A
Xenofobia cresce na pátria da liberdade, da tolerância e da fraternidade. Em
apenas cinco anos, a Frente Nacional de Marine Le Pen triplicou o número de
votos, atingindo, no domingo passado, a histórica margem de 6,8 milhões de
votantes, ou seja, cerca 30% dos votantes. A percentagem ainda seria maior se a
consciência dos habituais descansados sociais não tivesse impelido uns quantos
a impedir, por agora, uma vitória vergonha da extrema-direita francesa nas
eleições regionais do último domingo.
Antes
de serem perigosas, as ideias da senhora Le Pen são estúpidas e intoleráveis.
Elas sim, merecem da nossa parte firme oposição e total intolerância.
O
perigo está naquele número absurdo e assustador – quase sete milhões de
franceses – que nos devia fazer pensar e atuar. Marine Le Pen representa apenas
um voto, mas sete milhões de votantes representam 30% da França que expressa opinião
política.
O que
é preocupante são os milhões de franceses, alemães, belgas, holandeses,
húngaros que advogam ideias xenófobas, como solução para os problemas
económicas que os países europeus atravessam.
“São
de mais!”, “Não os podemos receber a todos, não temos capacidade”, “São um
perigo para o sociedade ocidental, pois entre eles há muitos terroristas”, “Tiram
os postos de trabalho aos nossos filhos”. Sem nenhum pudor, Le Pen e os seus
correligionários apelam aos sentimentos mais básicos do ser humano. O que me
custa é que esse apelo encontre eco. O que me irrita é constatar quanto
egoístas e animalescos continuamos, apesar de toda a educação que nos
despejaram em cima.
Perante
a adversidade económica que criámos, a solução é maltratar e expulsar quem veio
fazer o trabalho que não quisemos fazer; é discriminar; é fazer uma clara
divisão entre bons e maus, sendo que nós seremos sempre os bons por inerência
de cor e proveniência geográfica, social e cultural.
Como podem
haver dez milhões de europeus que defendam tamanha barbaridade? A verdade é que
há. Há dez milhões de europeus que se aproximam e nalguns casos até ultrapassam
as desprezíveis ideias nazis. São piores porque há setenta anos que nós
conhecemos onde foi parar a humanidade em consequência de tais ideias; são
piores porque os seus alvos são os estrangeiros de forma genérica, ou seja, não
há nenhuma razão estúpida que as fundamente.
A
culpa da xenofobia não é de Marine Le Pen! A culpa do crescente ódio aos
estrangeiros está em nós: nos que se calam, nos que “compreendem” as atitudes
racistas de populações em dificuldades económicas; dos que votam em Le Pen
porque acham que aquelas ideias fazem sentido. Ela apenas dá corda à nossa
ignóbil desumanidade, à nossa falta de coragem para parar a maldade. Marine é
tão xenófoba que é capaz de discriminar aqueles que não acompanhem o seu grau de
xenofobia, como aconteceu com o seu pai.
É
verdade que a História, umas vezes travestida de bom senso decretado in
extremis, encarrega-se quase sempre de ensinar ao Homem conceitos tão básicos
como o da Justiça, da Dignidade ou da Honra, mas raramente impede que uns bons
milhões de inocentes sejam sacrificados.
E nós
seremos tudo, exceto inocentes. Nós seremos cúmplices…
Gabriel
Vilas Boas
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