Hoje é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.
Nos últimos anos, os professores de Educação Especial da escola onde trabalho
têm feito deste dia uma lição de vida para mim e para muitos alunos da
E.B.2/3 de Amarante, ao convidarem, para uma pequena palestra, uma pessoa a quem as circunstâncias da vida
fizeram diferente das demais. Para mim, é sempre um dia
emocionalmente difícil, em que sinto quão pequenos são os meus aborrecimentos,
os meus problemas, até as minhas vitórias.
Hoje ouvi o André Pinheiro, um grande
homem, falar da sua raríssima doença: Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva.
Pausadamente, ele explicou o que era, quanto o faz sofrer, como não tem cura
enquanto o meu coração digeria cada palavra, com cuidado, para não me emocionar.
Com uma simplicidade desarmante, o André
perguntou à plateia: “O que é uma pessoa deficiente?” Um pouco depois, na
sequência da conversa, ele deu a resposta certa que ainda agora baila na minha
memória: “Eu não gosto da palavra deficiente, eu gosto da palavra diferente!”
E é exatamente isso que estas pessoas são:
diferentes. É verdade: têm uma incapacidade. Na fala, na locomoção, na audição,
na visão, na pele, nos órgãos internos, na… No entanto, isso não os torna
pessoas de segunda, como muitas vezes os fazemos sentir (ainda que
involuntariamente) através de um simples olhar, palavras impensadas, ações
abrutalhadas.
Estas pessoas não precisam da nossa
peninha, do nosso olhar de lado quando passam por nós na rua, das nossas
lágrimas ou da nossa indiferença. Eles precisam que os façamos sentir iguais
naquilo que são iguais e que os ajudemos naquilo que são diferentes.
Hoje o André tornou bem claro de que é
feito o dia-a-dia de uma pessoa diferente, como ele: sofrimento, luta,
discriminação, vitórias.
É claro que a discriminação não é uma deficiência
dele e sobre ela pode atuar pouco, mas sobre o resto explicou como fazer. A dor
é incontornável e para sempre. Atinge-o física e psicologicamente, assim como a
família, mas não é invencível.
“É necessário ter objetivos realistas!” –
dizia com a calma de um sábio. Saber que há dias em que a doença será mais
forte que ele, mas noutros ele vencerá. Ele vencerá porque nunca desistiu de
lutar, com toda a força que tinha, superando barreiras ditas impossíveis de
ultrapassar. É quase sempre assim com esta gente.
Ao longo da sua palestra, o André focou o
seu discurso no que tem feito para ajudar outras pessoas portadoras de uma
deficiência a superar as barreiras ainda por derrubar na sociedade em que
vivemos. Falou-nos dos projetos informáticos que desenvolve com um amigo, para
ajudar os surdos a pedir ajuda em caso de emergência ou a ir a uma farmácia
aviar uma receita. Falou-nos do valor do esforço individual e não se lamentou
uma única vez. Nem precisou de falar das suas proezas, que ficamos a saber pelos amigos e pelo pai, ali presentes, que foram muitas e de monta.
A grande proeza, o grande milagre era a
sua presença ali. O grande feito é sobreviver em condições tão adversas,
sabendo que elas serão suas companheiras para a eternidade . Mas ele não se contentou com os milagres que
executa quotidianamente quando se levanta e acrescentou obras de valor ao seu
curriculum. Sim, ele tem imensa razão: não é ser deficiente, é ser diferente. E
ser diferente é uma coisa rara e única. Uma preciosidade. As preciosidades
admiram-se, elogiam-se, não se discriminam!
Gabriel Vilas Boas
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