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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O UMBIGO DO MUNDO – Ruínas de Delfos


“Ele haveria de arrasar um grande império quando atravessasse o rio fronteiriço, Halys”

No século VI a.C., Creso, o rei dos Lídios, decidiu dar ouvidos a esta profecia dos oráculos de Delfos, na esperança de vencer a inimiga Pérsia. O oráculo cumpriu-se, mas não de acordo com a suposição do rei lídio, porque foi Creso a perder o seu reino para os persas!
Tais ambiguidades dos oráculos, parcialmente anunciados em versos pelos sacerdotes do templo de Apolo não eram uma raridade, até porque a interpretação das palavras dos sacerdotes ficava a cargo dos… visitantes, pois “o senhor a quem pertence o oráculo de Delfos nada diz e nada esconde, apenas dá sinais”. A necessidade de tais sinais, como orientação e garantia para as ações futuras, já era muito importante na Antiguidade e por isso o santuário de Apolo tornou-se no mais importante santuário da Grécia.

Visitantes individuais ou enviados de Corinto, Eubeia e Rodes vinham até aqui, em peregrinação, em busca de um bom conselho.
A fundação do duplo reino de Esparta ficou a dever-se ao oráculo de Delfos tal como a destruição da armada persa em Salamina, no ano de 480 a.C., devido a um violento temporal.
O consulente que, nestes tempos, subia o caminho sagrado do oráculo, passava por grupos de esculturas, oferendas consagradas e casas de tesouro, doadas por visitantes, reconhecidos, a quem também não era alheio o desejo de mostrar glória e poder. Restos destas construções - como o baixo-relevo da Casa do Tesouro de Sikyon, o friso jónico da Casa do Tesouro de Sifnos, a Casa do Tesouro dos atenienses – sobreviveram até aos nossos dias e documentam a influência de Delfos,  a qual se aplicava na colonização, nas guerras, na fundação de cidades, na elaboração de leis fundamentais.

Não é por isso de espantar que muitas guerras se tivessem travados pelo domínio de Delfos nem que os tesouros que o templo guardava fossem objeto de inúmeras tentativas de pilhagem.
A profecia em si mesmo tinha lugar no Templo de Apolo. Logo na porta de entrada podia ler-se nas paredes as sentenças dos “sete sábios”, tais como: “Nada em excesso”, “Conhece-te a ti mesmo”.

 A cerimónia profética era certamente um espetáculo impressionante. Logo de início, o desejo devia ser proferido em voz alta. A suma sacerdotiza ou pítia anunciava, então, a vontade de Zeus: sentava-se na trípode sobre uma fenda aberta na terra, da qual saiam inebriantes vapores que faziam a eleita entrar em transe.
Durante o processo a pitonisa tocava a chamada pedra umbilical, centro primitivo do mundo, tal como fora apurado por Zeus, plano de interseção entre a terra e o céu.
A interpretação e exegese das profecias eram então efetuadas pelos oficiantes do sexo masculino do santuário.
Graças a estas profecias, Delfos converteu-se no centro espiritual do mundo grego e os seus patronos dispunham de uma ascendência considerável sobre a cultura e a política em todo o mediterrâneo oriental.

Reza o mito que, na fonte sagrada de Delfos, já desde os tempos muito remotos, se realizavam cultos dedicados à mãe-terra, Gaia. Conta-se que, mais tarde, Apolo se apossou do santuário depois de ter matado a serpente Píton, guardiã do oráculo, sem contudo ter reprimido completamente o antigo culto de Gaia e do seu esposo Poseidon. Até mesmo o deus Diónisos manteve o seu lugar no santuário; daí que durante os meses de inverno, quando Apolo abandonava o seu centro de culto, fossem celebradas festas em honra de Diónisos.

Desde o princípio que, no local do oráculo, se realizavam festivais, os chamados Jogos Píticos, onde a par de competições de ginástica e de música, passou, mais tarde, a existir representações de tragédias. Nestas festas participavam cidadãos de todo o mundo grego de então, depois dos enviados do santuário de Delfos terem previamente anunciado um “trégua sagrada” em todo o país.

A importância do santuário de Delfos para a humanidade foi reconhecida em 1987, quando a Unesco declarou o Templo de Apolo, o Oráculo de Delfos, o Teatro, a Fonte de Castália, o Gymnasium e o Santuário de Atena Pronaia como Património Cultural da Humanidade.

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