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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

VIVER É DESENHAR SEM BORRACHA


Esta extraordinária frase de Millôr Fernandes sempre me inspirou, nunca me causou medo.
Quando olho para a vida vejo uma oportunidade, não um sacrifício ou uma rotina. Claro que a vida tem rotinas cansativas e muitas das oportunidades que se nos deparam não têm o brilho sonhado, mas isso só acontece às vezes. Se nos quisermos inquietar um pouco, podemos perguntar à nossa preguiça o que fizemos no intervalo dessas vezes.
No entanto, o meu objetivo não é inquietar o espírito, mas provocar a imaginação. Por isso volto ao desenho. Aquele que se faz sem borracha, onde todas as imperfeições são impressões digitais inapagáveis. E ainda bem que o são. A identidade de cada indivíduo constrói-se de muitas coisas banais, alguns momentos extraordinários e também de experiências traumáticas. Poder retocar a vida, submetendo-a a um photoshop hipócrita é um suicídio de personalidade.

Viver é arriscado? Quando nos demitimos de pensar, quando deixamos de amar, quando perdemos o interesse em aprender, provavelmente sim! Arriscamos torná-la um embuste enfadonho. De contrário, é um prazer imenso.
Há medida que vamos construindo a tela da vida, podemos admirá-la, transformá-la, receber elogios e críticas… só não podemos apagar nada do que fizemos. Apagar algo (por mais doloroso que seja) era destruir um pouco de nós. Não gosto disso.
A vida é para se assumir por inteiro. Uma vida sem erros nem falhas é algo que que soa a fraude. Talvez por isso admire tantos os artistas. Não porque têm a «mania» que são diferentes, mas porque têm a ousadia de serem eles, de se exprimirem com originalidade, sem receio do ridículo, porque não usam o tempo para atacar ou amesquinhar os outros, mas para criar. Fazem-no sem medo da crítica, sem medo do erro.
Viver não é arriscado! Deixar de viver é que é um desperdício. De oportunidade, de tempo, de inteligência, de talento, de sabedoria. Passar pela vida, deixando a nossa página em branco é imperdoável. E, mais importante que os outros gostem ou não do desenho, é nunca largar o lápis, preenchendo cada espaço que o Tempo permite com o traço inconfundível da nossa mão. Afinal, só interessa viver quando somos o único dono do nosso destino, o capitão-mor da nossa alma.

Gabriel Vilas Boas

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