Para esta noite
especial, escolhi um quadro de Leonardo Da Vinci, pertencente à coleção do Museu
do Louvre, que celebra a maternidade, pois, além da Virgem e do Menino, ilumina a
mãe da Virgem, ou seja, a avó do Jesus Cristo. Com ela, Da Vinci dá humanidade à
figura de Cristo, mostrando a sua família desconhecida.
A pintura, datada de
1510, que Leonardo Da Vinci realizou a partir do popular tema da Virgem e do
Menino Jesus, com a mãe da Virgem, Santa Ana, está muito afastada dos primeiros
arranjos rígidos e frontais de grupos familiares e executados pelo pintor.
O artista trabalhou em
versões deste tema nos primeiros anos do século XVI: um tratamento algo
diferente que inclui São João Baptista criança, sobrevive na forma de desenho na
National Gallery em Londres e um esboço que se perdeu causou sensação quando
foi exibido no convento de Annunziata, em Florença em 1501.
Embora Santa Ana pareça
aqui na sua habitual posição com a Virgem à sua frente, as três são vivas e
naturais. Num afastamento claro da tradição que apresenta Ana como uma matrona
envelhecida, Leonardo Da Vinci mostra-a surpreendentemente jovem e atraente. O
infeliz cordeiro a que o Menino deita a mão sugere o seu próprio papel no
futuro como Cordeiro de Deus, o irrepreensível sacrifício pelo pecado; mas, à
parte esta referência, o trio íntimo e divertido, nesta paisagem de sonho, faz
um uso ligeiro de significados simbólicos.
O elemento-chave desta
composição pictórica do século XVI é Santa Ana. O culto de Ana (século I), mãe
da Virgem, chegou inicialmente ao Ocidente com os refugiados cristãos que
escaparam às conquistas islâmicas.
Uma primeira imagem da Santa, datada de
650, aparece um Santa Maria Antiqua, em Roma, onde é mostrada com a Virgem. Por
volta do século XIV, Santa Ana era uma figura popular, em parte porque a maternidade numa
idade avançada confirmava a doutrina da imaculada conceção da Virgem.
Normalmente aparece com a filha. Diz a lenda que se casou três vezes e teve
três filhas. ´É representada no final da Idade Média, com toda a sua família,
por artistas como o mestre de Santa Verónica. Em 1479, as Carmelitas, em
Frankfurt, formaram uma irmandade de Santa Ana e encomendaram um retábulo que
lhe era dedicado, ilustrando cenas da sua vida.
Há cerca de quatro
anos, este quadro de Leonardo Da Vinci este envolvido numa polémica, pois o
Museu do Louvre decidiu restaurá-lo, mas o resultado dessa intervenção foi
muito criticado por peritos em conservação e pintura, como Ségolène Bergeon
Langle e Jean-Pierre Cuzin, que acusaram o Louvre de fazer uma limpeza
exagerada à obra que ficou com cores diferentes das originais e um brilho pouco
comum em trabalhos renascentistas. Na altura, houve técnicos que defenderam a intervenção
de restauro executado enquanto outros a criticaram.
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