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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014 - O ANO DO DESENCANTO



2014 chegou ao fim e não me deixará saudades.
Quando penso numa palavra que defina este ano, DESENCANTO é aquela que melhor resume o sentimento que experimentei em muitos momentos, perante os vários factos que fizeram a história dos dias.
Partindo da perspetiva portuguesa, 2014 foi o ano em que a troika foi embora, deixando atrás de si um rasto de empobrecimento do país que muitos sentem até aos ossos. Ao fim de três anos de sacrifícios, os portugueses perceberam aquilo que no início fora negado: o plano sempre fora baixar o rendimento médio dos portugueses em 20/30%, para estar de acordo com aquilo que os alemães acham que deve ser o nosso nível de vida. Como sempre vivemos no limite das nossas possibilidades, bastou que o Bundesbank subisse os juros 3% para que sentíssemos água nos pulmões.



Todavia, o meu maior desencanto não foi a falta de solidariedade europeia, mas sim a impotência do governo português. Não tanto por tudo ter aceitado com resignação de condenado, mas por não ter tido nenhuma ideia mobilizadora que pusesse o país a mexer, a lutar pela recuperação. Parecemos sempre um país de reformados a quem tiram 20% da sua magra reforma, mas que não protesta com medo que lhe tirem ainda mais. Como não reclama, só geme, chegará o tempo em que novas reduções chegarão.
Mais um ano em que produzimos pouco, para pagar muitos juros da nossa tamanha dívida que nunca deixará de ser grande e impagável.
Ao desencanto soma-se a resignação. Resignação dos velhos e dos novos. Uns e outros deixaram de acreditar no futuro de Portugal. Os velhos esperam que os medicamentos não falhem, que os hospitais não fechem valências, que os bombeiros tenham dinheiro para a gasolina. Os novos acreditaram que Passos Coelho não aldraba nas más notícias e foram-se embora. O país comandado pelos impotentes Passos Coelho e Paulo Portas não tinha empregos a mil euros para mais de cem mil portugueses que tiveram de despedir-se do país que os pais lhes ensinaram a amar. Não ter ideias para aproveitar os mais qualificados dos portugueses devia ser razão suficiente para um governo se ir embora. Mas este ficou… a empatar-nos a vida.



Nós e eles passámos o verão a assistir à mais cara telenovela portuguesa: o desmoronamento do BES. Finalmente, a elitezinha portuguesa vai poder brincar aos pobrezinhos com o muito que sobrou dos seus esquemas fraudulentos e corruptos que todos nós voltámos a pagar: cinco mil milhões. Dinheiro que o governo foi pedir à troika para capitalizar o Banco Bom, porque o Mau era tão mau que ninguém quis ver o fundo do poço. Claro que o povo ficou como avalista. O povo não sabe, mas isso significou mais uns largos anos sem o dinheiro que nos tiraram e continuam a tirar nos salários, nas pensões, nos impostos. Somos mesmos patos mansos…
Pelo mundo, o ébola mostrou que há doenças de rico e doenças de pobre e que só quando as doenças dos pobres atingem um rico e um branco, alguém se preocupa em tentar encontrar uma cura para ela.



Obama “flopou” na América, Putin mostrou que se a Ucrânia não ajoelha à Gazprom, ajoelha aos tanques na Crimeia, Hollande tornou-se numa desilusão nacional depois de ter desiludido Valérie Trierweiler. Durão Barroso percebeu que foi durante dez anos o fraco e insignificante mais útil que Merkel teve.
No Vaticano, o Papa luta contra todos os podres e poderes instalados numa Igreja fossilizada. Estrebucha, propõe, recebe as palmadas nas costas dos que vão à missa de vez em quando, mas as suas propostas avançam a passo de caracol.
Dá que pensar que seja um velho de 78 anos a ter urgência em reinventar a ESPERANÇA.


Gabriel Vilas Boas

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

KIPLING



A 30 de Dezembro de 1865, nascia em Bombaim, o conhecido escritor britânico Rudyard Kipling. Extraordinário contista, maravilhoso poeta, homem íntegro, por vezes polémico. Para mim será sempre o autor de “IF”, um poema magnífico que não me canso de ler, apesar de longo.
A História recordará Mr. Kipling enquanto autor do famosíssimo “Livro da Selva”, um clássico da literatura infantil que milhões de pessoas em todo o mundo leram e adoram e que o fundador do escutismo Robert Baden-Powell adotou para as atividades das crianças entre os sete e os onze anos.
O seu poder narrativo, o seu génio criativo, a capacidade de síntese tornaram-no o mestre do pequeno conto. Em 1907,com apenas 32 anos, Kipling tornou-se no primeiro autor de língua estrangeira a receber o Nobel da Literatura e simultaneamente o mais jovem.
No dia de hoje, quero apenas recordar o poeta, o homem que escreveu esse extraordinário texto de intensa luz e filosofia estóica que se chama “IF”.


SE

"Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê... Se vais faminto e nu,

Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calúnia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)...

Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...

Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo...

Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minute se espraie em séculos fecundos...

Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!"

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

AO SOM DE... OS DELFINS



Durante este Natal, passei alguns dias em Cascais e pude voltar a apreciar toda a beleza da sua baía. Lindíssima, sedutora e inspiradora. Muitos portugueses “olharam” para ela, pela primeira vez, ao ouvir os Delfins, no início da década de 90 do século passado.
Há cinco anos atrás, no mesmo local que imortalizaram, os Delfins punham fim a uma bonita carreira que durou 25 anos.

Os Delfins "começaram" nos loucos anos 80 da música portuguesa. Depois de quatro anos titubeantes, “Um Lugar ao Sol” (1988) atira o grupo para a ribalta da cena musical portuguesa, onde serenamente esteve até ao final do século.
O grupo transmitia uma alegria serena, mas contagiante. Os adolescentes e os jovens gostavam da música que o grupo fazia, pois dela emanava um prazer de viver, um desejo de rasgar horizontes, uma força de lutar por ideais e projetos.





“Um lugar ao sol”, música de que gosto muito e que serviu de motivação para a minha primeira aula como professor, é uma canção marcante para uma geração, como a minha, que acreditava ser possível concretizar todos os seus sonhos. Voltar a ouvir esta canção é como regressar à inocência primordial em que acreditávamos plenamente que seriamos felizes para sempre.
Os Delfins conquistaram o seu lugar ao sol. Naquele bem-aventurado 1988 nasceu “Aquele inverno”, em que o grupo metaforizava os traumas da guerra colonial, que os nossos pais e avós viveram.

“Há sempre um piano 
um piano selvagem 
que nos gela o coração 
e nos trás a imagem 
daquele inverno 
naquele inferno”




O grupo era “boa onda” e quase todos gostavam das suas canções. “Nasce Selvagem” e a famosa “Baía de Cascais”, no início da década de 90, confirmam o grupo de Miguel Ângelo e Fernando Cunha como um dos mais queridos dos jovens portugueses.

A letra da “Baía de Cascais” tem uma grane qualidade poética e uma carga simbolicamente muito grande para o grupo.
“Vejo o mar nos teus olhos
Ao contar-te velhos quadros
Das viagens, que o mar soube esconder

Eu pinto esta baía assim
E são mil cores ao pé de mim
Nesta baía eu descobri
Tantas imagens perto de mim

Só, no cais
Vou recordar esse teu olhar
à deriva no mar”

Ainda que mais espaçadamente o grupo foi apresentando outras canções que o público adotou: “Saber Amar”, “Ao passar o navio”, “Sou como um rio”, “Não vou ficar”. 



No entanto, a partir do início do século XX, o grupo foi perdendo fulgor e importância. Estava muito agarrado a uma geração que já era adulta, cheia de preocupações e desilusões. Os “novos jovens” seguiam outros ídolos musicais e os Delfins não se souberem reinventar nem se adaptar. Diria que se perderam num mar azul. Nos últimos anos, os êxitos eram cada vez mais raros e menos retumbantes, por isso foi com naturalidade que grupo e fãs perceberam que a longa jornada tinha chegado ao fim. 
Foram 25 anos muito bonitos, em que os Delfins criaram uma música jovem, despretensiosa, alegre e bem-feita. E com mérito conquistaram um “lugar ao sol” no coração de muito portugueses.

Gabriel Vilas Boas      

domingo, 28 de dezembro de 2014

JORGE NUNO PINTO DA COSTA


“O grande amor da minha vida foi mesmo o Futebol Clube do Porto” Pinto da Costa
Jorge Nuno Pinto da Costa completa hoje setenta e sete anos. É o mais extraordinário dirigente desportivo que Portugal teve nos últimos cinquenta anos.
Amado e idolatrado por uns, odiado por outros, Pinto da Costa não deixa ninguém indiferente, muito por causa dos êxitos ímpares a que guindou o seu Futebol Clube do Porto, mas também por causa da sua personalidade polémica, provocadora, sedutora.
A glória do F.C. Porto só não se confunde com a do seu atual presidente porque Pinto da Costa ama tanto o seu clube que a ideia não lhe agrada totalmente. Foi esse amor absoluto que fez com que este dinossauro do desporto português tornasse um simpático clube regional que ganhava muito de vez em quando num potentado internacional, respeitado e temido a nível europeu e mundial.



Com Pinto da Costa como presidente, o F.C. Porto ganhou 58 títulos nacionais e internacionais de futebol, em apenas 32 anos, ou seja, 80 % das suas vitórias em 120 anos de História. Nunca ninguém fez um clube de futebol tão grande, tão vitorioso em tão pouco tempo. E acho que muito dificilmente alguém fará.
Com Pinto da Costa, o Porto clube, o Porto Cidade e a região norte em geral ganharam um motivo de orgulho permanente, que nunca se extinguiu ao longo de três décadas. Infelizmente, Pinto da Costa nem sempre soube ser grande nas vitórias que “tinham de ser quase sempre contra alguém”. Essa é a parte de Pinto da Costa que nunca admirei e, no meu entender, foi determinante para que o clube portuense não se tenha tornado no clube da maioria dos portugueses. Grande dos portugueses não entende o desporto como uma luta de regiões, cidades, clubes, pessoas. Pinto da Costa nunca foi capaz de saltar essa barreira psicológica ou, se calhar, nunca quis, infelizmente!



O papel do presidente do F. C. Porto, fruto da importância das conquistas do clube, foi muito para além do futebol e do desporto. O Porto atingiu e até ultrapassou Benfica e Sporting nas conquistas desportivas em diversas modalidades, tornou-se no clube português como mais êxitos internacionais, destacou-se no mundo dos negócios futebolísticos. O líder azul e branco tornou-se numa figura da sociedade portuguesa e a sua opinião era ouvida e seguida com um fervor nunca visto. Nos últimos anos, a idade tem tornado Pinto da Costa mais suave e a sua intervenção pública tem diminuído.
Infelizmente, a história de Pinto da Costa não é apenas um jardim de belas rosas. O seu percurso teve também alguns espinhos dolorosos, em que a acusação de envolvimento em corrupção desportiva, no conhecido processo “Apito Dourado”, foi o expoente máximo.


Há ainda o colorido dos seus constantes e surpreendentes romances que o fazem muito falado e comentado por uma parte da sociedade que liga pouco ao futebol, mas isso na verdade apenas torna mais sedutora, única e fascinante a personalidade de Jorge Nuno Pinto da Costa que um dia, muito jovem, se apaixonou por um clube de futebol. Essa paixão foi tão louca, tão intensa, tão profunda que todos estamos certos que durará até o velho dragão morrer.

Gabriel Vilas Boas

sábado, 27 de dezembro de 2014

O PIANO



Num dia especialíssimo para dois elementos deste blogue, decidi que o destaque cinematográfico desta semana também teria de o ser e, por isso, escolhi o filme O PIANO, como tema central deste post.

O PIANO é daqueles filmes que ficará agarrado à nossa memória afetiva como uma lapa carinhosa que promete amor eterno. Holly Hunter e a sua fabulosa atuação neste filme, a banda sonora de Michael Nyman, o deslumbrante desempenho de Anna Paquin são os grandes responsáveis dessa memória que não se apaga.

O argumento é também ele digno dos maiores encómios, como muito bem notou a Academia de Hollywood ao atribuir-lhe Óscar de melhor argumento original. 



O Piano retrata a sofrida trajetória de Ada McGrath (Holly Hunter), uma mulher que não fala desde os seis anos de idade e se muda para a Nova Zelândia recém-colonizada. Em companhia da filha, ela conhece seu futuro marido, com o qual não simpatiza. Para piorar a situação, o noivo, Alisdair Stewart, recusa-se a transportar o piano de Ada, que é sua maior paixão. Porém, o administrador George Baines, imediatamente interessado na mulher, adquire o instrumento e promete devolvê-lo caso ela lhe ensinasse a tocá-lo. Com o tempo, as tais aulas de piano vão se tornando encontros sexuais e os dois acabam descobrindo o verdadeiro amor.




Em boa hora, a realizadora neozelandeza Jane Campion foi deixando cair as suas primeiras opções para interpretar o papel principal do filme, pois Holly Hunter esteve divina. Hunter (nascida na curiosa data de 2 de Fevereiro de 1958) mostrou toda a sua expressão dramática ao desempenhar o papel de Ada McGrath, uma surda-muda que exprime as suas emoções com a intensidade da música. Hunter viveu tão intensamente a sua personagem que dispensou duplos para fazer as mais tórridas cenas de sexo, bem como é ela própria que toca a maioria das peças de piano que o filme tem. E fez as duas coisas de maneira soberba. 

Quase tudo neste filme toca o sublime, o belo, o poético. Vale sempre a pena colocar o DVD no leitor e rever duas horas de extraordinário cinema, que Hollywood, Cannes, Veneza e Berlim não deixaram de premiar com a devida vénia. 

Gabriel Vilas Boas

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

HOTEL PALACE DO BUÇACO



Localizado no Luso, perto da Mealhada, o PALACE HOTEL DO BUÇACO é um autêntico tesouro escondido na floresta à espera que cada um de nós parte à aventura da descoberta.
                
         O Palace Hotel do Buçaco situa-se numa mata nacional e foi construído no século XIX sob a orientação do arquiteto Luigi Manini.
          Todo o glamour que emana deste hotel é preparado pela luxuriante mata que o envolve, cheia de fontes e ermidas. Quando os nossos olhos entram em contacto com o esplêndido edifício somos surpreendidos pela espetacular escadaria que anuncia toda a grandiosidade do hotel.

         O projeto de Manini começou a tomar forma em 1887. O palacete foi construído segundo o eclético gosto da época, com evidentes inspirações no Claustro dos Jerónimos, na Torre de Belém e no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Os interiores são nitidamente neo-manuelinos e neo-renascentistas e neles destacam-se os azulejos de Jorge Colaço, com cenas de “Os Lusíadas”, de Autos de Gil Vicente e da obra de Bernardim Ribeiro “Menina e Moça”, entre outras. Uma verdadeira sinestesia cultura, onde várias artes trabalham para proporcionar aos olhos dos visitantes um prazer sem fim.


 


              

  Se olharmos o edifício do ar, percebemos que ele apresenta uma planta composta com volume rectangular e cobertura em telhado de duas, três e quatro águas.
   O corpo do principal do palácio ergue-se em três pisos, recuando em altura. A sul fica a fachada principal longitudinal, corrida, constituída por piso térreo em corpo avançado. Este primeiro piso é formado por uma vistosa galeria/arcaria de segmentos arquivoltados e entrelaçados, suportados por colunas decoradas erguidas sobre balaustrada ritmada por pedestais.
     O piso intermédio apresenta vãos de arco perfeito, com colunas no intradorso e remate superior de cariz militar decorado com escudetes.



   
 O terceiro e último piso é recuado, formado por um terraço esplendoroso, onde deslumbram dois janelões circulares geminados e remate superior em ameias com guaritas circulares nos cunhais.
A oeste do palácio é possível vislumbrar uma torre, com o seu monumental nicho central arquivoltado, coroada por flecha única com esfera armilar. A este, o olhar cruza-se com uma deslumbrante varanda de três faces.




 O Palace Hotel do Buçaco possui interiores luxuosos, onde domina uma decoração pétrea, articulados por escadarias monumentais, com vãos profusamente decorados, paredes lisas, rodapés de madeira, mas onde se destaca o salão nobre com as suas pinturas murais.

  É certo que o Hotel Palace do Buçaco não está acessível a todas as bolsas, mas há sempre um dia especial que merece locais de eleição como esta preciosidade arquitetónica.



quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A PINTURA E O NATAL


O Nascimento de Cristo é a temática religiosa que mais inspirou os pintores ao longo dos séculos. Grandes mestres da pintura retrataram os momentos mais marcantes do nascimento de Jesus Cristo, produzindo quadros que ajudaram a fazer a história da arte.
Rembraudt, Ribera, Strozzi, Tintoretto, El Greco, Murillo, Rubens, Giotto, Caravaggio, Ghirlandaio têm quadros magníficos e muito belos que focam a temática natalícia.

Neste dia de Natal, selecionei três dessas obras para delas “falar”: “A adoração dos Pastores”, de Tintoretto; “A Adoração dos Reis Magos” de Rubens e a “Sagrada Família” de Rafael Sanzio.




A tela de Tintoretto é uma composição grandiosa, onde o pintor veneziano ilustra  a homenagem dos mais simples ao Cristo Redentor acabado de nascer. Neste óleo, o pintor renascentista evidencia algumas características da sua obra: a ilusão de profundidade, dada especialmente ao nível do teto da humilde cabana onde Cristo nasceu; a valorização do uso da cor, através da exploração das diversas tonalidades do castanho e, sobretudo, os efeitos da luz que fazem sobressair as formas dos diversos elementos da cena.




Se Tintoretto pintou a Adoração dos Pastores a Jesus, de Rubens escolhi a tela que retrata a “Adoração dos Reis Magos”. Trata-se duma tela de grandes proporções, datada de 1624, em que o pintor flamengo, mestre da arte barroca, retrata a chegada dos Reis Magos a Belém para adorar o Deus menino.

À boa maneira barroca, a distribuição das personagens retratadas segue um sentido diagonal. Nesta tela podemos observar três sequências diagonais em três planos. Um desses sentidos vai desde os homens sobre os camelos até um outro homem sobre um cavalo. Um segundo sentido vai do homem de negro até um dos reis magos com manto vermelho; e um terceiro sentido diagonal vai desde S. José (lado direito da tela) até ao rei mago que está de joelhos diante de Jesus.

Neste óleo do século XVII, devemos ainda notar que S. José parece um pouco “deslocado” nesta cena da adoração, pois é posto à sombra por Rubens, em contraste com as outras figuras que estão mais iluminadas.
Também devemos notar, nesta composição do artista belga, a utilização duma paleta de cores com tonalidade quentes que é uma das imagens de marca de Rubens.   


  

A minha última proposta artística do dia é o quadro “Sagrada Família” de Rafael Sanzio, que atualmente se encontra no Museu do Louvre, em Paris.
Mais uma composição belíssima, em que o destaque é, obviamente, a figura do Menino e de Maria. Rafael coloca a sua atenção num menino Jesus mais crescido, que, sorridente, procura o colo de Maria, perante o olhar enlevado doutra criança imediatamente atrás de si. Este quadro apresenta um lado mais humano da sagrada família, pois junta-lhe outras figuras, com quem possivelmente confraternizaria quotidianamente. Mais uma vez, S. José aparece numa posição subalterna.

A tela de Rafael destaca-se pela diversidade de cores e pela comunicação de estados de alma que as formas das personagens nos transmitem. Há uma preocupação clara de Sanzio em revelar a alegria de Cristo, o ar pachorrento de S. José, a satisfação de Maria. No meu entender, o pintor humanizou estas figuras divinas com esta composição artística.

Nestes três quadros, que não são mais que uma escolha pessoal, está bem evidente como a arte homenageou o Natal e com este acontecimento marcou a afirmação artística dos melhores pintores que a humanidade conheceu.

Gabriel Vilas Boas

  

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A NOITE MAIS BELA DO ANO...




… é a noite de Natal!

Na voz, no olhar, nos gestos, nas palavras, nos sentimentos, somos a Alegria, a Paz , a Luz, o Amor com que desejamos encher a nossa vida e a dos outros.

António Gedeão dizia, com alguma ironia, que “hoje é dia de ser bom”, de pensar nos outros e nas misérias do mundo, desejando que tudo se componha a preceito de todos como num qualquer truque de magia.
O mais irónico e formidável é que isto não tem ironia nenhuma. O verdadeiro milagre da noite de Natal é que este sentimento de bondade, fraternidade e paz se apossa de milhões e milhões de pessoas, um pouco por todo o lado, com uma sinceridade tão assombrosa quanto efémera.  



Retenho o meu coração no lado luminoso da moeda humana. Comove-me a força incomensurável do bem, do amor. Ela é a vela na escuridão, o alento no desânimo, a força nas tempestades da vida.
Esse desejo incontrolável de desejar um bom Natal a todos aqueles com quem te cruzas, essa necessidade de presentear quem amas, aquela preocupação em estares presente é muito mais que um cliché que te ensinaram; é a magia única e irrepetível duma noite que devemos viver.





Contra todos os pessimismos, hipocrisias, solidões e mágoas, tens o poder duma noite fria de dezembro. Por muito peso que lhe ponhas em cima, a noite mais bela do ano tem um coração tão leve como uma pena e daqui por um ano procederá a mais uns milhões de milagres em simultâneo.
Quando, daqui a alguns minutos, me sentar naquela mesa cheia de luz e amor, agradecerei muito, à noite mais bela e poderosa do ano, o facto de me ter feito feliz.


Gabriel Vilas Boas

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

CIRQUE DU SOLEIL - QUIDAM



Natal é tempo de levar as crianças ao circo, esse maravilhoso espetáculo de entretenimento que nos fascina muito para além da idade em que somos crianças. Ontem, à noite, fui ver o QUIDAM – do CIRQUE du SOLEIL, no Meo Arena, e tal como qualquer criança fiquei maravilhado com aquilo que vi.

A sala está quase repleta duma plateia encantada com este espetáculo da companhia de circo mais famosa do mundo. O “Quidam” é um espetáculo de 1996, mas continua a cativar milhões de pessoas em todo o mundo. Este Natal foi a vez da nave espacial “Cirque du Soleil” aterrar em Lisboa.


 

Quidam é uma figura anónima e solitária que vagueia pela grande cidade, cheia de sonhos tal como acontece com qualquer um de nós. A partir dele, o Cirque du Soleil montou um grande espectáculo, onde todos os números clássicos do circo são revisitados, ao som dum rock atrativo e sedutor que mistura tendências musicais de várias latitudes.

Todos os números da companhia foram executados com uma espetacularidade fora do comum, mas alguns houve que me impressionaram deveras. Adorei o número do salto à corda, inspirado no ritmo da dança, que envolveu todos os elementos da companhia na criação duma coreografia inovadora onde a arte de manipular e saltar à corda atingiu a perfeição. Os acrobatas, exibindo uma capacidade de coordenação e ritmo incomuns, executaram correntes sucessivas (em solo, duos, e grupos) de saltos à corda e dança.
 
 
 



Outro número marcante foi o que uma acrobata muito talentosa apresentou com tecido encarnado suspenso no teto. Força e graciosidade combinaram-se de modo perfeito, ao som duma música belíssima, de maneira que tecido e contorcionista pareceram muitas vezes uma peça única. Ao final de alguns minutos, o medo deu lugar à admiração e depois ao êxtase perante a beleza e graciosidade do número criado.

Destacaria ainda o penúltimo número, pois envolveu quatro membros do público que colaboraram de modo magnífico com a brincadeira criada pelo “palhaço” de serviço, que resultou tão bem que parecia estar treinada.
 
 
 

Para o final, ficou reservado um número impressionante, o famoso ato Banquine.
Quinze artistas executaram sequências de acrobacias e pirâmides humanas espetaculares, surpreendendo o público com os seus movimentos perfeitamente sincronizados. Este ato absolutamente impressionante foi premiado com um Palhaço de Ouro, na edição de 1999 do Festival Internacional do Circo Monte Carlo.
 
 


A noite terminava em beleza, já muito perto da meia-noite. O rio silencioso dizia-nos: “Boa Noite! Até à próxima!”
E haverá próxima vez.

Gabriel Vilas Boas
 
 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

AO SOM DE... WHITE CHRISTMAS




Nestes dias que antecedem o Natal, ouve-se música natalícia por todo o lado, nas ruas, lojas, cafés, rádio e televisão. As árvores enfeitadas, o presépio e toda a restante decoração, remetem-nos para um Natal frio e branco que segundo parece não vamos ter. Não há neve, nem o frio exige muitos agasalhos. Será um Natal luminoso, com sol, com toda a doçaria que a tradição impõe e claro, com muita música.
             
   São tantas as canções de Natal que se tornaram verdadeiros standards desta quadra que não é fácil escolher apenas uma, mas de todas, talvez a que tenha alcançado maior êxito seja “White Christmas” de Irving Berlin. Esta canção foi composta em meados do século XX, e desde então interpretada por inúmeros cantores. O seu autor, Irving Berlin, nasceu na Rússia, mas aos 5 anos emigrou com a família para os Estados Unidos, onde viria a alcançar um grande sucesso como músico apesar de ser um autodidata ao piano e ter poucos conhecimentos musicais.



 Rodeou-se de bons colaboradores que escreviam exatamente aquilo que Irving Berlin tinha em mente. Um dos seus maiores êxitos foi sem dúvida esta canção de Natal, que todos os anos é cantada em todos os países onde se celebra o nascimento de Cristo, na língua original em inglês, mas também em traduções para as mais diversas línguas.
Um dos intérpretes que mais celebrizou a música foi o ator e cantor Bing Crosby que aqui aparece no musical de 1954 “White Christmas” com Danny Kaye.
Margarida Assis

domingo, 21 de dezembro de 2014

EXPOSIÇÃO "HISTÓRIA PARTILHADA - TESOUROS DOS PALÁCIOS REAIS DE ESPANHA"



Hoje estive na Fundação Calouste de Gulbenkian para ver uma magnífica exposição: TESOUROS DOS PALÁCIOS REAIS DE ESPANHA.
Depois da extraordinária exposição sobre os pintores do Norte e outra sobre os Sabóias, ambas no Museu Nacional de Arte Antiga, esta mostra de arte fecha, com chave de ouro, uma trilogia de grandes exposições que estiveram por Lisboa durante 2014.
Esta exposição resulta da colaboração da Fundação Gulbenkian com a Património Nacional de Espanha, que preserva, salvaguarda e divulga os bens que pertencem à Coroa Espanhola.
A exposição demostra a atenção que a monarquia espanhola dedicou à arte do seu tempo, especialmente através do mecenato, assim como à arte do passado através dum colecionismo esclarecido.


As obras expostas documentam diferentes formas de transmissão da monarquia, enquanto instrumento ideológico de poder ou apenas como reflexo dos gostos e vivências e ocupações da família real.
A exposição dos TESOUROS DOS PALÁCIOS REAIS DE ESPANHA privilegia os acontecimentos da história de Espanha que foram partilhados com Portugal ao longo de 350 anos. Através de 141 obras de arte, estabelece-se um percurso que vai desde Isabel a Católica (casou com D. Fernando II) até Isabel de Bragança, rainha de Espanha por casamento com Fernando VII, a quem de deve a fundação do Museu do Prado.


Comecei por admirar o pequeno quadro da austera Isabel, a católica, mas o que me chamou inicialmente atenção foram os manuscritos sobre pergaminho das Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, datados do século XIII.
A primeira sala estava cheia de quadros enormes, onde se cruzam belíssimos retratos dos vários reis espanhóis, como enormes obras de arte em forma de tapeçaria, e algumas peças de escultura. Além dos retratos, as pinturas também retratavam a imponência e a beleza dos palácios reais da coroa espanhola.   


Ficou-me na memória um óleo sobre tela de Michel-Ange Houasse que retrata uma vista do Palácio e Monte de El Pardo. Ainda no domínio das telas, a famosa “Salomé com cabeça de São João Batista” de Caravaggio impressiona pela realismo e pelo contrate entre luz e sombra. Também me despertou atenção obras de El Greco, Tinttoreto, Velasquez, Rubens e as armaduras do imperador Carlos V, que havia de formatar a imagem deste monarca espanhola para a posteridade.

Ver esta magnífica exposição é algo que se deve fazer devagar, se possível aproveitando uma das duas visitas guiadas que existem quatro vezes por semana. Ao fim de duas horas, os nossos olhos e o nosso espírito estarão cheios dum prazer que só a arte pode proporcionar.

Gabriel Vilas Boas