«Steve Jobs» é um dos bons filmes que atualmente são exibidos nas salas de cinema portuguesas. Para isso muito contribuiu a realização de Danny Boyle e a excelente interpretação de Michael Fassbender. No entanto o que mais intriga o espetador durante as duas horas deste filme é que este não foi feito para glorificar Steve Jobs como um dos maiores cérebros tecnológicos do século XX. Saímos da sala de cinema um pouco perplexos e incrédulos: “Não fazia nada a ideia que Steve Jobs fosse assim!”
O filme de Danny Boyle nasceu e cresceu no meio da polémica, por causa do argumento de Aoron Sorkin. Ele baseia-se na biografia de Steve Jobs assinada por Walter Isaacson e expõe um Steve Jobs com uma ambição desmesurada, instável e, por vezes, inaceitável; egocêntrico; incapaz de agradecer publicamente a colaboração de todos aqueles que que o ajudaram a trilhar o caminho das estrelas. Um Steve Jobs com muita dificuldade em lidar com o reconhecimento tardio da filha e outros dramas familiares.
Claro que esta versão não podia agradar à viúva de Jobs, que tentou por todos os meios impedir que o projeto da Sony avançasse, mas em vão. Este «Steve Jobs» mostra o ponto de vista do co-fundador da Apple, Steve Wozniak, que acusou Jobs de se apoderar do seu talento. Há dois anos, no primeiro filme realizado à volta da figura de Steve Jobs, intitulado “Jobs”, Wozniak havia criticado fortemente a linha usada, referindo que a película apenas servira para endeusar Steve Jobs e esquecia quem o tinha feito uma estrela.
Neste filme de Danny Boyle vingou a tese de Wozniak e diante de nós surge um Steve Jobs visionário, mas que não sabia executar as suas ideias. Esse trabalho fora feito por muita gente anónima da Apple cujo mérito nunca foi reconhecido por Steve Jobs, como fica por de mais evidente durante este filme.
A excelência deste filme não é perturbada pelo polémico ajuste de contas de Wozzniak porque a realização ficou nas mãos de Danny Boyle, realizador experiente e galardoado. É ele que consegue condensar uma vida tão cheia e tão polémica em três momentos emblemáticos que fizeram a história de Apple e de Steve Jobs: os bastidores do lançamento do Macintosh em 1984; os bastidos do lançamento da empresa NeXT, doze anos depois; os bastidores do lançamento do IPod, em 2001.
Michael Fassbender domina o ecrã. É ele que transmite, com um sentido fortíssimo, a mente de um homem que esteve bem à frente do seu tempo.
Danny Boyle idealizou um filme sobre bastidores, os bastidores dos momentos mais decisivos da vida da Apple e de um dos seus fundadores. E é aí que tudo se passa, com exceção de um ou outro flashback. Em última análise, a dupla Aoron Sorkin (argumentista) /Danny Boyle (realizador) propõe um conto filmado através de palavras: as conversas de Jobs com a sua fiel colaboradora Joana Hoffman (Kate Winslet); de Jobs com a filha que demorou a reconhecer; de Jobs com os seus colaboradores; de Jobs com John Sculley, o CEO da Apple que o despediu. Tudo isto feito de um modo intrigante e elaborado, que permite ao espetador analisar o homem para lá do génio.
Pode ser injusto ou apenas uma visão subjetiva, mas no final, fiquei com a ideia que Steve Jobs foi “apenas” um génio, mas não um homem genial.
Gabriel Vilas Boas
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