Este pequeno duplo retrato de corpo
inteiro regista não apenas um casal trocando votos de casamento, mas também o
interior de uma casa de um abastado mercador de Bruges no início do século XV.
Sabemos que o artista testemunhou a união
deste casal através da inscrição em latim Johannes van eyck fuit hic 1434 (Jan Van Eyck esteve aqui em 1434) na parede do
fundo.
O artista pintou objetos do dia-a-dia com
uma precisão tão espantosa que até o espelho convexo reflete a sala e os
visitantes que entram.
A pintura pode ser considerada como uma
alegoria do casamento ideal. A prosperidade abunda – as janelas com vidros, os
tecidos cor de laranja e o vestuário orlado de peles, o espelho decorado com
cenas da Paixão de Cristo, a cabeceira da cama entalhada, as tapeçarias
ricas e o tapete são tudo evidências do
êxito deste mercador. Tudo aponta para um casamento feliz – o cão fiel entre
eles, a limpeza do quarto, o rosário pendurado na parede, o gesto de aceitação
do noivo, a cabeça da noiva inclinada com modéstia e a expectativa da criança
que há-de vir, a qual deverá nascer na confortável cama do casal sob os
auspícios da imagem de Santa Margarida – santa padroeira do parto.
Além dos noivos, são de destacar mais dois
elementos: o cão e o casamento. Ao cão são atribuídas muitas qualidades, nas
artes. Criatura de fidelidade e lealdade, ele é representado em túmulos
medievais aos pés dos seus donos e em retratos que representam qualidades
semelhantes. Também podem ter o papel de guardiões. Certos pintores usam-nos
para exprimir o desejo carnal ou para significar a ganância, como na fábula do
cão que, com um bolo nos dentes, olha para a água e perde o bolo numa tentativa
de captar o seu reflexo. Um cão é atributo de São Roque e os cães pretos e
brancos nas cenas com dominicanos são, num trocadilho com o nome da ordem,
representados domini canes (cães do
senhor); podem ser vistos a caçar lobos, que representam os heréticos.
Outro elemento é o casamento, que é um dos
sete sacramentos da igreja católica. O casamento ideal é por vezes representado
pelo da Virgem e José. A fidelidade no matrimónio é muitas vezes simbolizada
por uma personificação da fé – uma das Três Virtudes Teologais – que pode ter na
mão um livro, uma vela acesa e um coração, uma cruz ou um cálice.
É um belíssimo quadro! :)
ResponderEliminarAdorei ❤️
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