Esta extraordinária
frase de Millôr Fernandes sempre me inspirou, nunca me causou medo.
Quando olho para a vida
vejo uma oportunidade, não um sacrifício ou uma rotina. Claro que a vida tem
rotinas cansativas e muitas das oportunidades que se nos deparam não têm o
brilho sonhado, mas isso só acontece às vezes. Se nos quisermos inquietar um
pouco, podemos perguntar à nossa preguiça o que fizemos no intervalo dessas
vezes.
No entanto, o meu
objetivo não é inquietar o espírito, mas provocar a imaginação. Por isso volto
ao desenho. Aquele que se faz sem borracha, onde todas as imperfeições são
impressões digitais inapagáveis. E ainda bem que o são. A identidade de cada
indivíduo constrói-se de muitas coisas banais, alguns momentos extraordinários
e também de experiências traumáticas. Poder retocar a vida, submetendo-a a um photoshop
hipócrita é um suicídio de personalidade.
Viver é arriscado?
Quando nos demitimos de pensar, quando deixamos de amar, quando perdemos o
interesse em aprender, provavelmente sim! Arriscamos torná-la um embuste
enfadonho. De contrário, é um prazer imenso.
Há medida que vamos
construindo a tela da vida, podemos admirá-la, transformá-la, receber elogios e
críticas… só não podemos apagar nada do que fizemos. Apagar algo (por mais
doloroso que seja) era destruir um pouco de nós. Não gosto disso.
A vida é para se
assumir por inteiro. Uma vida sem erros nem falhas é algo que que soa a fraude.
Talvez por isso admire tantos os artistas. Não porque têm a «mania» que são
diferentes, mas porque têm a ousadia de serem eles, de se exprimirem com
originalidade, sem receio do ridículo, porque não usam o tempo para atacar ou
amesquinhar os outros, mas para criar. Fazem-no sem medo da crítica, sem medo
do erro.
Viver não é arriscado!
Deixar de viver é que é um desperdício. De oportunidade, de tempo, de
inteligência, de talento, de sabedoria. Passar pela vida, deixando a nossa
página em branco é imperdoável. E, mais importante que os outros gostem ou não
do desenho, é nunca largar o lápis, preenchendo cada espaço que o Tempo permite
com o traço inconfundível da nossa mão. Afinal, só interessa viver quando somos
o único dono do nosso destino, o capitão-mor da nossa alma.
Gabriel Vilas Boas
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