Sim, o Natal é um tempo
único e especial. Um pouco por todo o lado, fomos encontrando luzes, festas,
árvores iluminadas, presépios e em cada um de nós instala-se, por dois dias, a
supremacia de sentimentos nobres. E não vejo nisto nenhuma falta de
sinceridade. Acredito na nobreza dos nossos desejos, mas não na sua força.
Nestes
dois/três dias, fazemos sobressair o melhor de nós, numa espécie de “trégua-conto
de fadas” do quotidiano.
É
óbvio que a maioria das pessoas deseja que este “melhor de nós” sobreviva além
de hoje ou amanhã, mas, a cada ano que passa, fazemos muito pouco para que tal
suceda. Percebo a desilusão do Papa Francisco que há dois dias declarou, em
Roma, que a maneira como muitos de nós vive o Natal é uma farsa. Não creio que
seja uma farsa, mas acho cada vez mais pobre o seu conteúdo.
As luzes, a árvore, o
presépio são um símbolo e não a essência. A essência é o espírito de paz, de
fraternidade, concórdia que subjaz ao nascimento de Cristo. Cristo é amor, é
paz, é harmonia.
É bom comemorar, mas
convém ter algo para brindar além dos copos e do champagne. E é nesse sentido
que importa manter viva a mensagem do Natal. Não é preciso que seja Natal todos
os dias, mas é necessário que o seu espírito preencha o coração de muitos
homens e mulheres durante vários dias do ano. Seria bom e tudo o que é bom vale
a pena ser tentado.
Talvez
morram menos inocentes em guerras estúpidas, talvez o terror mate menos, talvez
a ganância perca mais vezes o jogo da vida com a humanidade e tenhamos de lamentar
menos mortes evitáveis em hospitais, talvez se trafiquem menos armas, talvez se
governe melhor os recursos dos povos, talvez… Sim, talvez, porque nunca teremos
certezas tal como nunca alcançaremos um mundo ideal, mas, certamente, ele será
melhor se tentarmos.
A
melhor mensagem de Natal seria aquela que desejasse manter e não mudar, visto
que necessitamos mudar o que está mal e manter o que há de bom.
Durante
dois dias resgatamos a consciência e acendemos a luz de um mundo melhor. Apesar
de todas as pobrezas que nos invadem, acho que temos suficiente riqueza para
comprarmos um futuro mais digno, mais pacífico e mais harmónico.
Gabriel
Vilas Boas
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