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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

UMA LE PEN É UM PERIGO, SETE MILHÕES SÃO UMA TRAGÉDIA


A Xenofobia cresce na pátria da liberdade, da tolerância e da fraternidade. Em apenas cinco anos, a Frente Nacional de Marine Le Pen triplicou o número de votos, atingindo, no domingo passado, a histórica margem de 6,8 milhões de votantes, ou seja, cerca 30% dos votantes. A percentagem ainda seria maior se a consciência dos habituais descansados sociais não tivesse impelido uns quantos a impedir, por agora, uma vitória vergonha da extrema-direita francesa nas eleições regionais do último domingo.
Antes de serem perigosas, as ideias da senhora Le Pen são estúpidas e intoleráveis. Elas sim, merecem da nossa parte firme oposição e total intolerância.

O perigo está naquele número absurdo e assustador – quase sete milhões de franceses – que nos devia fazer pensar e atuar. Marine Le Pen representa apenas um voto, mas sete milhões de votantes representam 30% da França que expressa opinião política.
O que é preocupante são os milhões de franceses, alemães, belgas, holandeses, húngaros que advogam ideias xenófobas, como solução para os problemas económicas que os países europeus atravessam.

“São de mais!”, “Não os podemos receber a todos, não temos capacidade”, “São um perigo para o sociedade ocidental, pois entre eles há muitos terroristas”, “Tiram os postos de trabalho aos nossos filhos”. Sem nenhum pudor, Le Pen e os seus correligionários apelam aos sentimentos mais básicos do ser humano. O que me custa é que esse apelo encontre eco. O que me irrita é constatar quanto egoístas e animalescos continuamos, apesar de toda a educação que nos despejaram em cima.
Perante a adversidade económica que criámos, a solução é maltratar e expulsar quem veio fazer o trabalho que não quisemos fazer; é discriminar; é fazer uma clara divisão entre bons e maus, sendo que nós seremos sempre os bons por inerência de cor e proveniência geográfica, social e cultural.
Como podem haver dez milhões de europeus que defendam tamanha barbaridade? A verdade é que há. Há dez milhões de europeus que se aproximam e nalguns casos até ultrapassam as desprezíveis ideias nazis. São piores porque há setenta anos que nós conhecemos onde foi parar a humanidade em consequência de tais ideias; são piores porque os seus alvos são os estrangeiros de forma genérica, ou seja, não há nenhuma razão estúpida que as fundamente.

A culpa da xenofobia não é de Marine Le Pen! A culpa do crescente ódio aos estrangeiros está em nós: nos que se calam, nos que “compreendem” as atitudes racistas de populações em dificuldades económicas; dos que votam em Le Pen porque acham que aquelas ideias fazem sentido. Ela apenas dá corda à nossa ignóbil desumanidade, à nossa falta de coragem para parar a maldade. Marine é tão xenófoba que é capaz de discriminar aqueles que não acompanhem o seu grau de xenofobia, como aconteceu com o seu pai.
É verdade que a História, umas vezes travestida de bom senso decretado in extremis, encarrega-se quase sempre de ensinar ao Homem conceitos tão básicos como o da Justiça, da Dignidade ou da Honra, mas raramente impede que uns bons milhões de inocentes sejam sacrificados.
E nós seremos tudo, exceto inocentes. Nós seremos cúmplices…

Gabriel Vilas Boas

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