) atira-nos
para uma espécie infelicidade sem esperança coletiva.
GAVB
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