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sábado, 19 de dezembro de 2015

MARCELLO MASTROIANNI


Há 19 anos, o cinema ficava mais pobre, a Itália chorava a perda de um dos seus mais emblemáticos atores: morria Marcello Mastroianni.
Marcello foi um enormíssimo ator, com um talento fabuloso para a representação, tendo dedicado toda a sua vida ao teatro e, sobretudo, ao cinema. Filmou até morrer, na sua casa em Paris, acompanhado da sua companheira de então, Anna Maria Tatò, pela sua antiga paixão, Catherine Deneuve, e a filha de ambos, Chiara.

Foram amargos e dolorosos esses últimos meses de vida, por causa de um cancro mortífero, mas não o afastaram do cinema. Aos setenta e dois anos, Mastroianni trabalhava em Portugal com o mestre Manoel de Oliveira, no filme “Viagem ao Princípio do Mundo”. Foi o seu último trabalho. Foi um adeus português a um grande senhor do cinema europeu.
O tímido galã de Turim chegava a Roma para conquistar público, realizadores e colegas de profissão, rendidos à sua arte de representar, à sua simplicidade pessoal, ao encanto do seu ar tão desleixado quanto sedutor.
Aos vinte e pouco anos, o cinema italiano começava a familiarizar-se com o seu nome, mas era no teatro que a sua estrela mais brilhava, em peças de Shakespeare (“As You Like It”) e Tennessee Williams (“Um Elétrico Chamado Desejo”). Luchino Visconti tinha “fisgado” o seu natural talento para a representação e o cinema capturou-o na década de cinquenta, onde participou em muitos filmes. Alguns deles revelaram-se enormes sucessos, como “Os Amantes de Florença”, “Eternos Desconhecidos” ou “Um Rosto na Noite”.

A consagração veio da década seguinte, quando o seu caminho se cruzou com o grande Fellini e a belíssima Sophia Loren. Os melhores desempenhos da sua recheada carreira cinematográfica situam-se nesses fabulosos anos 60: “Dolce Vita”, “Oito e meio”, “Divórcio à Italiana”. Sophia e Marcello eram o par romântico da moda, em Itália e um pouco por toda a Europa. Vittorio De Sica juntou-os em “Ontem, Hoje e Amanhã” e em “Matrimónio à Italiana” e os dois criaram momentos inesquecíveis, episódios memoráveis de glamour cinematográfico.
Na década de setenta, Mastroianni voou até Paris e lá conheceu um dos grandes amores da sua vida, Catherine Deneuve. Foram anos de intensa paixão e trabalho, antes de regressar à sua Itália, correspondendo ao chamamento de Fellini que o queria em “Cidade das Mulheres” e “Ginger e Fred”.
Hollywood foi totalmente insensível ao talento e ao charme deste grande senhor. Nunca recebeu o merecido óscar, ainda que tenha sido nomeado três vezes: em 1962, por “Divórcio à Italiana”; em 1977, por “Um Dia Inesquecível”; em 1987, por “Olhos Negros”. Mas se Hollywood o esqueceu, Cannes idolatrou-o, ao atribuir-lhe, por duas vezes, o Prémio de Interpretação Masculina (1970 e 1977), o que só aconteceu com outro ator, na história do renomado festival de cinema francês.
A imensa filmologia (cerca de centena e meia de filmes) tem a particularidade de terminar com duas produções portuguesas: o já citado “Viagem ao Princípio do Mundo”, e “Afirma Pereira”, de Roberto Faenza, a partir da obra homónima de António Tabucchi, rodado no majestoso cenário da baixa lisboeta.
Gabriel Vilas Boas

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